Devocional

“No mundo tereis aflição, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”

Professora associada de escrituras antigas

30 de abril de 2004

Áudio
0:00/23:12
Fazer download
Tocar
23:39
Vídeo completo
Vídeo curto inspirador
Link do discurso foi copiado

Em meio a toda a tristeza e desgraça da mortalidade, Jesus Cristo venceu o mundo. Vinde, alegremo-nos.


Pretendemos modificar a tradução se for necessário. Para dar sugestões, envie um e-mail para: speeches.por@byu.edu

Ao homem paralítico deitado indefeso em sua cama, Jesus proclamou: “Tem bom ânimo” [Mateus 9:2]. Para os apóstolos assustados que estavam lutando contra o mar tempestuoso, Jesus apareceu sobre as águas, declarando: “Tende bom ânimo” [Mateus 14:27]. Para Néfi, filho de Néfi, que estava sujeito a uma lei arbitrária que ameaçava sua vida e a vida de outros nefitas justos caso os sinais profetizados por Samuel, o lamanita, não acontecessem, o Senhor disse: “Levanta a cabeça e tem bom ânimo” [3 Néfi 1:13]. Quando Joseph Smith se reuniu com dez élderes que estavam prestes a ser enviados, em dupla, para missões repletas de problemas e perigos, o Senhor anunciou: “Tende bom ânimo” [D&C 61:36]. Em todo caso, as pessoas tinham todos os motivos para ficarem ansiosas, assustadas e sem esperança, mas o Senhor as direcionou para um um motivo para alegrar-se.

Como soa a admoestação de ânimo do Senhor quando aplicada a nós em nosso mundo atual? Quando as instabilidades econômicas, as ameaças terroristas e a corrupção são as principais notícias do noticiário noturno, onde é que as boas novas do evangelho entram em cena? Quando sofremos perdas pessoais de tantas maneiras e ao longo de vários dias, sobra algo para termos bom ânimo?

A chave para o bom ânimo

Encontramos a chave para entender essa aparente contradição no contexto da Última Ceia. Falando aos apóstolos em Seus momentos finais antes do Getsêmani, Jesus disse: “No mundo tereis aflição, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” [João 16:33]. “Como foi possível que os Doze tivessem bom ânimo?” O Élder Neal A. Maxwell perguntou:

 A agonia inimaginável do Getsêmani estava prestes a cair sobre Jesus; a traição de Judas era iminente. Em seguida, viriam a prisão e o julgamento de Jesus; a dispersão dos Doze como ovelhas perdidas; o horrível flagelo sobre o Salvador; o julgamento injusto; o clamor estridente da multidão para libertar Barrabás em vez de Jesus; e, finalmente, a terrível crucificação no Calvário. Que motivos havia para ter bom ânimo? Exatamente o que Jesus disse: Ele havia vencido o mundo! A expiação estava prestes a se tornar realidade. A ressurreição de toda a humanidade estava garantida. A morte seria eliminada. Satanás não conseguiu impedir a expiação. [But a Few Days [Mais alguns dias] (Salt Lake City: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1983,) 4.]

Quero concentrar minhas observações de hoje no papel do poder capacitador de Cristo em nossa capacidade de sentir alegria em meio à tristeza e desgraça mortal. O infortúnio e as dificuldades perdem seu senso de tragédia quando vistos através das lentes da Expiação. O processo poderia ser explicado desta forma: Quanto mais conhecemos o Salvador, mais abrangente se torna nossa visão. Quanto mais vemos Suas verdades, mais sentimos Sua alegria. Mas uma coisa é saber que essa é a resposta certa na aula da Escola Dominical e outra bem diferente é vivenciar em primeira mão uma perspectiva de ânimo quando as circunstâncias atuais estão longe do que esperávamos. Se desenvolvermos fé para aplicar a Expiação dessa maneira e não apenas falar sobre ela, a consciência dos limites finitos imaginários, inadvertidamente colocados no sacrifício infinito do Salvador, pode ser significativa. Considerem duas falsas suposições que, se seguidas, bloquearão nosso apreço e acesso à assistência divina do Senhor.

