O que parecem ser apenas pequenas mudanças de direção ou pequenos desvios do caminho estreito e apertado podem resultar em enormes diferenças de posição ao longo da estrada da vida.
Meus queridos irmãos e irmãs – alunos, professores e amigos – estou feliz por estar aqui hoje. Tenho um profundo amor pela BYU e por seu povo. Provo é a cidade em que nasci. Passei 15 dos melhores anos da minha vida neste campus, incluindo dois anos na antiga Escola de Ensino Médio Brigham Young. Em junho passado, completaram-se 50 anos desde que me formei na BYU. É óbvio por que sempre me emociono ao voltar a este campus.
Hoje falarei sobre algumas lições de vida, na esperança de ajudar cada um de nós – especialmente os jovens – com algumas escolhas que todos fazemos ao longo da estrada da vida.
Gostaria de começar com uma história que fala sobre boas e más notícias. Um piloto, pelo interfone, deu a seus passageiros a seguinte mensagem durante o voo: “Tenho uma boa e uma má notícia. A boa notícia é que nosso tempo de voo está adiantado. A má notícia é que tivemos uma falha no equipamento e não temos certeza se estamos indo na direção certa.”
A direção na qual estamos indo é extremamente importante, especialmente no início de nossa jornada. Tenho um amigo que encerrou sua carreira como piloto de longas rotas pelo Pacífico para uma grande companhia aérea. Ele me disse que um erro de apenas dois graus no curso estabelecido de um voo de linha direta de 7.242 quilômetros de Chicago a Hilo, no Havaí, faria com que o avião se desviasse da ilha por mais de 233 quilômetros ao sul. Se o dia não estivesse claro, o piloto nem conseguiria ver a ilha, e não haveria nada a não ser o oceano até chegar à Austrália. Mas é claro que o voo não chegaria à Austrália, pois não teria combustível suficiente. Pequenos erros de direção podem causar grandes tragédias no destino final.
Todos nós – e especialmente os jovens – precisamos ter muito cuidado com os caminhos que escolhemos e as direções que damos à nossa vida. O que parecem ser apenas pequenas mudanças de direção ou pequenos desvios do caminho estreito e apertado podem resultar em enormes diferenças de posição ao longo da estrada da vida.
Na reunião geral do sacerdócio do mês passado, falei sobre uma amiga de muitos anos que me contou que seu marido, que sempre foi um “bom menino” no ensino médio, resolveu beber um pouco para tentar esquecer de seus problemas. Antes mesmo que pudesse se dar conta do que estava acontecendo, ele ficou viciado. Agora, ele não consegue sustentar sua família e fracassa em quase tudo o que tenta fazer. O álcool governa sua vida, e ele não consegue se libertar de suas garras. A melhor forma de evitar a dependência é evitar até mesmo o primeiro passo – abster-se totalmente de todas as substâncias e práticas que causam dependência.
Os desvios potencialmente destrutivos muitas vezes parecem tão pequenos que alguns acham fácil justificar “só dessa vez”. Quando a tentação surgir – e ela certamente surgirá – peço que perguntem a si mesmos: “Aonde isso vai levar?” Escolhi essa pergunta como título de minha mensagem hoje. Darei alguns exemplos que ensinam o valor de se fazer essa pergunta. Também compartilharei algumas experiências pessoais que ilustram a importância a longo prazo de algumas diferenças aparentemente pequenas nas escolhas atuais.
Eis um exemplo hipotético. Vocês estão em casa com seus filhos. Uma pessoa com quem vocês não querem falar está ligando para vocês ou batendo na porta. Vocês se sentem tentados a pedir às crianças que digam que vocês não estão em casa. “Aonde isso vai levar?” Se fizerem isso, estarão mostrando a seus filhos que vocês irão mentir para obter vantagem, e estarão ensinando-os a fazer o mesmo. Vocês estarão enfraquecendo a fé deles de que podem confiar que vocês dirão a verdade. Vocês também estarão lançando dúvidas sobre a validade do mandamento de não mentir e sobre os profetas que ensinaram esse mandamento. Vocês estarão até mesmo diminuindo a fé na existência do Deus que deu tal mandamento. Aonde isso vai levar? Isso colocará em movimento uma série de consequências que podem ser severamente destrutivas para os esforços de se alcançar bênçãos eternas.
