Vocês têm fé de que o Pai Celestial os conhece tão bem que sabe sob quais circunstâncias vocês emergirão como curadores mais fortes, embora feridos, para que se tornem um instrumento valioso em Suas mãos, um instrumento capaz de fazer Sua obra e consolar Seus filhos?
Gostaria que fizéssemos uma viagem juntos. A viagem que vou pedir que façam, no entanto, não será de férias. Na verdade, provavelmente será um pouco dolorosa. Vejam bem, para que vocês sigam nessa jornada, preciso que reflitam sobre um momento em sua vida em que sobreviveram a uma provação — uma provação dolorosa e desanimadora em que experienciaram um sofrimento intenso. Preciso que voltem ao que sentiram em meio à escuridão, à solidão e à raiva, ao momento em que sentiram que não podiam mais suportar a mágoa. É neste estado de sofrimento que gostaria de me concentrar hoje.
Nossa vida mortal pode ser comparada a uma longa jornada. Às vezes, a viagem é fácil por um tempo: o caminho é suave, o calor do sol é reconfortante e a brisa é leve e refrescante. Outras vezes — o que parece ser a maioria do tempo — a jornada é difícil: o terreno é íngreme, traiçoeiro e repleto de todo tipo de obstáculos, alguns dos quais nos fazem tropeçar ou cair em nosso caminho. E, às vezes, a jornada exige que carreguemos muito mais fardos do que pensamos ser capazes de carregar. É durante estes tempos turbulentos e preocupantes da vida que a jornada nos obriga a descer a um vale perigosamente profundo – tão profundo que estamos cercados por temperaturas frias e entorpecentes, tão profundo que parece que estamos descendo para um abismo sem fim, tão profundo, na verdade, que a escuridão absoluta nos faz questionar se o sol ainda existe ou não.
É sob essas condições inóspitas que reverentemente contemplo Jesus entrando voluntariamente no Jardim do Getsêmani para sofrer pelos pecados de toda a humanidade. É difícil imaginar como Ele se sentiu naquele exato momento. Aprendemos em Mateus 26 que o Salvador orou fervorosamente, perguntando três vezes ao Pai se havia outra maneira de cumprir Seu propósito. O versículo 39 diz:
E indo um pouco mais para adiante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; porém, não seja como eu quero, mas como tu queres.
O Salvador suplicou novamente no versículo 42, dizendo:
Meu Pai, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade.
No versículo 44, o Salvador orou novamente pela terceira vez, “dizendo as mesmas palavras”.
O Élder Jeffrey R. Holland, do Quórum dos Doze Apóstolos, explicou:
É como se Ele tivesse dito: “Se houver outro plano, preferiria segui-lo. Se houver qualquer outro caminho (…) alegremente o trilharei”. (…) Mas no fim, o cálice não passou.1
“Assombro me causa”2 a resposta do Senhor, conforme registrada em Lucas 22:42: “Porém não se faça a minha vontade, senão a tua”. Isso significa que Jesus Se submeteu voluntariamente à vontade do Pai para cumprir a necessidade de uma Expiação. Jesus, talvez o maior exemplo de humildade e fé, submeteu-Se à vontade do Pai mesmo que isso significasse que Ele sofreria uma dor inimaginável e uma tristeza incompreensível no Jardim do Getsêmani.
Como podemos ter a fé e a força para seguir o exemplo do Salvador, submetendo-nos voluntariamente à vontade de nosso Pai mesmo quando estamos em meio ao desespero?
O propósito do sofrimento
Em primeiro lugar, acho que precisamos adquirir uma compreensão melhor do propósito do sofrimento. Embora ninguém escape desta vida ou jornada sem sofrimento, ainda somos condicionados como seres humanos a evitar provações e adversidades a todo custo. No entanto, a magnitude do sofrimento no mundo está por toda parte. Uma rápida olhada nas manchetes confirma o que estou falando: pobreza, vício, doença, violência, abuso, corrupção – a lista parece não ter fim. “Por quê?” vocês podem perguntar. Por que nosso Pai Celestial permite que acontecimentos tão horríveis aconteçam com Seus queridos filhos? Por que Ele permite que soframos?