Falsa suposição 1 — Podemos evitar as tribulações

A primeira é a falsa suposição de que, se formos bons o suficiente, poderemos evitar que coisas ruins aconteçam conosco e com aqueles que amamos. Se cumprirmos todos os mandamentos, pagarmos o dízimo honestamente, fizermos orações diárias e estudarmos as escrituras, poderemos agradar a Deus, obter Sua boa vontade e, assim, garantir Sua proteção contra mágoas, acidentes ou tragédias. Quando esse pensamento nos domina, “queremos a vitória sem batalha”, observou o Élder Maxwell, “e esperamos prêmios simplesmente por assistir” (Men and Women of Christ [Homens e Mulheres de Cristo], Salt Lake City: Bookcraft, 1991, p. 2. Nota do tradutor: Esta citação foi traduzida pela BYU Speeches). Portanto, certamente haverá provações, mesmo quando estivermos tentando fazer tudo certo. O Élder Richard G. Scott nos avisou, “Exatamente quan­do tudo pare­ce estar indo bem, desa­fios dife­ren­tes frequentemente apa­re­cem ao mesmo tempo e em doses múl­ti­plas”. Ele explica que a “razão para a adver­si­da­de é o cum­pri­men­to dos desígnios de Deus em nossa vida a fim de que nos puri­fi­que­mos com a pro­va­ção.” (Confie no Senhor, Conferência geral, outubro de 1995, 16).

Se acreditarmos que Deus nos protegerá da tribulação por causa de nossa obediência e a adversidade nos atingir, podemos ser tentados a acusar Deus de não ouvir nossas orações ou, pior, de não honrar Suas promessas. A obediência a Deus não é um seguro contra a dor e a tristeza. Algumas coisas desagradáveis são inerentes à nossa condição telestial. Os desafios sempre foram incluídos no grande plano de Deus para testar nossa fé, para estimular em nós crescimento, humildade e compaixão. A aflição e a luta foram divinamente planejadas para nos levar ao ponto onde não temos nenhuma outra alternativa senão nos direcionar para Deus.

A terra foi amaldiçoada por causa de Adão, e foi prometido a Eva que sua dor (ou dificuldades) seria multiplicada  [ver Gênesis 3:16–17]. O apóstolo Paulo reconheceu: “Foi-me dado um espinho na carne, (…) para me esbofetear, para que não me enalteça.” [2 Coríntios 12:7]. O Senhor exigiu que Saria enviasse seus filhos de volta ao perigo antes que ela encontrasse sua própria convicção da vontade de Deus para sua família [ver 1 Néfi 5:1–8]. 

A missão de Cristo nunca teve a intenção de impedir que corações se partissem, mas de curar corações que foram partidos; Ele veio para enxugar nossas lágrimas, não para garantir que nunca chorássemos [ver Apocalipse 7:17]. Ele claramente prometeu: “No mundo tereis aflição” [João 16:33].

Falsa suposição 2 — Podemos confiar em nossos próprios esforços

Uma segunda falsa suposição quando enfrentamos tribulações pode ser igualmente destrutiva para nossa fé em Cristo. Podemos concluir que as dificuldades surgem porque não fizemos o bem suficiente no mundo.

Podemos acreditar que a alegria ao longo da vida é alcançada por meio de nossa própria conduta e esforços. Afinal, somos mulheres inteligentes, capazes e inovadoras. (Nota do tradutor: este discurso foi dado durante a BYU Women’s Conference [conferência das mulheres da BYU].) Ao considerarmos a tribulação e a Expiação do Senhor por esse ângulo, podemos observar a escritura que diz: “É pela graça que somos salvos, depois de tudo o que pudermos fazer” [2 Néfi 25:23], e deduzir que devemos primeiro provar nosso valor por meio de nossa obediência e retidão antes que o sacrifício do Senhor nos cubra ou que Sua graça nos capacite. Confiar em nossos próprios esforços, em vez de reconhecer humildemente a Deus, reflete-se no termo presunção.

