Devocional

A importância de se fazer perguntas

Da Presidência dos Setenta

13 de novembro de 2001

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Uma das principais maneiras de aprendermos – não apenas aqui na BYU, mas em toda a vida – é fazendo perguntas.


Pretendemos modificar a tradução se for necessário. Para dar sugestões, envie um e-mail para: speeches.por@byu.edu

Sinto-me grato, mas também um pouco intimidado, por esta designação de estar com vocês hoje. A missão da Universidade Brigham Young é única em todo o mundo e tenho grande admiração e respeito por aqueles que realmente entendem essa missão e estão absolutamente comprometidos com ela. Embora todos os membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias sejam motivados a aprender, adquirir conhecimento e aumentar sua sabedoria e inteligência, aqueles que têm o privilégio de se associar a esta notável instituição e suas escolas-irmãs se encontram em uma posição única e são grandemente abençoados para adquirir os atributos e a compreensão que levam ao avanço da “glória de Deus” (D&C 93:36).

Uma das principais maneiras pelas quais aprendemos – não apenas aqui na BYU, mas em toda a vida – é fazendo perguntas. Tenho certeza de que seus pais concordariam que vocês têm feito perguntas – algumas delas difíceis de responder – desde que começaram a pronunciar frases coerentes. Suas perguntas continuaram, como deveriam, e até mesmo seus professores aprendem mais sobre vocês quando lhes fazem perguntas. É na noção geral de perguntas que eu gostaria de concentrar meus comentários e conselhos hoje.

Sir John Lubbock foi um banqueiro, estadista, naturalista e prolífico escritor inglês nascido em 1834. Em uma publicação intitulada “National Education” (Educação Nacional), ele fez uma declaração que tem particular relevância para nós neste ambiente universitário tão especial:

Há três grandes perguntas que temos que responder repetidamente na vida. Isso é certo ou errado? É verdadeiro ou falso? É bonito ou feio? Nossa educação deve nos ajudar a responder a essas perguntas. [Sir John Lubbock, The Use of Life (1894; reimpressão, Freeport, Nova York: Books for Libraries Press, 1972), p. 102-3].

Se Sir John Lubbock soubesse, talvez ele pudesse ter dito: “Nossa educação, especialmente na BYU, deveria nos ajudar a responder a essas perguntas”.

Alguns parecem acreditar que fé e perguntas são contraditórias. Isso não poderia estar mais longe da verdade. A própria Restauração foi um desdobramento da fusão adequada e necessária de ambos. O Profeta Joseph Smith tinha tanto fé quanto perguntas. De fato, a passagem de escritura que levou Joseph à experiência do Bosque Sagrado inclui tanto uma pergunta quanto a promessa de uma resposta baseada na fé de quem pergunta.

Fico maravilhado cada vez que penso na maneira extraordinária com que o Profeta Joseph Smith usou perguntas adequadas não apenas para aumentar seu conhecimento, mas também para ampliar sua fé. Vocês conhecem a experiência da Primeira Visão. Aqueles de vocês que serviram como missionários contaram-na muitas e muitas vezes. Mesmo depois de tantos anos desde que fui um jovem missionário, fico emocionado ao reler essa história com frequência e recomendo que vocês a examinem regularmente.

Em sua história, Joseph Smith descreveu as circunstâncias de sua família e o ambiente religioso em que cresceu quando menino. Ele foi exposto a um fervor religioso significativo e a diferenças de opinião entre as várias denominações, todas proclamando que pregavam o evangelho de Jesus Cristo e que tinham a verdade. Permitam-me compartilhar seu relato:

Em meio a essa guerra de palavras e divergência de opiniões, muitas vezes disse a mim mesmo: Que deve ser feito? Quem, dentre todos esses grupos está certo, ou estão todos igualmente errados? Se algum deles é correto, qual é, e como poderei sabê-lo? (Joseph Smith-História 1:10)

Eu diria que essas três perguntas constituem muito mais do que a curiosidade passiva de Joseph. Elas permitiram que ele se concentrasse em resolver seu próprio dilema pessoal e também o prepararam para ter uma experiência que se tornou tão importante para a vida de todos nós. Deixem-me voltar à história de Joseph:

