Dinheiro é importante: Viver com alegria dentro de seu orçamento
Professor da Escola de Vida Familiar da BYU
9 de junho de 2015
Professor da Escola de Vida Familiar da BYU
9 de junho de 2015
As escolhas que fazemos com relação ao dinheiro estão no cerne do teste da mortalidade. Escolheremos desperdiçar nossos recursos em prazeres transitórios ou escolheremos servir ao próximo e edificar o reino de Deus?
Bom dia. Estou animado por estar aqui hoje. Oro para que o Espírito nos abençoe. O tópico de hoje é importante, tanto temporal quanto espiritualmente, e eu os convido a ouvir tanto com a mente quanto com o coração.
Todos os anos, ensino quase mil alunos da BYU na SFL 260 (uma classe da Escola de Vida Familiar) sobre finanças familiares. Curiosamente, o objetivo desse curso não é ensinar os alunos a ficarem ricos. Em vez disso, o objetivo é ajudar os alunos a adquirirem uma perspectiva de responsabilidade e administrarem sabiamente seu dinheiro para fortalecer com alegria os relacionamentos familiares. Como bônus, essa aula cumpre o requisito de educação geral de raciocínio quantitativo.
No início de cada semestre, digo à minha turma que se lembre de três coisas e convido vocês a fazerem o mesmo:
Primeiro, a vida é difícil, mas vocês podem fazer coisas difíceis. Com a ajuda do Senhor, vocês podem fazer tudo o que Ele quiser – até mesmo equilibrar um orçamento ou investir em um fundo de investimento.
Segundo, quando a vida não sair como planejado, não fiquem frustrados; tirem o melhor proveito disso. Na maioria das vezes, as coisas não saem como o planejado – especialmente em questões financeiras – e se vocês não tirarem o melhor proveito disso, passarão a maior parte da vida sentindo-se frustrados.
E, em terceiro lugar, lembrem-se dos três T’s: tudo toma tempo. De fato, o melhor plano financeiro é o plano “fique rico lentamente”, no qual vocês investem de forma segura e sistemática.
Sempre que falo sobre finanças, lembro-me de uma história que ouvi sobre um calouro da faculdade que não fazia um bom orçamento. Ele sempre ficava sem dinheiro antes de ficar sem mês.
Certa noite, o estudante mandou uma mensagem para sua família: “Sem dinheiro, sem diversão, seu filho”.
Seu sábio pai respondeu de imediato: “Que triste, que pena, seu pai.”1
Espero que meu discurso nesta manhã ajude vocês a evitar a situação desse aluno.
O título deste devocional é “Dinheiro é importante: Viver com alegria dentro de seu orçamento”. Para apresentar esse tema, gostaria de falar de forma pessoal e compartilhar brevemente algumas coisas que aprendi ao longo da vida sobre dinheiro e uma vida feliz.
Há muito, muito tempo, Juanita Ray e eu nos conhecemos quando estudávamos na BYU. Jogamos raquetebol juntos, namoramos por um tempo e nos casamos no templo. Como recém-casados, não tínhamos dinheiro. Morávamos em um minúsculo apartamento de dois cômodos com teto baixo, comprávamos roupas das Indústrias Deseret e comíamos o armazenamento de alimentos da família dela. Tomamos leite solúvel por quase um ano – eca! Mas tínhamos um ao outro, tínhamos nosso amor e tínhamos o evangelho. Foi um bom ano. Aprendemos que não é preciso ter muito dinheiro para ser feliz.
Eu me formei, consegui um bom emprego e começamos a beber leite integral líquido – que divino! Eu tinha sido ensinado a pagar 10% ao Senhor, economizar 10% para investir e viver com o restante. Juanita e eu fizemos isso ao criarmos nossos orçamentos familiares ao longo dos anos. Fomos produtivos e, depois de vinte e cinco anos, tivemos muitos filhos que encheram nossa casa – já quitada. Também tínhamos investimentos sólidos. Aprendemos sobre o milagre dos juros compostos: se vocês economizam consistentemente um pouco de dinheiro e o investem em um amplo fundo do mercado de ações, esse dinheiro naturalmente se multiplica. Os filhos e netos também se multiplicam.
Então, veio a parte difícil. Embora Juanita e eu estivéssemos financeiramente preparados para uma vida longa juntos – e prevíamos muitas missões, muitas viagens e muitos netos – a vida não saiu como planejamos. Juanita teve câncer. Ela lutou valentemente, mas o câncer venceu. Aprendi que há coisas que importam muito mais do que dinheiro e aprendi da maneira mais difícil que “você não pode levá-lo consigo”.
Depois que Juanita morreu, eu era um pai solteiro e solitário. Não conseguia dormir. Ficava irritado com facilidade. Não me alimentava bem. Para compensar, desperdicei meu dinheiro. Aprendi como é tolo gastar dinheiro quando se está com fome, com raiva, solitário e cansado.