Em seu livro Why Is This Happening to Me? [Por que isso está acontecendo comigo?], o reverendo Wayne Monbleau explicou que uma das razões pelas quais Deus permite a tribulação é para nos transformar em curadores feridos. Ele escreveu:
Um curador ferido é alguém que vivenciou sofrimento, mas em vez de ser egocêntrico, o curador ferido vê o sofrimento em um contexto centrado na “outra pessoa” com santa compaixão e misericórdia pelos outros.3
Em outras palavras, quando sofremos, há algo no fundo de nossa alma que muda, quebra e depois amolece. Aprendemos, em primeira mão, lições sobre dor, angústia, miséria e tormento e, depois, por sabermos como é ser ferido, temos compaixão pelos outros que estão sofrendo e podemos ajudar a curá-los. Essencialmente, nosso amoroso Pai Celestial usa os momentos de sofrimento para nos transformar em um instrumento em Suas mãos — um instrumento que, armado com uma nobreza de espírito recém-desenvolvida, é compelido a ajudar a aliviar o sofrimento de Seus filhos e filhas.
Pensem nisso. Vamos imaginar por um momento que vocês nunca vivenciaram sofrimento. Talvez vocês tenham lido sobre sofrimento; talvez até o tenham estudado. Mas até que tenham sobrevivido ao tipo de sofrimento angustiante que os abala até o seu âmago, como poderiam desenvolver compaixão por um outro ser humano? Não poderiam. Acho interessante que a palavra compaixão vem de duas palavras latinas: cum e passio. Cum significa “com” ou “junto”, e passio significa “sofrer”. Compaixão, então, literalmente significa “sofrer com”.
Um poeta austríaco escreveu certa vez: “O que deve dar luz deve primeiro suportar a queima”.4 Essas palavras evocam a imagem familiar do fogo do ourives, onde o fogo (ou as provações da vida) nos transforma em alguém melhor e mais forte do que poderíamos imaginar. Perguntem a si mesmos como o Pai Celestial usou as provações em sua vida para transformá-los em uma versão 2.0 de si mesmos. Às vezes, achamos que sabemos, por causa de nossos planos mais bem elaborados, qual será nosso destino final. Nosso Pai Celestial, no entanto, pode ter um plano muito diferente — um destino final diferente — onde, por fim, aprenderemos a nos tornar mais semelhantes a nosso Salvador Jesus Cristo.
No entanto, alcançar com sucesso o destino que o Pai Celestial reservou e tornar-se mais semelhante ao Salvador não é uma jornada livre de sofrimento. Em essência, há um preço que deve ser pago para que nos tornemos mais próximos de nosso Pai Celestial e do Senhor Jesus Cristo.
William R. Palmer, certa vez, contou a experiência de alguém que havia viajado na companhia Martin de carrinhos de mão:
Em uma classe de adultos da Escola Dominical (…) ocorreram críticas acirradas à Igreja e a seus líderes por permitirem que qualquer companhia de conversos se aventurasse a atravessar as planícies sem suprimentos além do que conseguiram colocar nos carrinhos-de-mão e somente com a proteção que essa caravana oferecia. (...)
Um senhor idoso permaneceu sentado em um canto da sala, em silêncio, o máximo que pôde, então, levantou-se e disse coisas que nenhum dos que o ouviram jamais esquecerá. (...)
Em suma, ele disse: “Peço-lhes que parem com essas críticas. Vocês estão discutindo algo sobre o qual nada sabem. (...) Foi um erro enviar a companhia de carrinhos-de-mão tão tarde naquele ano? Foi. Mas eu estava naquela companhia, minha esposa estava naquela companhia. (...) Sofremos mais do que lhes é possível imaginar e muitos morreram devido à exposição ao frio e à fome, mas alguma vez vocês ouviram qualquer sobrevivente dessa companhia fazer uma crítica sequer? (...)