Em meio à inquietação extrema causada pelas controvérsias desses grupos de religiosos, li um dia na Epístola de Tiago, primeiro capítulo, versículo cinco, o seguinte: E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada. (JS-H 1:11; ênfase no original)

Embora o Profeta Joseph Smith não tenha compartilhado os versículos a seguir em seu relato formal, devemos lembrar que eles são componentes vitais para recebermos respostas às perguntas que Joseph fez, assim como para recebermos respostas às nossas próprias perguntas. Permitam-me continuar com a narrativa de Tiago:

Porém peça-a com fé, não duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de uma para outra parte.

Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa.

O homem de ânimo dobre é inconstante em todos os seus caminhos. (Tiago 1:6-8)

A frase chave “porém peça-a com fé” revela um segredo básico. Ter fé sem hesitar é necessário para recebermos as respostas que desejamos. Embora a fé seja absolutamente essencial para obtermos respostas às perguntas que fazemos por meio da oração, a fé no Senhor Jesus Cristo e no plano do Pai também é útil para obtermos respostas a outras perguntas importantes que fazemos.

Antes de concluirmos a história do Profeta Joseph Smith, é instrutivo considerar outras perguntas feitas pelo jovem profeta durante esses anos iniciais da restauração do evangelho. Uma das verdades fundamentais sobre fazer perguntas adequadas com fé e da maneira correta é que a resposta recebida pode não ser a esperada ou desejada e, às vezes, é até mesmo uma resposta a uma pergunta mais importante ou fundamental do que aquela que pensamos em fazer. Novamente, cito a experiência do Profeta Joseph Smith:

Meu objetivo ao dirigir-me ao Senhor era saber qual de todas as seitas estava certa, a fim de saber a qual me unir. Portanto, tão logo me controlei o suficiente para poder falar, perguntei aos Personagens que estavam na luz acima de mim qual de todas as seitas estava certa (pois até aquele momento jamais me ocorrera que todas estivessem erradas) e a qual me unir. 

(JS-H 1:18)

Observem a resposta incisiva que ele recebeu: “Foi-me respondido que não me unisse a qualquer delas” (versículo 19), seguida pela explicação conhecida por todos nós neste mesmo versículo. Após esse esclarecimento, Joseph relatou:

Novamente me proibiu de unir-me a qualquer delas; e muitas outras coisas disse-me, as quais não posso, no momento, escrever. (. . .) Parece que o adversário sabia, nos primeiros anos de minha vida, que eu estava destinado a ser um perturbador e um importunador de seu reino; senão, por que os poderes das trevas se uniriam contra mim? Por que a oposição e a perseguição que se levantaram contra mim, quase em minha infância? (JS-H 1:20)

Joseph Smith, embora muito jovem, compreendeu de modo reflexivo outro importante princípio relacionado a fazer perguntas adequadas. Refiro-me às perguntas que ele fez a si mesmo ao tentar entender as respostas que havia recebido do Pai e do Filho. Voltemos novamente às palavras de Joseph:

Isso me levou a refletir seriamente, na época, e muitas vezes a partir daí; quão estranho era que um obscuro menino de pouco mais de quatorze anos de idade, que estava, também, condenado à necessidade de obter um sustento escasso com seu trabalho diário, fosse considerado suficientemente importante para atrair a atenção dos grandes das seitas mais populares da época, criando neles o espírito da mais implacável perseguição e injúria! Mas, estranho ou não, assim aconteceu e isso foi, com frequência, causa de grande tristeza para mim…. 