Quando olhamos através das lentes de nossa virtude e nos contentamos com nossos bons esforços, a ideia de depender totalmente de Cristo [ver 2 Néfi 31:19; Morôni 6:4] parece um pouco arriscada. Ouçam uma série de sentimentos sequências que essa perspectiva pode produzir: E se eu depender de Deus, mas Ele não me responder quando eu precisar de Sua ajuda imediata? Com todos os problemas sérios do universo, por que Ele teria tempo ou interesse por minha crise pessoal? Por outro lado, se eu organizar minha vida cuidadosamente e pensar com inteligência, poderei resistir à tentação e não precisarei depender do Senhor para obter ajuda. Além disso, não serei um daqueles que contribuíram para o Seu sofrimento no Getsêmani. Se eu usar apenas minhas habilidades e meu cérebro, posso de fato ajudar o Senhor em vez de depender de Sua força. Afinal de contas, há muita gente em circunstâncias piores do que a minha.

Inconscientemente, quando raciocinamos dessa forma, soamos assustadoramente parecidos com a pregação humanista de Corior no Livro de Mórmon, que diz que “cada um nesta vida dependia de sua conduta; portanto, cada homem prosperava segundo sua aptidão e cada homem conquistava segundo sua força” [Alma 30:17], então, argumentando, que seus ouvintes não precisavam de Cristo e de Sua Expiação. “E assim [Corior] lhes pregava, desviando o coração de muitos, (…) sim, induzindo muitas mulheres e também homens a cometerem devassidão” [Alma 30:18].

Por sermos temerosos e preocupados pelo inesperado, nossa fé em Cristo lentamente vira “[satisfação para] nosso orgulho” com “[nossas vãs ambições]” [D&C 121:37]. Esse tipo de pensamento facilmente leva à justificação de erros porque estamos no controle; sabemos mais do que os outros, portanto, o pecado não é um problema para nós. Nossos esforços se concentram no sucesso pessoal para mostrar que não precisamos de ninguém. Se pudermos controlar nosso mundo, nossos vícios em todas as suas variedades, nossos distúrbios alimentares e obsessão pela magreza, nossa insistência para que nossa casa esteja sempre impecável, nossa fascínio por evidências externas de educação e sucesso, só então poderemos finalmente ter ânimo. O fato das mulheres serem mencionadas antes dos homens em relação aos ensinamentos de Corior é uma ordem de palavras curiosa. Não sei tudo o que isso pode implicar, mas podemos pelo menos concluir que as mulheres não estavam isentas e talvez até fossem particularmente atraídas pela filosofia de Corior de que “cada um nesta vida [depende] de sua conduta”.

Cristo declarou, “No mundo tereis aflição, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” [João 16:33; grifo do autor]. Ele não disse que vocês devem vencer o mundo ou que Ele venceu o mundo apenas para os fracos que não eram inteligentes ou fortes o suficiente para vencê-lo por conta própria. O Salvador disse: “Eu venci o mundo”.

Cristo venceu o mundo

Profetas de todas as épocas testificaram que a graça de Cristo nos basta. Nos basta significa “suficiente” ou “tanto quanto for necessário”. Os profetas também nos lembram de nossa própria nulidade e dívida para com Cristo; que somos menos do que o pó da Terra; que sem Ele somos servos inúteis [ver Mosias 2:21–25]; e que

nenhuma carne pode habitar na presença de Deus a menos que seja por meio dos méritos e misericórdia e graça do Santo Messias (…)

Ele é, portanto, as primícias para Deus, visto que intercederá por todos os filhos dos homens; e os que nele crerem serão salvos. [2 Néfi 2:8–9.]