Se me arrependi de ter resolvido vir com o carrinho-de-mão? Não. Nem naquela época nem em instante algum da minha vida. Foi um privilégio pagar o preço que pagamos para conhecer melhor a Deus e sou grato pelo privilégio que tive de fazer parte da Companhia Martin de Carrinhos-de-Mão”.5
Essa ideia pode parecer um pouco confusa em nossa perspectiva limitada e terrena, mas o Pai Celestial sabe exatamente como nos guiar a um destino melhor. Nosso Pai Celestial é onipotente (o que significa que Ele é Todo-Poderoso), onisciente (o que significa que Ele sabe tudo) e onipresente (o que significa que Ele está sempre presente); Ele sabe o que está fazendo.
O autor Max Lucado tem uma ótima dica que compartilha quando encontra aqueles que estão sofrendo. Ele lhes diz:
Você vai sair dessa. Não será sem dor. Não será rápido. Mas Deus vai usar essa bagunça toda para o bem. Por enquanto, não seja tolo nem ingênuo. Mas também não se desespere. Com a ajuda de Deus,você vai sair dessa.6
Confiar em Deus e não temer
Vocês têm fé de que o Pai Celestial os conhece tão bem que sabe sob quais circunstâncias vocês emergirão como curadores mais fortes, embora feridos, para que se tornem um instrumento valioso em Suas mãos, um instrumento capaz de fazer Sua obra e consolar Seus filhos? Vocês acreditam que Deus é bom? E é possível que Deus ainda seja bom mesmo quando as coisas vão mal?
A resposta é um sonoro sim! O reverendo Monbleau explicou que, quando as coisas estão indo bem e estamos desfrutando da vista magnífica no topo de uma montanha, temos mais perspectiva e entendemos que a longa e talvez perigosa subida da trilha até o topo valeu a pena. O problema é que ninguém pode ficar no topo da montanha por muito tempo; por fim, todos nós precisamos descer da montanha e entrar em um vale profundo. Todos nós já estivemos lá — ou vamos estar. Durante esses momentos dolorosos — aqueles momentos em que passamos pelas profundezas do vale — lembrem-se da promessa em Salmos 104:10, que diz: “[Ele], que faz sair as fontes nos vales, as quais correm entre os montes”. Pensem nisso: a água que sustenta a vida não é encontrada no topo da montanha; é encontrada no vale.7
Então, quando vocês estiverem caminhando, como diz em Salmos 23:4, “pelo vale da sombra da morte”, não tenham medo. Deus está com vocês. Confiem Nele. Confiem que Ele vai guiá-los através do vale. E olhem ao redor — procurem fontes de água viva quando se encontrarem no vale. Quando vocês beberem da água viva, serão sustentados através de seu tempo de provação e, eventualmente, serão levados de volta ao topo da montanha para se sentar por um tempo, onde podem mais uma vez desfrutar de uma vista magnífica.
Deus é bom
É imperativo confiar no Pai Celestial mesmo quando a vontade Dele parecer contrária à sua. Quando eu tinha 19 anos, meu marido e eu tivemos nosso primeiro filho, Michael. Ao nascer, os ductos biliares de Michael estavam danificados, o que significava que a bile não tinha como sair de seu fígado. Em vez disso, a acumulação da bile causou danos extensos ao fígado. Seu fígado danificado cresceu o dobro do tamanho normal, invadindo seu estômago e dificultando sua alimentação. Seus olhos e pele lentamente ficaram amarelos. Ele desenvolveu abscessos de infecção em todo o fígado. Com oito semanas de vida, Michael teve sua primeira cirurgia para tentar corrigir a estrutura de seus ductos biliares. Depois, com nove semanas de idade, Michael teve outra cirurgia.