Assim era comigo. Tinha realmente visto uma luz e, no meio dessa luz, dois Personagens; e eles realmente falaram comigo; e embora eu fosse odiado e perseguido por dizer que tivera uma visão, isso era verdade; e enquanto me perseguiam, injuriando-me e afirmando falsamente toda espécie de maldades contra mim por dizê-lo, fui levado a pensar em meu coração: Por que perseguir-me por contar a verdade? Tive realmente uma visão; e quem sou eu para opor-me a Deus, ou por que pensa o mundo fazer-me negar o que realmente vi? Porque eu tivera uma visão; eu sabia-o e sabia que Deus o sabia e não podia negá-la nem ousaria fazê-lo; pelo menos eu tinha consciência de que, se o fizesse, ofenderia a Deus e estaria sob condenação. (JS-H 1:23, 25)

Essas são boas perguntas. Joseph Smith então menciona algo sobre os desafios que foram consistentes em sua vida durante os anos seguintes e novamente relata uma experiência resultante de seu questionamento adequado:

Na noite do já mencionado vinte e um de setembro, depois de me haver recolhido, recorri à oração e à súplica ao Deus Todo-Poderoso para pedir perdão por todos os meus pecados e imprudências, pedindo também uma manifestação para que eu pudesse saber qual era o meu estado e posição perante ele; pois tinha plena confiança de receber uma manifestação divina, como acontecera anteriormente. (JS-H 1:29)

Sabemos, então, dos acontecimentos com o anjo Morôni que ocuparam toda aquela noite e o dia seguinte, e da imensa importância que tiveram – não apenas para Joseph Smith, mas para todos nós com o surgimento do Livro de Mórmon.

Falando da tradução do Livro de Mórmon, reconhecemos que a capacidade de Joseph de perguntar e sua compreensão da importância das perguntas adequadas foram aperfeiçoadas e desenvolvidas durante esse período. Permitam-me chamar sua atenção às palavras dele novamente:

Continuávamos ainda [Joseph e Oliver Cowdery] o trabalho da tradução, quando, no mês seguinte (maio de 1829), fomos certo dia a um bosque para orar e consultar o Senhor a respeito do batismo para a remissão dos pecados, mencionado na tradução das placas. Enquanto orávamos e invocávamos o Senhor, um mensageiro do céu desceu em uma nuvem de luz e, colocando as mãos sobre nós, ordenou-nos… (JS-H 1:68)

Sabemos que foi nessa ocasião que Joseph Smith e Oliver Cowdery foram ordenados ao Sacerdócio Aarônico, receberam instruções sobre como o batismo deveria ser realizado adequadamente e sobre como eles próprios deveriam ser batizados. Também foram ensinados e receberam promessas a respeito de outros eventos grandes e significativos que estavam prestes a acontecer em suas vidas e na restauração do evangelho de Jesus Cristo.

Poderíamos passar muito mais tempo do que o que temos disponível hoje citando outros exemplos nos quais o Profeta Joseph Smith fez as perguntas apropriadas e recebeu ensinamentos e compreensão doutrinários que são tão preciosos para nós em nossos dias. Basta ler Doutrina e Convênios para reconhecer que, de fato, praticamente todas essas revelações – tanto para indivíduos quanto para a Igreja em geral – vieram em resposta a súplicas cuidadosamente ponderadas e carregadas de fé ao nosso Pai Celestial. Mas mesmo com a importância dessas boas perguntas, devemos nos lembrar, como disse o Élder Neal A. Maxwell: “Há mais boas respostas do que temos boas perguntas” (All These Things Shall Give Thee Experience [Salt Lake City: Deseret Book, 1979], p. 9).

Será que as perguntas que não têm esse mesmo impacto geral ou significado doutrinário ainda têm lugar em nossa vida? Espero que a resposta seja um óbvio sim. Nosso evangelho é um evangelho de perguntas, e nossa vida, em todas as suas esferas, exige uma investigação cuidadosa e apropriada se quisermos progredir. A questão não é se devemos fazer perguntas, mas sim, quais são as perguntas que devemos fazer?

Minha experiência em ciência e medicina me leva a acreditar que o progresso real é quase sempre o resultado de se fazer as perguntas certas. Se respostas importantes a perguntas devem surgir do nosso esforço, então as perguntas apropriadas precisam ser feitas. Mesmo quando respostas corretas ou percepções valiosas estão disponíveis, elas geralmente não ocorrem quando nenhuma pergunta ou perguntas erradas são feitas. Muitos cientistas podem relatar experiências em que eles ou outros fizeram descobertas importantes aparentemente por acaso. Quando esse é o caso, eles ainda concordam que o conhecimento valioso veio como resultado de uma investigação cuidadosamente elaborada, mesmo que a resposta obtida não tenha sido à pergunta feita.