O apóstolo Paulo aprendeu essa lição. Indiscutivelmente o missionário mais bem preparado que este mundo já viu, Paulo era brilhante em idiomas, altamente instruído na religião judaica e conhecia bem na cultura e filosofia greco-romana de sua época. Com base em sua rica educação e intelecto superior, ele tentou ensinar os intelectuais de Atenas sobre Cristo como seu “Deus desconhecido” [ver Atos 17:23], citando seus poetas e usando sua filosofia. Embora o conhecimento e a apresentação de Paulo possam ter sido impressionantes para seu público filosófico, sua abordagem erudita em Atenas produziu resultados decepcionantes.

De Atenas, Paulo viajou para Corinto, onde teve grande sucesso. Mais tarde, em uma epístola aos santos de Corinto, Paulo explicou sua abordagem missionária entre eles – possivelmente uma reformulação de sua experiência em Atenas:

E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria.

Porque não me propus saber coisa alguma entre vós, senão a Jesus Cristo, e este, crucificado.

E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor.

A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder. [1 Coríntios 2:1–4]

Confiar que o Senhor nos apoiará em nossas provações e nos dará o que dizer e fazer no momento em que precisarmos pode ser assustador quando nos acostumamos a confiar em nossas próprias habilidades familiares. Por que Paulo estava disposto a deixar de lado suas habilidades educacionais quando isso seria claramente impressionante para os pesquisadores de sua religião? Ele explicou, “Para que a vossa fé não se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus” [1 Coríntios 2:5].

O LDS Bible Dictionary [Dicionário da Bíblia SUD] descreve a graça como

um meio de ajudar ou fortalecer dado por intermédio da misericórdia e do amor de Jesus Cristo (…)

Por meio da fé na Expiação de Jesus Cristo e pelo arrependimento de seus pecados, [as pessoas] recebem força e auxílio para fazer boas obras que de outra forma não seriam capazes de realizar se tivessem que fazê-lo por seus próprios meios. [“Graça”]

A Expiação não apenas nos abençoa depois de obedecermos, mas é, na verdade, o poder que nos sustenta durante a ação. Da mesma forma, Joseph Smith aprendeu que, “de acordo com a graça do Senhor” [D&C 20:4], ele recebeu “mandamentos que o inspiraram; E (…) poder do alto” [D&C 20:7–8]. Devido à magnifica graça de Cristo, Ele nos dá mandamentos, não para limitar e restringir, mas para nos inspirar e fortalecer para entender e realizar tudo o que Ele convida.

Quando olhamos através das lentes esclarecedoras que mostram que Cristo já venceu o mundo, a escritura que diz “É pela graça que somos salvos, depois de tudo o que pudermos fazer” [2 Néfi 25:23] parece muito diferente. O que significa “tudo o que podemos fazer”? Um grupo de conversos lamanitas, os ânti-néfi-leítas, descobriu a resposta. Seu líder sabiamente ensinou: “Foi tudo o que pudemos fazer, (…) arrepender-nos de todos os nossos pecados e (…) para que Deus os [tire] de nossos corações” [Alma 24:11]. Esses humildes santos desejavam agradar a Deus muito mais do que receber a aceitação de seus familiares. Eles manifestaram seu arrependimento sincero enterrando suas armas de guerra e fazendo um convênio com Deus.

Podemos fazer da mesma maneira. Podemos admitir que pecamos e que precisamos da redenção do Senhor. Podemos confessar Seu poder e Sua bondade e nossa necessidade constante de Sua influência sustentadora e fortalecedora. Podemos enterrar nossas armas de guerra, ferramentas que estamos propensos a usar para sobreviver sem Ele e que só servem para fortalecer nosso orgulho e nossa presunção. E podemos fazer e cumprir nossos convênios com Ele.