Meses se passaram. Nosso filho parecia perpetuamente preso na unidade de terapia intensiva, completamente dependente do milagre da medicina moderna. Então, chegou o dia em que os especialistas nos disseram que Michael não sobreviveria por muito tempo se não recebesse um transplante de fígado. E então, nosso pedido de transplante foi para todos os hospitais nos Estados Unidos que estavam fazendo transplante de fígado pediátrico na época.
Quando Michael tinha nove meses de idade, seu futuro parecia sombrio. Recebemos a notícia de que nenhum hospital aceitaria Michael como um paciente na lista de espera para transplante porque sua veia porta, que é um importante vaso sanguíneo para o fígado, era muito pequena e era improvável que suportasse o fluxo sanguíneo necessário para um novo fígado.
Meu marido e eu orávamos constantemente, pedindo um milagre ao Pai Celestial — e tenho que dizer que Deus foi bom. Aparentemente do nada, a equipe de transplantes do Centro Médico da Universidade de Nebraska mudou de ideia e concordou em aceitar Michael como paciente, mas apenas sob uma condição: precisávamos nos mudar para Omaha, Nebraska.
Não conhecíamos ninguém em Omaha, mas novamente oramos pedindo ajuda. E mais uma vez, outro milagre aconteceu. Deus foi bom. Meus sogros conheciam alguém da ala deles que costumava ir à igreja com uma outra família. Família essa, que eles imaginavam que ainda morava em algum lugar de Omaha. E, no final das contas, esta família, George e Ginny Halls, ainda moravam sim em Omaha. Eles vieram ao nosso socorro, permitindo que eu ficasse com eles enquanto meu marido terminava seu treinamento militar.
Estávamos em Omaha há pouco mais de dois meses quando outro milagre aconteceu: Michael recebeu um transplante de fígado. Mais uma vez, Deus foi bom. A maior parte do primeiro ano e meio da vida de Michael se passou na unidade de terapia intensiva, e posso testificar que testemunhei um milagre após o outro. Foi uma época difícil, mas pude ver também que, durante este período, minha família foi abençoada em muitas ocasiões.
Então, as coisas pioraram. Eu achava que nossa família já tinha passado pelos sofrimentos no vale, mas então percebi que o vale era muito mais profundo do que eu imaginava que poderia ser. Michael contraiu uma infecção grave. Na época, ele tomava medicação imunossupressora, o que impedia que seu sistema imunológico atacasse seu novo fígado. A desvantagem foi que seu sistema imunológico não era capaz de se proteger de outras infecções. Assisti horrorizada quando, em menos de 24 horas, ele deixou de ser um menino ativo de 18 meses que corria e brincava para ficar deitado inconsciente em uma cama de hospital. Sua pressão arterial e frequência cardíaca caíram. Ele entrou em choque. Então, começou a ter convulsões. Por fim, parou de respirar.
Os médicos freneticamente o entubaram para que um respirador pudesse respirar por ele. Eles tentaram desesperadamente manter sua pressão arterial, infundindo fluidos intravenosos o mais rápido possível. O líquido acabou entrando nos pulmões de Michael, que ficaram rígidos e difíceis de inflar com oxigênio. Para solucionar esse problema, a pressão foi aumentada no respirador, o que, por sua vez, causou o colapso dos pulmões de Michael. Era um problema após o outro.
Novamente, meu marido e eu oramos pedindo um milagre. Desta vez, porém, o milagre não aconteceu como eu esperava. Michael ficou em coma por quase seis meses. Cada dia era uma montanha-russa horrível. Um dia ele estava estável; no dia seguinte, ele estava prestes a morrer.
De repente, a condição de Michael piorou ainda mais, e desta vez ele continuou a se deteriorar constantemente. A equipe de transplante solicitou uma reunião com a família. Ao entrarmos na sala de consulta, pensei: “Isso não pode ser bom”.