Quando desconsideramos perguntas tolas, inapropriadas, de mau gosto ou sem sentido, ainda temos que reconhecer que todas as perguntas que poderiam ser interpretadas como apropriadas, em pelo menos alguns contextos, não são igualmente importantes. Algumas questões têm grande significância imediata sem ter nenhuma importância duradoura, como, por exemplo: “Onde encontrarei um lugar para estacionar antes da minha próxima aula?” Ou “O que devemos comer no almoço?” Ou “O que usarei naquela festa importante do próximo final de semana?” Um dos erros que podem ser cometidos por aqueles que se orgulham de suas mentes inquiridoras é concentrar-se em “pequenas perguntas”, excluindo as “grandes perguntas”. Alguns ficam tão presos a detalhes minuciosos que podem perder o contexto geral. Embora não haja nada de errado com muitas perguntas em si, também é verdade que se concentrar no trivial pode nos afastar do que é significativo.

Não sei que tipo de sapatos o Profeta Joseph Smith usava, ou mesmo se ele estava usando sapatos quando foi ao Bosque Sagrado. Suponho que, talvez, haja historiadores, antropólogos culturais ou até mesmo sapateiros interessados nessa pergunta. Não há nada de errado em fazer essa pergunta, e ela pode até levar a uma publicação em uma revista especializada se a resposta for encontrada. No entanto, o que é realmente importante é que Joseph foi ao bosque e teve sua experiência sagrada que literalmente mudou o mundo.

Mesmo quando estamos tentando pensar com clareza e fazer perguntas cuidadosas, é fácil nos distrairmos. Às vezes, pode ser tentador procurar uma pergunta que pareça polêmica ou sensacionalista, ou que ninguém tenha pensado em fazer antes. Da mesma forma, às vezes é tentador fazer uma pergunta (ou perguntas) que, conscientemente, desviem alguém de fazer a pergunta certa, importante ou central. Isso acontece quando se sabe ou suspeita que a resposta crítica possa ser difícil demais ou muito convincente. Também é possível formular uma pergunta que seja tão oblíqua ou complicada – para não mencionar sem sentido – que torne a resposta praticamente impossível. Lembro-me da pergunta de um antigo comediante que gostava de questionar: “Qual é a diferença entre um pato?” Para os ouvintes intrigados, ele dava a resposta: “Suas pernas são as mesmas”. Se não tivermos cuidado, nossas perguntas e respostas podem não ser muito melhores que essas.

Se pudermos aceitar que perguntas não são apenas aceitáveis, mas também essenciais, então poderemos determinar quais são, em última análise, as melhores perguntas ou as de maior importância. Essas seriam aquelas que tratam de verdades e questões consideradas centrais ou essenciais. Não há nada inerentemente errado em querer saber a resposta a uma pergunta só porque ela existe. Porém, ao se fazer uma pergunta, é quase sempre mais produtivo ter um objetivo claro em mente ou um problema a ser resolvido.

Por exemplo, alguns geneticistas podem estar dispostos a trabalhar por muito tempo para identificar a sequência química de um determinado gene só porque ele existe. Por outro lado, essa busca se torna muito mais instigante para a maioria quando se sabe que um determinado gene tem uma função significativa em uma característica, um problema ou uma doença específica. Conhecer fórmulas químicas ou estruturas de compostos e substâncias contribuirá para o conjunto total de conhecimentos, mas esses fatos não ajudarão muito no combate ao câncer se a pessoa dedicar todo o seu tempo ao sequenciamento de genes que têm a ver com outra coisa. Não é que a outra coisa não seja interessante ou mesmo vital, mas, provavelmente, não levará à compreensão do que acontece nas células e nos órgãos que leva ao câncer e, por fim, à morte, a menos que esse outro fenômeno esteja de alguma forma ligado ao gene ou mecanismo do câncer. Da mesma forma, estudar um mapa da Escócia pode ser fascinante e até educativo, mas não será útil se você estiver viajando para a China.