Em nossa última conferência geral, o bispo H. David Burton nos lembrou de que, ao criar filhos e atender às suas necessidades e desejos, mais nem sempre é melhor. Pais que exageram em mimar seus filhos com bens materiais e privilégios correm o risco de não lhes ensinar “valores importantes como o trabalho árduo, saber esperar pelo que se quer, a honestidade e a compaixão”. Aonde isso vai levar? Isso privará as crianças de oportunidades importantes de aprendizado e crescimento. O bispo Burton disse que “filhos que não têm responsabilidades correm o risco de nunca aprender que… o significado da vida vai além de sua própria felicidade”. Ele então concluiu que os pais precisam ajudar os filhos a desenvolver “as qualidades que formam o caráter e que vêm de esperar, dividir, poupar, trabalhar arduamente e fazer o melhor com o que se tem.” (“Mais Vontade Dá-Me”, A Liahona, novembro de 2004).
O caminho errado também pode ser traçado por outro tipo de indulgência paterna. Alguns pais parecem acreditar que seus filhos não são capazes de cometer erros. Eles os defendem contra quaisquer críticas, correções ou experiências dolorosas de qualquer pessoa fora do círculo familiar. Uma nota baixa na escola ou uma correção de um líder provoca uma tempestade de críticas públicas ou privadas de um pai que defenderá o filho a todo custo. Aonde isso vai levar? Isso enfraquecerá o respeito da criança pela autoridade – qualquer tipo de autoridade – e diminuirá o respeito necessário para que o aluno aprenda com o professor. Pais que consideram aonde tais atitudes podem levar, apoiarão a autoridade e darão suporte aos professores de seus filhos em todas as circunstâncias, salvo raras exceções.
Há exemplos positivos do mesmo princípio. Lembro-me de uma história contada pelo Élder Harold B. Lee em um devocional aqui na BYU, há 52 anos (a propósito, eu era aluno da BYU naquele ano – 1952). Sua história teve um impacto significativo em minha vida por vários motivos. Cito o Élder Lee:
Eu tinha cerca de dez ou onze anos de idade. Eu estava com meu pai em uma fazenda longe de nossa casa, tentando passar o dia ocupado até que meu pai estivesse pronto para voltar para casa. Do outro lado de uma cerca perto de onde estávamos, havia alguns galpões caindo aos pedaços que atrairiam um garoto curioso e aventureiro como eu. Comecei a pular a cerca e ouvi uma voz tão claramente quanto vocês estão ouvindo a minha agora, chamando-me pelo nome e dizendo: “Não vá até lá!” Virei-me para ver se meu pai estava falando comigo, mas ele estava lá do outro lado do campo. Não tinha ninguém à vista. Percebi então, ainda criança, que havia pessoas além da minha visão, pois eu tinha definitivamente ouvido uma voz. Desde então, quando ouço ou leio histórias do Profeta Joseph Smith, também sei o que significa ouvir uma voz, porque tive essa experiência. (Ver Harold B. Lee, Stand Ye in Holy Places [Permanecei em Lugares Santos], Salt Lake City: Deseret Book, 1975, p. 139).
Considerem alguns dos efeitos daquela experiência. Primeiro, ela ensinou a um menino — que viria a se tornar um profeta — a realidade da revelação. Segundo, pode tê-lo protegido de algum perigo oculto naqueles velhos galpões. Essa foi a maneira como interpretei a história por muitos anos, e talvez seja verdade. Nunca saberemos. Mas talvez o aviso que ele ouviu não tenha sido para protegê-lo do perigo. Talvez fosse para testar sua disposição de ser obediente à orientação celestial. Certamente ele passou no teste, e aonde isso o levou? Tal escolha manteve o canal de revelação aberto para se receber mais orientações e foi uma experiência formadora na vida de um de nossos maiores professores. Seguir uma impressão pode parecer algo insignificante agora, mas aonde ela nos leva pode ser imensamente importante.
Seguir uma impressão salvou minha vida nas montanhas a cerca de 16 quilômetros daqui. Eu estava caçando veados, nessa mesma época do ano, uns 25 anos atrás. No final da tarde, atirei em um grande cervo. Limpei o animal e coloquei seu corpo num lugar onde ele ficaria seguro até que eu voltasse com ajuda no dia seguinte para recolhê-lo. A essa altura, já estava escuro, eu estava sozinho e ainda estava no alto das montanhas, a vários quilômetros da estrada mais próxima.