Lembro-me deles dizendo que não podiam fazer mais nada para salvar a vida de Michael. A única opção que restava era sustentá-lo por meio de uma máquina nova e, na época, experimental de circulação e oxigenação extracorpórea chamada ECMO. Isso significava que Michael teria que passar por mais uma cirurgia. Não havia garantia de que essa cirurgia funcionaria e que Michael sobreviveria, mas ele certamente morreria se não tomássemos nenhuma decisão.
Meu marido e eu nos olhamos, respiramos fundo e dissemos aos médicos que queríamos tentar a cirurgia. Então, meu marido perguntou se poderíamos ter um momento privado na sala com Michael antes que a equipe cirúrgica o levasse para a sala de cirurgia.
Fechamos a porta do quarto de Michael, e meu marido e eu ficamos de cada lado de seu berço, olhando um para o outro. Peguei uma das mãos de Michael, segurei-a com ternura e fechei os olhos enquanto meu marido oferecia uma bênção do sacerdócio. A benção foi a coisa mais linda que eu já tinha ouvido. Meu marido falou de forma calma e deliberada.
Esperei pacientemente pela parte em que meu marido abençoaria Michael com o poder de vencer sua doença. Eu tinha fé que Michael sobreviveria se meu marido apenas falasse essas palavras na bênção.
Mas, no final da bênção, a voz de meu marido ficou emocionada. “Michael”, disse ele, “como seus pais, nós o amamos muito. Mas também sabemos que seu Pai Celestial o ama e deseja o melhor para você. Michael, se for a vontade do Pai Celestial que você retorne a Ele neste momento, saiba que sempre o amaremos e ficaremos bem. Com o tempo, vamos nos curar. E, em algum momento, estaremos juntos novamente como família.”
Comecei a tremer e a chorar descontroladamente. Abri os olhos e olhei para meu marido. Bem, eu uso a palavra olhar, mas provavelmente parecia um pouco mais com encarar. Mal podia acreditar no que ele disse. Não! Estava tudo errado. Ele deveria ter abençoado Michael para que ele melhorasse. Meu marido havia proferido a benção errada. Eu queria pedir que ele refizesse a benção, mas achei que não seria apropriado. Porém, o Pai Celestial não podia tirar de mim meu único filho. Tínhamos sobrevivido tanto contra todas as probabilidades. Por quê? Por que o Pai Celestial nos traria até aqui apenas para chamar Michael de volta para Si? Por um momento fugaz, não pude deixar de pensar: “Se Deus deixar Michael morrer, então saberei que Deus não é, de fato, bom”.
Meu marido olhou para mim com uma expressão triste, mas determinada, e disse: “É hora de entregarmos isso ao Pai Celestial e à Sua vontade. Precisamos ter fé para deixar Michael ir, se é isso que Deus quer.”
Eu estava com raiva. Eu estava triste. Eu queria gritar. Mas também não pude negar a força do Espírito na sala. Nós dois ficamos em silêncio por alguns segundos, apenas com o som do monitor cardíaco soando na sala.
“Tá bom”, eu disse, finalmente. “Se for a vontade do Pai Celestial, vou aceitar.”
Lembro-me de caminhar com a equipe cirúrgica até o final do corredor. Michael estava deitado em seu berço, cercado por meia dúzia de pessoas que o empurravam em sua cama com todo o maquinário de suporte à vida e tubos que estavam conectados a ele. Meu marido e eu beijamos Michael, dissemos a ele que o amávamos e voltamos para a sala de espera, onde o cirurgião poderia nos encontrar para relatar o estado de Michael depois de fazer a cirurgia.
Cerca de 30 minutos depois, Michael foi levado de volta para a UTI, passando pela sala de espera onde meu marido e eu estávamos sentados. Ficamos confusos. Disseram-nos que a cirurgia levaria várias horas. Quando nos levantamos para seguir a comitiva de profissionais médicos empurrando Michael de volta para a UTI, o cirurgião nos encontrou.