Nossos colegas cientistas aqui no campus podem confirmar que, em geral, eles têm mais sucesso no avanço ou na obtenção de mais conhecimento ao se basearem no trabalho ou nas verdades que já foram descobertas por outros. Os geneticistas de hoje que estão desvendando os segredos dos genes e seu papel nas doenças não precisam duplicar os experimentos genéticos fundamentais de muitos anos atrás, realizados por Mendel e outros, ou a modelagem teórica da estrutura do DNA sugerida por Watson e Crick. Em vez disso, eles consideram com gratidão o trabalho, as teorias e as descobertas daqueles que os antecederam, depois os estudam e passam a conhecer por si mesmos sua importância e suas limitações. Com base nas contribuições de outros, eles passam a resolver novos problemas e se concentram naqueles de maior relevância para o nosso tempo.

Podemos também nos beneficiar daqueles que vieram antes de nós na obtenção das respostas para nossas perguntas importantes. Não precisamos ter a Primeira Visão porque Joseph Smith já a teve, e temos seu relato e seu testemunho, juntamente com o testemunho confirmador do Espírito Santo e de incontáveis outros. Não precisamos receber uma visita de Morôni e saber o que ele ensinou a Joseph Smith, porque temos o registro que nos foi fornecido nas escrituras. Nenhum de nós esteve presente no Sermão da Montanha na Terra Santa, mas não precisávamos estar lá porque temos o relato do Novo Testamento à nossa disposição, juntamente com as informações especiais acrescentadas em 3 Néfi. E, ainda mais importante, temos as ferramentas e os mecanismos para sabermos por nós mesmos que esses ensinamentos são verdadeiros.

Não temos medo de nenhuma pergunta. Essa afirmação não significa que as respostas a todas as perguntas estejam disponíveis ou que as que estão disponíveis tenham o mesmo valor. De fato, a fé é um princípio tão profundo e tão necessário para realizarmos tudo o que precisamos fazer que os detalhes de interesse ou importância sempre serão mantidos no âmbito da fé. Pensem nas respostas dos profetas do Livro de Mórmon às suas próprias perguntas ou às perguntas feitas a eles. Vocês se lembram da resposta do honesto Néfi quando lhe foi feita a pergunta: “Conheces tu a condescendência de Deus?” Ele respondeu: “Sei que ele ama seus filhos; não conheço, no entanto, o significado de todas as coisas” (1 Néfi 11:16-17).

Não apenas admitimos a nós mesmos e ao Senhor quando não sabemos as respostas às perguntas que nos são feitas, mas também precisamos admitir aos outros, quando apropriado. Ao ensinar seu filho Helamã, Alma deixou isso claro ao discutir alguns pontos doutrinários importantes: “Ora, estes mistérios ainda não me foram totalmente revelados; portanto, me conterei” (Alma 37:11).

Em nossa humildade diante do que n   sabemos, no entanto, nunca devemos nos equivocar sobre as evidências concretas disponibilizadas a cada um de nós como base para nossa fé. Dos muitos exemplos que poderíamos citar, talvez o mais convincente seja o próprio Livro de Mórmon. Independentemente do que se pense sobre sua origem, o fato é que o temos. Podemos pegá-lo, podemos lê-lo, podemos testá-lo e examiná-lo. Se formos honestos, teremos que chegar a conclusões definitivas sobre ele. Em resumo, ou ele é verdadeiro, ou é produto de uma fraude. Ou é a palavra de Deus, ou é um impostor da mais alta categoria. Não é intelectualmente honesto nem racionalmente plausível que seu conteúdo seja considerado bom e seus testemunhos verdadeiros e, ainda assim, que suas origens sejam fraudulentas. Independentemente do que os outros possam pensar sobre a explicação das origens do Livro de Mórmon dada por Joseph Smith, pensem cuidadosamente na probabilidade da veracidade de qualquer uma das explicações alternativas apresentadas. Lembrem-se de que temos mais de 170 anos de múltiplas teorias apresentadas por adversários do Profeta, e cada alternativa foi desacreditada por avaliadores cuidadosos e honestos. É claro que vocês mesmos devem examinar essa questão cuidadosamente, caso ainda não o tenham feito. Mas vocês têm a vantagem de todo o trabalho realizado anteriormente e de todas as perguntas feitas por outras pessoas. Ainda assim, sempre haverá aqueles que criticarão a pesquisa e o pensamento crítico de quem discorda deles, ao mesmo tempo em que pedirão que você aceite, como se fosse algo óbvio, suas próprias conclusões infundadas. Certifiquem-se de estar sempre fazendo as perguntas certas.

