Devocional

Um laço que une a todos nós

22 de abril de 2021

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A música é uma linguagem que toca a todos. Seu poder curativo é expresso por pessoas em todos os países do mundo. Quer ouçamos música na igreja, no lar ou em casas de show, nós o fazemos para nos sentirmos melhor em relação às nossas circunstâncias.


Muito obrigado. Gostaria de começar agradecendo a várias pessoas muito especiais que tive a bênção de conhecer na Universidade Brigham Young. Em primeiro lugar, minha mais profunda gratidão ao reitor da universidade, Kevin J. Worthen, e ao vice-reitor acadêmico, C. Shane Reese, que conheci no ano passado. Também gostaria de agradecer ao meu amigo, Dr. John R. Rosenberg, que conheci em 2014, quando visitei a BYU a convite de outro bom amigo e professor de inglês, Dr. Gregory Clark. Greg tem sido um grande defensor da música jazz e do engajamento cívico ao longo de sua carreira.

Em 2020, tive a grande honra e o privilégio de participar de uma palestra da BYU. Por causa da pandemia, a palestra acabou sendo a última vez que pude me apresentar em público.

Sou músico – não um político, personalidade da TV ou especialista em medicina. Toco música para as pessoas e, desde os 12 anos de idade, tenho ensinado outras pessoas a tocar também. É quem eu sou e o que faço. Esta é a primeira vez em quase 50 anos que não sei quando poderei me apresentar em público novamente. Isso me causou uma profunda sensação de perda, mas também me deu um novo senso de propósito. Embora eu sempre tenha valorizado a importância de orientar jovens talentos e tenha treinado e apoiado muitos jovens músicos aspirantes ao longo dos anos, o ano passado nos apresentou uma série de desafios totalmente novos. Tivemos que encontrar maneiras inovadoras, usando uma variedade de tecnologias, de nos apresentarmos virtualmente para as pessoas pelo Zoom e em outros ambientes.

Tenho pensado muito ultimamente sobre onde estamos como país. A pandemia da COVID-19 trouxe à tona o melhor e o pior das pessoas nos Estados Unidos. Para muitos, se não para a maioria de nós, o ano passado foi um período de isolamento, e nós, seres humanos, não fomos feitos para viver isolados. Perdi a visão quando tinha cinco anos. Lembro-me muito pouco dessa época, mas lembro-me da profunda sensação de solidão e isolamento que senti. Com o tempo, percebi o quanto a visão física tem a ver com nossa desconexão uns dos outros.

A visão nos permite, à primeira vista, ver as diferenças entre as pessoas e julgá-las e categorizá-las de forma negativa. Muitas vezes, quando vemos uma pessoa que não se parece conosco, nos concentramos nessas diferenças: cor da pele diferente, traços faciais diferentes ou diferenças óbvias em status, riqueza ou origem social. Como resultado, nunca chegamos a conhecê-las ou valorizar suas lutas na vida. Não conseguimos sentir sua dor, compartilhar sua alegria ou nos identificar com suas famílias e amigos. Não conseguimos realmente entender as razões das decisões que elas tiveram que tomar em suas vidas. Quando deixamos de ver cada pessoa como um indivíduo único e, em vez disso, as vemos apenas como alguém que é negro, branco, asiático, deficiente ou pobre – seja o que for –, nos desconectamos delas por causa dos rótulos estereotipados que a sociedade frequentemente lhes atribui.

Infelizmente, podemos ter baixas expectativas em relação às pessoas que não consideramos parte do nosso grupo de amigos ou círculo social. Mas não precisa ser assim, porque existe um laço que une a todos nós. Precisamos dedicar tempo para realmente enxergar cada pessoa, cada ser humano individualmente – especialmente aqueles que não se parecem ou agem como nós – porque, se nos apegarmos e construirmos sobre esse pequeno fio que nos une, nossos laços se tornarão mais fortes e desenvolveremos cada vez mais um senso de comunhão e confiança uns com os outros.

Estamos passando por um momento muito difícil nos Estados Unidos agora. Talvez seja a pandemia que nos levou ao limite, ou talvez tenha algo a ver com nossa obsessão atual por celebridades e mídias sociais. Sei que as pessoas estão passando por momentos difíceis todos os dias. Lutam com decisões difíceis, como visitar ou não os pais e os avós. Precisam escolher entre ir ao trabalho para sustentar suas famílias ou se proteger do risco de contrair COVID. Nosso país está sofrendo com a intolerância racial, o sexismo, o ódio e o caos. Como podemos transformar essa amargura em esperança, otimismo e uma sociedade na qual todos tenham igual acesso a recursos, educação e oportunidades? Precisamos fazer isso, porque uma coisa eu sei com certeza: não dá para sobreviver neste mundo sozinho.

Sou músico de jazz e, como o grande Duke Ellington sempre dizia: “Problemas são oportunidades”. A arte, portanto, preocupa-se primordialmente em propor soluções para os problemas. É por isso que formas elegantes e estruturas lógicas são tão essenciais na arte, porque sem elas temos o caos. O caos é fácil de criar e é fácil de se render a ele, mas ele não ajuda um grupo de pessoas a sobreviver às adversidades.

A música é uma linguagem que toca a todos. Seu poder curativo é expresso por pessoas em todos os países do mundo. Quer ouçamos música na igreja, no lar ou em casas de show, nós o fazemos para nos sentirmos melhor em relação às nossas circunstâncias. Minha mãe me ensinou que a qualidade essencial que nós, músicos, devemos ter é a capacidade de fazer com que as pessoas sintam algo profundo dentro de si sempre que tocamos para elas. Uma coisa eu sei com certeza: pelo resto de meus dias, compartilharei meu dom musical para levar alegria, paz e inspiração a outras pessoas.

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Um laço que une a todos nós

Marcus Roberts recebeu um doutorado honorário quando este discurso de formatura foi proferido em 22 de abril de 2021.