Embora eu nunca tivesse estado na encosta dessa montanha em particular, não estava perdido. Eu conhecia a localização geral e sabia que tudo o que tinha a fazer era continuar descendo e que, por fim, isso me levaria a uma estrada conhecida. O problema era a escuridão total da noite sem luar.
Escolhi um barranco e comecei a tatear o caminho para baixo, entre a vegetação e os galhos caídos. O progresso era lento, então fiquei aliviado quando o terreno nivelou e senti sob meus pés um fundo arenoso. Acelerei meu ritmo por cerca de 10 passos e, de repente, tive uma forte impressão de que deveria parar. E parei. Abaixei-me, peguei uma pedra e a lancei na escuridão à minha frente. Não ouvi nenhum som por alguns segundos e, então, veio o ruído de pedras se chocando, bem longe. Percebi imediatamente que estava na beira de um precipício.
Voltei pelo caminho por onde vim e acabei descendo a montanha por outro barranco. Liguei para minha família, que a esta altura estava preocupada, perto da meia-noite, pouco antes de chamarem uma equipe de busca. No dia seguinte, voltei ao local à luz do dia e vi meus rastros, que pararam a menos de um metro de uma queda de pelo menos 15 metros. Fiquei feliz por ter ouvido e obedecido àquele aviso. Aonde isso levou? Salvou minha vida.
Agora, eu os convido a pensar em algumas decisões aparentemente pequenas que vocês estão tomando em sua vida e que se beneficiariam com a pergunta “Aonde isso vai levar?”
Como exemplo de coisas a serem evitadas, considerem as terríveis consequências de consumir qualquer coisa que possa causar dependência. Isso inclui não apenas o tabaco e o álcool que escravizaram o marido da minha amiga, mas também a avalanche de material pornográfico que agride nossos sentidos na Internet e no entretenimento popular, incluindo filmes e vídeos. Aonde levará experimentar esse lixo? Tanto os líderes da Igreja quanto os profissionais afirmam que isso leva à destruição de relacionamentos familiares terrenos e eternos – e, às vezes, até mesmo a sentenças de prisão por comportamento abusivo. Se vocês se envolverem com esse lixo, ele os levará ao depósito de lixo – o destino final dos sonhos temporais e das eternas possibilidades desperdiçadas.
Eis outra coisa a ser evitada, uma sugestão dirigida especialmente àqueles que são casados. Quando ocorrerem desentendimentos – como de fato ocorrerão – e vocês se sentirem tentados a se afastar por um tempo, curto ou longo, perguntem-se: “Aonde isso vai levar?” Afastar-se com raiva é o primeiro passo para algo que vocês não querem fazer. Portanto, voltem para trás e curem as feridas antes que elas infeccionem e levem à lesões sérias ou algo ainda pior.
Como exemplo de coisas que incentivamos e aonde elas levarão, consideremos o estudo diário das escrituras que fomos ensinados a incorporar em nossa vida. Aonde isso vai levar? Que tal orações pessoais duas vezes ao dia e uma oração familiar de joelhos? Há uma enorme proteção espiritual e temporal em cada uma dessas práticas porque elas são essenciais para a companhia do Espírito Santo, que nos guia e nos fortalece espiritualmente. Posso assegurar-lhes que a fiel observância dessas diretrizes nos aproximará do Senhor, enquanto a omissão delas nos afastará Dele.
O mesmo se aplica à realização de noites familiares semanais. Elas são vitais para os filhos que alguns de vocês já têm agora, e que a maioria de vocês um dia terá. Essas iniciativas básicas podem parecer pequenas agora, mas elas plantam as sementes que trarão uma boa colheita no futuro.
Isso me faz lembrar de um verso composto por Douglas MacArthur quando ele era superintendente da Academia Militar dos Estados Unidos em West Point, Nova York, há quase um século. MacArthur, que acreditava plenamente na importância de competições esportivas na preparação de futuros oficiais militares para seus deveres profissionais, escreveu estas palavras e mandou gravá-las nos portais de pedra das instalações esportivas da Academia Militar:
Nos campos da disputa amistosa
São plantadas as sementes
Que, em outros campos, em outros dias
Produzirão os frutos da vitória.