Vi uma jovem aluna fazer essa conexão neste semestre. Depois de estudar as incríveis epístolas do apóstolo Paulo, ela comentou para a classe:

Paulo ensinou que a graça de Cristo compensará tudo o que nos falta, se tivermos fé Nele. Durante esse semestre, fui chamada para ensinar Doutrina do Evangelho em minha ala. Esse foi o chamado mais assustador para mim, porque não sou de ficar diante de uma classe, especialmente por 45 minutos. Mas, ao me preparar para minha primeira aula, lembrei-me do que Paulo disse sobre a graça de Cristo. Então, preparei tudo o que podia e depois orei intensamente para que a graça de Cristo compensasse tudo o que me faltava. O que aconteceu foi incrível. Foi incrível porque não fui eu. O espírito foi tão forte e a lição foi poderosa porque a graça de Cristo compensou a diferença entre minha preparação e o que precisava ser ensinado pelo Espírito. Sua graça é uma dádiva poderosa. Não é algo que podemos ganhar ou merecer.

Tende Bom Ânimo

O ânimo no contexto das escrituras denota um otimismo divinamente assegurado, “uma profunda confiança nos propósitos contínuos de Deus” [Neal A. Maxwell, “But a Few Days”, pp. 4], uma convicção fundamentada de que Deus sempre cumprirá Suas promessas. Quando Cristo proclama: “Tende bom ânimo”, Ele não está pedindo uma resposta ingênua, do tipo Poliana de as Aventuras de Poliana, às reviravoltas cruéis da vida. Tampouco promete uma vida sem dor e de felicidade constante. A provação não faz distinção de pessoas. A tragédia e as dificuldades não discriminam. Nosso mundo vê oposição entre ricos e pobres, homens e mulheres, justos e iníquos. E, embora a desonestidade e a vaidade crescentes em nossa sociedade sejam evidentes, o Salvador orou especificamente para que Deus não nos tirasse “do mundo” [João 17:15]. “porque neste mundo vossa alegria não é completa”, eles nos ensinou, “mas em mim vossa alegria é completa” [D&C 101:36]. De que outra forma podemos aprender que a verdadeira satisfação é encontrada somente quando nos afastamos do mundo e nos achegamos a Cristo?

Somente depois de temer a perda de seus filhos e perceber que o testemunho de Cristo de seu marido-profeta não era suficiente para sustentar o seu próprio testemunho, Saria encontrou o Senhor e declarou,

Agora sei com certeza que o Senhor ordenou a meu marido que fugisse para o deserto; sim, e tenho também certeza de que o Senhor protegeu meus filhos e livrou-os das mãos de Labão; e deu-lhes o poder de executarem o que o Senhor lhes havia ordenado. [1 Néfi 5:8.]

Ela descobriu que a graça de Cristo lhe bastava. E quando os filhos voltaram para a tenda de seu pai, Néfi relatou: “Nosso pai (…) encheu-se de alegria, e também minha mãe, também se alegrou muito,” [1 Néfi 5:1]. Porém, essa alegria e esse ânimo vieram porque seus filhos voltaram em segurança. Mas essa alegria também é evidente em seu testemunho de que o poder do Senhor permitiu que seus filhos fizessem boas obras que, de outra forma, não teriam sido capazes de fazer se fossem deixados por conta própria.

Depois de sofrer perseguição física e emocional durante anos de trabalho missionário, Paulo foi parar em uma prisão romana e depois declarou,

Porque já aprendi a contentar-me com o que tenho.

Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade.

Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece. [Filipenses 4:11–13]

O que isso significa para cada um de nós aqui hoje? Posso começar reconhecendo que já passei por tribulações das quais ninguém mais poderia me livrar, a não ser o Senhor. As circunstâncias que eu jamais escolheria com alegria me colocaram de joelhos e me fizeram voltar para Deus. E, além disso, prevejo outras provações no futuro, porque Deus me ama.