“Não sei o que aconteceu”, disse ele, “mas antes de começarmos a cirurgia, o estado de Michael se estabilizou. Neste momento, não precisamos mais recorrer à cirurgia. Vamos esperar para ver se ele continua se estabilizando.”
E, de fato, ele se estabilizou. Aquele dia foi um grande ponto de virada na recuperação de Michael. A cada dia, ele continuava a melhorar. Ele nunca precisou da cirurgia e, alguns meses depois, voltou para casa pela primeira vez em quase um ano. Foi outro milagre, e Deus foi bom.
Esta história tem um final feliz. Hoje, Michael tem 30 anos, é casado e feliz e tem um filho adorável, e ele está sentado com minha família na primeira fila.
No entanto, a pergunta permanece: Se Michael tivesse morrido naquele dia na UTI, isso significaria que Deus estava de alguma forma ausente, que Deus não se importava ou que Deus não era bom? Testifico que o Pai Celestial continua a ser onipotente, omnisciente e omnipresente. Aprendi, de uma maneira muito dolorosa, uma lição profunda naquele dia: que eu precisava ter fé em Deus, o Pai, e em Seu Filho, Jesus Cristo. Eu precisava de fé para aceitar a vontade do Pai Celestial, independentemente do que isso implicasse. E eu precisava de fé para manter meu testemunho em momentos de felicidade e em momentos de tristeza, durante meu tempo no topo da montanha e enquanto estava no vale.
A Água Viva
Meus queridos irmãos e irmãs, testifico da bondade de nosso Pai Celestial. Testifico que Ele nos ama e quer o que é melhor para nós. Sei que, às vezes, o que Ele vê como nosso destino final nem sempre é o mesmo que temos em mente para nós mesmos. Haverá provações e sofrimento na vida. Testifico, no entanto, que é importante confiar em Deus, o Pai, e em Seu Filho, Jesus Cristo.
Quer vocês estejam no topo da montanha ou no fundo do vale, Eles os amam. E quando lhes for pedido que viajem para a parte mais baixa do vale, para o seu próprio Getsêmani, tenham fé. Não parem de acreditar. Continuem em frente! E sempre procurem a doce fonte de água viva para sustentá-los durante os momentos mais difíceis. Assumam seu papel de curadores feridos, sigam o exemplo do Salvador e saibam que Deus sempre “vai usar essa bagunça toda para o bem”.8
Irmãos e irmãs, tenham fé e coragem para fazer Sua vontade. Em nome de Jesus Cristo, amém.
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Notas
- Jeffrey R. Holland, “Ensinando, pregando, curando”, Liahona, janeiro de 2003.
- “Assombro Me Causa”, Hinos, 2002, nº 112, grifo do autor.
- Wayne Monbleau, Why Is This Happening to Me? How God Brings Blessing from Our Pain [Por que isso está acontecendo comigo? Como Deus Abençoa Nossa Dor] (Fort Washington, Pensilvânia: CLC Publicações, 2008), 24.
- Anton Wildgans, “Helldunkle Stunde” (1916); citado em Viktor Emil Frankl, The Doctor and the Soul: From Psychotherapy to Logotherapy [O Médico e a Alma: Da Psicoterapia à Logoterapia], traduzido para inglês Richard e Clara Winston (New York: A. A. Knopf, 1965), pp. 67–68.
- William R. Palmer, “Pioneiros do Sul de Utah: VI. Francis Webster”, Instructor 79, no. 5 (maio de 1944): 217–18; ver também David O. McKay, “Pioneer Women”, Relief Society Magazine, janeiro de 1948, p. 8.
- Max Lucado, Você vai sair dessa! (Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2013).
- Ver Monbleau, Why Is This Happening to Me? 79-85.
- Lucado, Você vai sair dessa!

Beth Luthy, professora da Escola de Enfermagem da BYU, proferiu este discurso no devocional do dia 12 de junho de 2018.