(Citado em William Manchester, American Caesar [Boston: Little, Brown, 1978], 123).
Após ouvir esse verso, alguns de vocês provavelmente estão pensando que MacArthur era melhor como general do que como poeta. Sim, mas seu argumento é válido. As mesmas qualidades de integridade, treinamento, preparação, obediência e confiabilidade que produzem a vitória em uma competição atlética amistosa nos levarão à vitória e ao sucesso quando os riscos forem maiores.
Para citar outro exemplo, o que dizer dos efeitos de não se cumprir o Código de Honra e os Padrões de Vestimenta e Aparência da BYU depois de prometer cumpri-los? Não é pouca coisa quebrar uma promessa, deliberadamente ou por descuido. E aonde isso vai levar? Isso prejudicará a aparência, os padrões e a reputação da universidade da Igreja; incentivará outros a fazerem o mesmo; e enfraquecerá a própria fibra moral do infrator, necessária para os desafios maiores que ele ou ela enfrentará no futuro.
Ouvimos com frequência sobre a escolha entre o bem e o mal. Por exemplo, a maioria dos alunos terá de escolher, em algum momento, entre plagiar ou trapacear para obter uma nota mais alta ou confiar em esforços pessoais honestos para obter o que merecemos com nossa própria preparação e qualificações.
Outras escolhas não são entre o bem e o mal. As escolhas mais comuns que enfrentamos são entre duas coisas boas e, também nesse caso, é desejável perguntar aonde isso vai levar. Fazemos muitas dessas escolhas quando decidimos o que faremos no Dia do Senhor, a que programas de televisão assistiremos, que oferta de emprego aceitaremos, o que leremos e – em uma perspectiva bem ampla – como passaremos nosso tempo. Todas essas escolhas se beneficiarão de uma análise cuidadosa e constante com base na pergunta: “Aonde isso vai levar?”
Às vezes, a escolha não é entre duas ações diferentes, mas entre ação e inércia. Devo me manifestar ou permanecer em silêncio? Devo permitir que meu ente querido siga um caminho que sei ser prejudicial e deixá-lo aprender com a experiência ou devo intervir para salvá-lo dessa experiência? Novamente, é útil nos perguntarmos: “Aonde isso vai levar?”
Lembro-me de um episódio descrito por um homem que conheci em uma conferência de estaca nos Estados Unidos há mais de uma década. O cenário era um belo campus universitário na região central de Illinois. Minha fonte, que participava de um workshop de verão, viu uma multidão de jovens estudantes sentados na grama em um grande semicírculo a cerca de seis metros de uma das grandes árvores de madeira nobre que são tão belas e tão comuns naquela região. Os estudantes estavam observando algo na base da árvore. Ele então interrompeu sua caminhada para ver o que era.
Um lindo esquilo com uma cauda longa e espessa estava brincando debaixo daquela bela árvore. Às vezes ele estava no chão, depois subia e descia pelo tronco. Mas por que aquela cena comum atraía tanto a atenção daqueles alunos?
Ali perto, deitado na grama, havia um cão setter irlandês. Ele era o objeto de interesse dos alunos, e, embora ele fingisse o contrário, o esquilo era o objeto de interesse dele. Cada vez que o esquilo ficava momentaneamente fora do ângulo de visão enquanto dava a volta na árvore, o cão se arrastava alguns centímetros à frente e voltava à sua aparente postura de indiferença. A cada minuto ou dois, ele se aproximava mais do esquilo, e este aparentemente não percebia. Essa foi a cena que prendeu a atenção dos alunos. Em silêncio e imóveis, ficaram observando atentamente o evento cujo resultado era cada vez mais óbvio.
Finalmente, o cão se aproximou o suficiente para pular sobre o esquilo e abocanhá-lo. Houve um suspiro de horror, e os alunos se aproximaram e tomaram o pequeno animal do cachorro, mas já era tarde demais. O esquilo estava morto.