Embora o Senhor prometa claramente: “No mundo tereis aflição” [João 16:33], os desafios da vida raramente são os mesmos para vocês como são para mim. Também posso reconhecer que vocês têm desafios que eu provavelmente nunca vivenciarei, desafios e cruzes que serão tão desgastantes para sua alma quanto os meus são para mim. Posso resistir à tentação de assumir o papel do Mestre dos Médicos, anunciando-lhes em desespero: “Tende bom ânimo” ou “Entendo exatamente como vocês se sentem”, sabendo que é pela voz Dele que vocês e eu precisamos receber essa mensagem se formos curados. Ele é o único que realmente entende nossa aflição. Só Ele sentiu nossa dor pessoal.

Mas também posso vir a conhecer o Senhor e optar por dar testemunho de Seu dom celestial toda vez que tiver a oportunidade de falar ou ensinar. Posso perceber que farei mais para ajudar outra pessoa a encontrar o Senhor admitindo minha total dependência de Cristo em minhas ações e conversas informais do que exibindo uma imagem externa aparentemente perfeita, que com muita frequência comunica que não preciso mais Dele. Devemos competir contra o pecado, e não tentar determinar quem precisa menos do Salvador. Quando reconhecemos que cada um de nós enfrenta dificuldades; que o Salvador venceu o mundo; que Ele elevou, fortaleceu e deu visão a cada um de nós de maneira muito pessoal, perceberemos que nunca estamos sozinhos. Sentiremos uma paz interior, mesmo que a crise externa ainda persista. Ficaremos cheios de esperança e até mesmo de ânimo.

Conclusão

A letra de um de nossos hinos sacramentais refletem um grande motivo para erguermos a cabeça e nos alegrarmos:

Nenhuma criatura é tão humilde,

Nenhum pecador tão depravado,

Que não sinta tua presença santa,

E através do teu amor seja salvo.

Embora amigos covardes te traiam,

Eles sentem o abraço do teu amor,

Os próprios inimigos que te matam

Têm acesso à tua graça.

Teu sacrifício transcendeu

A exigência da lei mortal;

Tua misericórdia é estendida

A cada hora e lugar.

Satanás não pode mais nos ferir,

Embora longa seja a luta,

Nem o medo da morte nos assustar;

Vivemos, ó Senhor, através de ti. [“Ó Salvador, tu que vestes a coroa”, Hymns, 1985, no 187, versículos 2 e 3] Nota do tradutor: Este hino só está disponível em inglês.

Irmãos e irmãs, Jesus Cristo de fato venceu o mundo! Assim como as trevas não têm poder quando a luz resplandece, o mundo não pode vencer ou compreender a Luz do Mundo [ver João 1:5]. Ele é o Vencedor, veio à Terra “com poder de cura nas suas asas” [3 Néfi 25:2] tanto para nós mesmos quanto para aqueles que nos decepcionam. Ele não vai nos abandonar. Ele nos conduz, mesmo quando não sabemos todas as respostas. Assim como Saria e o apóstolo Paulo, que encontraram Seu incomparável amor em sua aflição, nós também podemos conhecer a graça do Salvador em nossa profunda necessidade.

Assim como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, o Redentor nos cercará com Seu amplo poder se nos achegarmos a Ele [ver Mateus 23:37]. Há lugar debaixo dessas asas para todos nós, pois Ele declara:

Portanto, tende bom ânimo e não temais, porque eu, o Senhor, estou convosco e ficarei ao vosso lado; e testificareis de mim, Jesus Cristo, que eu sou o Filho do Deus vivo, que eu fui, que eu sou e que eu virei. [D&C 68:6]

É verdade que vivemos em tempos de guerra, uma época de conflitos e terrores não apenas entre nações, mas dentro de nossos próprios corações. Mas Ele, que é o Bálsamo em Gileade [ver Jeremias 8:22], é o Capitão de toda a criação; somente Nele encontraremos paz e serenidade. Em meio a toda a tristeza e desgraça da mortalidade, Jesus Cristo venceu o mundo. Vinde, alegremo-nos.

© Brigham Young University. Todos os direitos reservados.

Camille Fronk

Camille Fronk era professora associada de escrituras antigas na Universidade Brigham Young quando este discurso da Conferência das Mulheres foi dado em 30 de abril de 2004.