Sempre que estiverem tentando encontrar a resposta para uma pergunta de grande importância, vocês devem, quando possível, recorrer à fonte primária. Por exemplo, sintam-se à vontade para ler todos os comentários sobre o Livro de Mórmon que desejarem, mas tenham certeza de que estão dedicando tempo suficiente à leitura direta do próprio Livro de Mórmon, e que, então, façam a importante pergunta que o próprio livro faz a vocês:

E quando receberdes estas coisas, eu vos exorto a perguntardes a Deus, o Pai Eterno, em nome de Cristo, se estas coisas não são verdadeiras; e se perguntardes com um coração sincero e com real intenção, tendo fé em Cristo, ele vos manifestará a verdade delas pelo poder do Espírito Santo.

E pelo poder do Espírito Santo podeis saber a verdade de todas as coisas. [Morôni 10:4-5]

Este é um bom ponto de partida para fazer perguntas importantes, porque quando você tem a resposta de que o Livro de Mórmon é verdadeiro, então, necessariamente, outras coisas importantes são verdadeiras. Por exemplo, se o Livro de Mórmon é verdadeiro, então Joseph Smith é claramente um profeta de Deus. Como Joseph é um profeta, então suas outras revelações são verdadeiras. Porque Joseph viu o Pai e Jesus Cristo, então muitas de nossas outras perguntas sobre a natureza e o papel deles são respondidas. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é a igreja verdadeira, e os sucessores de Joseph na presidência também são profetas de Deus. O Livro de Mórmon não lhe dirá muito sobre os sapatos que qualquer um dos grandes em suas dispensações usavam ou a cor de seus cabelos – se é que tinham algum. Ele só fala sobre as coisas mais importantes e realmente verdadeiras. Saber a resposta para a questão de sua veracidade fornece respostas também para outras questões complementares.

Sempre haverá dúvidas, é claro, e coisas que não entendemos completamente – e até mesmo algumas coisas das quais talvez não gostemos muito. Ainda haverá certas coisas fundamentais que precisaremos aceitar com fé. Até mesmo alguns dos detalhes do próprio Livro de Mórmon sempre estarão nessa esfera. Embora continuemos a aprender por que é impossível que alguém como Joseph Smith tenha escrito esse livro de escrituras por conta própria, e por que as explicações alternativas apresentadas para a sua origem não são confiáveis, é muito provável que o Senhor insista em manter esse grande testemunho de Sua mão nos assuntos de Seus filhos e filhas no âmbito da fé, para que possamos demonstrar nossa fidelidade.

Com todas as boas perguntas que podem ser feitas, quais são as mais significativas? Quando estamos considerando coisas imediatas, como o que comer ou vestir, as respostas, com razão, podem mudar com frequência. No entanto, quando fazemos perguntas de fundamental importância, como as relativas à doutrina, as respostas são estáveis e imutáveis. Refiro-me, nesse sentido, a perguntas até mesmo mais importantes do que qual deve ser meu curso ou minha carreira. O mundo continua a abrandar sua posição em relação às leis morais, mas o sétimo mandamento e seus princípios associados sempre permanecerão válidos, mesmo que as curas para a AIDS e todas as doenças venéreas se tornem prontamente disponíveis. Isso se aplica a todas as doutrinas fundamentais e às questões de maior importância para vocês agora e também nas eternidades. Algumas perguntas e respostas serão exclusivas para vocês, mas outras são comuns a todos. Vou me referir às escrituras para dar exemplos que se aplicam a todos nós.