Qualquer pessoa naquele grupo poderia ter chamado a atenção do esquilo a qualquer momento, agitando os braços ou gritando, mas nenhuma delas o fez. Apenas ficaram observando enquanto o inevitável fim se aproximava. Ninguém se perguntou: “Aonde isso vai levar?” E ninguém quis interferir. Quando o que era previsível aconteceu, todos correram para evitar aquele desfecho, mas era tarde demais. Só o que puderam fazer foi lamentar, arrependidos.
Essa história verídica é uma espécie de parábola. Ela se aplica às coisas que vemos em nossa própria vida, na vida das pessoas ao nosso redor e nos eventos que ocorrem em nossas cidades, estados e nações. Em todas essas áreas, podemos ver ameaças se aproximando das coisas que amamos, e não podemos nos dar ao luxo de ficar indiferentes ou calados. Devemos estar sempre atentos para perguntar “Aonde isso vai levar?” e emitir os avisos ou unir esforços preventivos apropriados enquanto ainda há tempo. Muitas vezes não podemos evitar o resultado, mas podemos nos retirar da multidão que, por não tentar intervir, é cúmplice do resultado.
Quatro outros aspectos me ocorreram ao ponderar sobre a aplicação da pergunta “Aonde isso vai levar?” Todos eles dizem respeito a políticas públicas e não à moralidade privada. Entretanto, cada um deles é um assunto em que nossa influência e escolhas particulares podem contribuir para o bem público. Cada um deles é importante para o ambiente público em que vivemos.
Em primeiro lugar, estou preocupado com a atual ênfase excessiva nos direitos e a falta de ênfase nas responsabilidades. Onde isso nos levará em nossa vida pública? Nenhuma sociedade é tão forte que possa apoiar o aumento contínuo dos direitos dos cidadãos e, ao mesmo tempo, deixar de promover aumentos comparáveis nas responsabilidades ou obrigações dos cidadãos. No entanto, nosso sistema jurídico continua a reconhecer novos direitos, enquanto ignoramos cada vez mais as antigas responsabilidades. Por exemplo, os chamados divórcios sem culpa – que dão a qualquer um dos cônjuges o direito de dissolver um casamento à vontade – obscurecem a importância vital das responsabilidades no casamento. Da mesma forma, acredito que é uma ilusão pensar que ajudamos as crianças definindo e impondo seus direitos. Fazemos mais pelas crianças ao tentar reforçar as responsabilidades dos pais – naturais e adotivos – mesmo quando essas responsabilidades não são legalmente impostas.
Esses mesmos princípios também se aplicam à esfera pública. Não podemos elevar nosso bem-estar público aumentando nosso inventário de direitos individuais. Responsabilidades cívicas como honestidade, autossuficiência, participação no processo democrático e devoção ao bem comum são essenciais para o governo e a preservação de nosso país. Atualmente, estamos aumentando os direitos e enfraquecendo as responsabilidades, o que está levando nossa nação ao caminho da falência moral e cívica. Se quisermos aumentar nosso bem-estar geral, precisamos fortalecer nosso senso de responsabilidade individual pelo bem-estar dos outros e pelo bem da sociedade em geral. (Ver Dallin H. Oaks, “Rights and Responsibilities”, Mercer Law Review, 36 [1984-85], n.º 1 [outono de 1984]: 427-42.)
O segundo aspecto é a questão da diminuição do número de leitores de jornais e livros. A circulação e o número de leitores de jornais diários nos Estados Unidos estão diminuindo significativamente, ao passo que nossa população está aumentando. Especificamente, a circulação per capita de jornais nos EUA nos últimos 30 anos diminuiu de 300 para 190 por 1.000 habitantes. Para citar outra medida, nos quatro anos anteriores a 2002, a porcentagem de pessoas com idade entre 25 e 34 anos que leram um jornal na semana anterior (em mãos ou na Internet) caiu quase 10 pontos percentuais – de mais de 86% em 1988 para menos de 77% em 2002 (U.S. Census Bureau, Statistical Abstract of the United States: 1989 [109ª ed.], tabela no. 901; e Statistical Abstract of the United States: 2003 [123ª ed.], tabela no. 1127). A proporção de adultos que leem livros também diminuiu significativamente nos últimos anos (ver National Endowment for the Arts, Reading at Risk: A Survey of Literary Reading in America, Research Division Report #46, junho de 2004, Washington, D.C. [www.nea.gov/pub/ReadingAtRisk.pdf]; e Christina McCarroll, “New on the Endangered Species List: The Bookworm”, Christian Science Monitor, 12 de julho de 2004, pp. 1-3).