Amuleque foi um missionário e professor do evangelho maravilhoso e exemplar nos últimos anos de sua vida, mas em sua juventude a situação não era bem assim. Como ele mesmo admitiu, quando era mais jovem suas prioridades talvez não estivessem onde deveriam estar. No entanto, para seu grande crédito e com uma ajuda muito significativa de Alma, ele se tornou o que Deus esperava que ele se tornasse (ver Alma 8 e 10). Com a perspectiva de suas próprias provações e experiências, além de receber a orientação do Espírito Santo, ele foi capaz de entender “que a grande pergunta” na mente das pessoas que ele estava ensinando era “se a palavra está no Filho de Deus ou se não haverá um Cristo” (Alma 34:5). O próprio Jesus abordou essa questão central quando perguntou aos fariseus: “Que pensais vós do Cristo?” (Mateus 22:42).

Saulo de Tarso, que se tornou o Apóstolo Paulo, teve sua dramática experiência na estrada para Damasco. Antes disso, Saulo, embora aparentemente estivesse totalmente comprometido com as coisas em que acreditava, talvez não tivesse feito as perguntas adequadas. Foi necessária uma intervenção bastante dramática para chamar sua atenção. Gostaria de me referir ao relato em Atos 9:

E indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu.

E caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? [Observe novamente o papel das perguntas na maneira como Jesus ensina.]

E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões.

E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e entra na cidade, e ali te será dito o que te convém fazer. [Atos 9:3-6]

Saulo fez duas ótimas perguntas em resposta à indagação do Senhor. De certa forma, sua primeira pergunta – “Quem és, Senhor?” – é a mesma pergunta descrita por Amuleque como “a grande pergunta”. A segunda pergunta de Saulo foi a resposta apropriada ao Salvador – que não precisou perguntar diretamente a Saulo, como fez com os fariseus: “Que pensais vós do Cristo?” Saulo perguntou: “Que queres que eu faça?” Essa foi a resposta imediata de alguém que havia sido preparado desde “antes da fundação do mundo”. Aparentemente, em um instante, Saulo teve um entendimento ou uma lembrança muito clara da verdade central descrita pelo Profeta Joseph Smith:

“Os princípios fundamentais de nossa religião são o testemunho dos Apóstolos e Profetas a respeito de Jesus Cristo, que Ele morreu, foi sepultado, ressuscitou no terceiro dia e ascendeu ao céu; todas as outras coisas de nossa religião são meros apêndices disso” [Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2007, pp. 52–53].

Sabemos, com grande apreço, o que Paulo se tornou e fez quando suas perguntas foram respondidas. Da mesma forma, podemos considerar que todas as nossas perguntas – além da grande pergunta e de outras perguntas que se referem ao Salvador, tal como o plano de salvação e nossas responsabilidades fundamentais no reino de Deus – devem ser apenas complementos dessas verdades centrais. Algumas dessas perguntas secundárias ou complementares podem ser muito importantes para nós por motivos perfeitamente válidos, mas, também, podem não ter muito significado para outras pessoas ou até mesmo para o Senhor. A expressão “não importa” é encontrada mais de uma vez tanto no Livro de Mórmon quanto em Doutrina e Convênios. Precisamos estar preparados para quando essa for a resposta de nossas súplicas ao Senhor e não nos desviarmos de nossa responsabilidade de seguir em frente e agir de acordo com as respostas que já recebemos.

Embora a resposta a algumas de nossas perguntas possa ser “não importa”, às vezes, não apenas as respostas, mas as próprias perguntas são cruciais e de grande importância. É vital que os cientistas façam as perguntas certas, mas também é importante que façamos o mesmo em todas as fases de nossa vida. Uma grande tentação, até mesmo para os santos dos últimos dias fiéis, é considerar ocasionalmente a proposição de que, como sou único ou me encontro em circunstâncias especiais atenuantes, então um determinado mandamento ou padrão (ou seja, uma resposta anterior do Senhor) não se aplica realmente ao meu caso – pelo menos não neste momento. Ao longo dos anos, tenho ouvido essa racionalização com frequência de pessoas com vários tipos de dificuldades financeiras com relação a seus dízimos e ofertas, como também com questões de honestidade, conduta moral, Palavra de Sabedoria e assim por diante. As perguntas que fazemos a nós mesmos nessas circunstâncias estão entre as mais importantes que jamais faremos a alguém.