Por que essas tendências são preocupantes? Mais e mais pessoas não estão lendo as notícias sobre o mundo ao seu redor ou as questões importantes do dia. Aparentemente, elas se baseiam no que os outros lhes dizem ou nas frases de efeito dos noticiários da televisão, onde até mesmo os assuntos mais importantes raramente têm mais de 60 segundos. Aonde isso vai levar? Está nos levando a uma sociedade menos preocupada, menos atenciosa e menos informada, o que resulta em um governo menos ativo e menos responsável.
Uma terceira preocupação é com o que está ou não está sendo ensinado nas escolas que moldam o pensamento e os valores daqueles que serão nossos futuros líderes. Refiro-me a escolas públicas, escolas particulares e escolas religiosas. Temo que alguns dos valores que são — ou deixam de ser — ensinados aos jovens que em breve ocuparão os púlpitos públicos e religiosos de nossa nação sejam significativamente diferentes daqueles que moldaram nosso povo e nossa nação. Tenho o mesmo receio em relação ao que está sendo ensinado pelos programas de TV, que ocupam grande parte do tempo de nossos jovens.
Após a recente eleição, li que um em cada cinco eleitores nas pesquisas de boca de urna em todo o país disse que as questões morais eram o fator mais importante ao votar. Muitos de nós votamos com base em nossas preocupações com a posição de nossas autoridades públicas sobre questões morais, mas o que estamos fazendo para registrar preocupações semelhantes com os valores de alguns daqueles que estão ensinando nossos futuros líderes? Se não dermos atenção a essa preocupação, estaremos nos afastando da virtude e da responsabilidade cívicas e da prosperidade geral.
Minha quarta preocupação é com a destruição da confiança em figuras e autoridades públicas. Isso está bem presente em nossas mentes após a recente hostilidade de muitas campanhas eleitorais, mas também é uma característica familiar da programação atual da televisão. Grande parte do discurso público, da cobertura da mídia e do entretenimento parece ser formada por conteúdo que destruirá a confiança nas pessoas e nos cargos que deveriam funcionar como guias morais para jovens e idosos em nossa sociedade. Muitas das mensagens de alguns candidatos recentes parecem ter a intenção de desacreditar o caráter de outro candidato em vez de promover uma discussão séria sobre as questões importantes nas quais o eleitorado deve registrar suas escolhas. Da mesma forma, nos chamados programas de entretenimento, muitas vezes vemos a figura de autoridade ser retratada como ardilosa, desonesta e indigna de confiança.
Desacredite das figuras de autoridade – sejam elas autoridades públicas, professores, ministros ou outros – e aonde isso vai levar? Isso incentivará dúvidas sobre as leis, regras e princípios que elas administram, e levará ao ceticismo ou ao afastamento dos laços que nos unem como sociedade, família ou organização privada. Oro para que isso não aconteça e oro para que o discurso público volte a ser menos divisivo e mais solidário e respeitoso com as figuras de autoridade e com os valores que construíram nossa nação.
Aonde isso vai levar? Sugeri que essa é uma pergunta de grande valor para avaliarmos muitas decisões pessoais e particulares. É também uma forma de prestar testemunho. Para onde leva a fé no Senhor Jesus Cristo? Para onde leva o evangelho? Cito uma passagem de Doutrina e Convênios que contém a palavra do Senhor para Seu povo nesta dispensação:
Procura trazer à luz e estabelecer minha Sião. Guarda meus mandamentos em todas as coisas.
E se guardares meus mandamentos e perseverares até o fim, terás vida eterna, que é o maior de todos os dons de Deus. [D&C 14:6-7]
Presto testemunho de Jesus Cristo, que é nosso Salvador. Testifico da veracidade do evangelho de Jesus Cristo, que nos conduzirá à vida eterna. Testifico que somos guiados por um profeta. Esta é a Igreja do Senhor e Seu evangelho, no qual podemos confiar que nos conduzirá à vida eterna. E digo isso em nome de Jesus Cristo, amém.
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Dallin H. Oaks era membro do Quórum dos Doze Apóstolos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias quando este discurso foi proferido no devocional do dia 9 de novembro de 2004.