Perguntar como posso evitar ou contornar esse ou aquele mandamento ou princípio é a pergunta errada. A pergunta muito mais apropriada seria algo assim: “Encontro-me em uma situação difícil. Por que o Senhor (ou as Autoridades Gerais, meus pais ou a administração da universidade) deu o conselho que foi dado nessas circunstâncias?”

A resposta de Saulo, “Senhor, que queres que eu faça?”, não é apenas a pergunta mais segura, mas a mais correta. Entretanto, por mais apropriada que seja essa pergunta, nem sempre é fácil fazê-la. De fato, as melhores respostas geralmente vêm quando nossos desafios são os maiores.

Pensem no tremendo sofrimento do Profeta Joseph Smith e de seus companheiros na Cadeia de Liberty durante o inverno frio e miserável de 1838-1839. Tente imaginar a angústia do profeta e suas súplicas e perguntas praticamente desesperadas ao Senhor:

Ó Deus, onde estás? E onde está o pavilhão que cobre teu esconderijo?

Até quando tua mão será retida e teu olho, sim, teu olho puro, contemplará dos eternos céus os agravos contra teu povo e contra teus servos e teu ouvido será penetrado por seus lamentos?

Sim, ó Senhor, até quando suportarão esses agravos e essas opressões ilícitas, antes que se abrande teu coração e tuas entranhas deles se compadeçam? [D&C 121:1-3]

Em meio a essa miséria quase inconcebível, o Senhor confortou Joseph de modo geral e com grande especificidade ao responder suas perguntas, inclusive algumas que ele não havia feito. O Senhor foi gentil e claro o suficiente, como será com cada um de nós, ao reconhecer Sua compreensão das circunstâncias (ver D&C 121-123). Mas, em seguida, Ele deu esta impressionante síntese como parte da resposta, junto com uma pergunta-chave: “O Filho do Homem desceu abaixo de todas elas. És tu maior do que ele?” (D&C 122:8).

Ou pensem na aparente repreensão sentida por Pedro, Tiago e João quando acompanharam o Salvador ao Jardim do Getsêmani, à medida que a Expiação se realizava. Em meio à Sua agonia e profunda oração, aqueles que Ele esperava que tivessem mais empatia e compreensão estavam dormindo. Jesus disse: “Não podes vigiar uma hora?” (Marcos 14:37)

Esses são os tipos de perguntas que devemos fazer a nós mesmos para que o Senhor não precise fazê-las.

Perguntas cuidadosas e ponderadas, tanto de nós quanto para nós, são partes essenciais da vida. A maneira como estruturamos as perguntas que fazemos e como respondemos às que chegam até nós determinará, em grande parte, os resultados de nosso esforço e progresso para manter nosso “segundo estado” (Abraão 3:26), ou, em outras palavras, alcançar a felicidade nesta vida e qualificar-nos para a vida eterna no mundo vindouro. No livro “O Elefante Infante”, de Rudyard Kipling, encontramos este bom conselho:

Eu tenho seis serventes honestos,

Que valem por cem,

Seus nomes são “O que”, “Onde”,

“Quando”,

“Como”, “Aonde” e “Quem”.  

[Apenas Histórias]1

Com nossa perspectiva única sobre a melhor fonte de respostas para nossas perguntas mais importantes, vamos nos lembrar do conselho de João:

E esta é a confiança que temos nele: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve.

E se sabemos que ele nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos. [1 João 5:14-15]

Que sejamos atenciosos e sábios ao formular as perguntas que fazemos e, ao perguntarmos, que sempre expressemos a devida gratidão pelo privilégio de não apenas fazer perguntas tanto grandes quanto pequenas, mas, também, de receber respostas necessárias e maravilhosas Daquele que sabe tudo o que realmente precisamos saber. Em nome de Jesus Cristo, amém.

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1. Da tradução feita por Marcus Vinicius Barbosa de Caldas Barros, https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/32157?locale=pt_BR

1. Da tradução feita por Marcus Vinicius Barbosa de Caldas Barros, https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/32157?locale=pt_BR

Cecil O. Samuelson

Cecil O. Samuelson era membro da Presidência dos Setenta de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias quando este discurso foi proferido no devocional da Universidade Brigham Young em 13 de novembro de 2001.