Então, um milagre aconteceu. Deus me enviou uma viúva linda e incrível chamada Tammy Mulford. Foi muito divertido estar namorando novamente (e ter dinheiro dessa vez)! Tammy e eu nos apaixonamos e nos casamos. Que alegria pura – e que mulher extraordinária! É preciso ser uma pessoa notável para se casar com um professor engomadinho da BYU com tantos filhos. Juanita e eu somos eternamente gratos a Tammy.
Nunca é fácil juntar duas famílias, mas Tammy e eu aprendemos que o dinheiro é útil quando se está unindo uma família grande, especialmente uma com doze filhos, seis genros e noras e vinte e um netos.
Uma observação final: quando as crianças ficaram mais velhas, Tammy tomou a iniciativa de fazer uma pós-graduação. Ela agora abençoa muitas pessoas como uma excelente terapeuta de casamento e família e como professora adjunta na BYU. A pós-graduação de Tammy só foi uma opção porque tínhamos os recursos financeiros para que ela a fizesse. Aprendemos que o dinheiro torna possíveis coisas importantes.
Essa é a história da minha vida. Agora, voltemos ao tema de hoje: “Dinheiro é importante: Viver com alegria dentro de seu orçamento”. As finanças podem ser complicadas para muitos de nós, mas nesta manhã espero torná-las um pouco mais simples. Primeiro, explorarei brevemente por que o dinheiro é importante para as famílias. Em seguida, compartilharei cinco práticas para ajudá-los a viver dentro de seu orçamento e, assim, receber bênçãos de alegria. Isso é empolgante – vamos começar!
As escolhas que fazemos com relação ao dinheiro estão no cerne do teste da mortalidade. Escolheremos desperdiçar nossos recursos em prazeres transitórios ou escolheremos servir ao próximo e edificar o reino de Deus? Escolheremos agir por impulso e nos sobrecarregar com dívidas, ou agiremos com prudência para que o dinheiro se torne uma ferramenta para a alegria da família e não uma causa de estresse e preocupação?
O dinheiro é importante para o marido, para a esposa e para seu relacionamento conjugal. De fato, as pesquisas mostram que as dificuldades financeiras estão frequentemente associadas ao estresse conjugal2 e até mesmo ao divórcio.3 O Dr. Bernard Poduska refletiu: “O ditado ‘até que a dívida os separe’ parece refletir com mais precisão a realidade conjugal de hoje do que o voto tradicional de ‘na alegria e na tristeza.’”4 Um conselho para aqueles que procuram um cônjuge eterno (vocês sabem quem vocês são): um critério importante para um futuro cônjuge é a maneira como ele ou ela lida com o dinheiro.
O dinheiro também é importante para pais e filhos. “Os pais têm o sagrado dever de criar os filhos com amor e retidão”,5 e isso inclui ensinar os filhos sobre finanças. O Élder Joseph B. Wirthlin ensinou:
Muitíssimos de nossos jovens acabam em dificuldades financeiras por nunca terem aprendido em casa bons princípios financeiros. Ensinem seus filhos enquanto eles ainda forem pequenos.6
Há muitas maneiras pelas quais os pais podem ensinar os filhos sobre dinheiro. Uma prática que nossa família adotou foi criar um banco familiar.7 Até se formarem no ensino médio, nossos filhos podem investir seu dinheiro no banco familiar e também pegar dinheiro emprestado dele. O dinheiro investido rende juros de 10% ao mês, compostos mensalmente. Nossa! Isso é um bom negócio. O dinheiro emprestado custa 10% de juros, compostos mensalmente. Esse arranjo ensina rapidamente aos nossos filhos que a decisão inteligente é poupar e ganhar juros e que a decisão tola é pegar emprestado e pagar juros.
Embora o dinheiro seja importante, devemos ver seu propósito com uma perspectiva eterna. O dinheiro deve ser um meio de servir nossa família e nosso Deus. Quando consagrado a esse propósito, ele é de grande valor. Entretanto, quando o dinheiro se torna um fim em si mesmo, ele nos desvia de nossos propósitos eternos. Quando concentramos uma parte muito grande de nosso tempo, talentos e energia em ganhar dinheiro, nós pecamos. O apóstolo Paulo ensinou que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males.”8
Vocês já viram como o dinheiro é importante. Agora vamos dar uma olhada em como viver com alegria dentro de seu orçamento. Precisamos construir nossa casa financeira sobre a rocha do evangelho de Jesus Cristo. Felizmente, nossos profetas, videntes e reveladores – os representantes de Cristo na Terra – nos deram orientações financeiras claras.9 Extraí cinco princípios distintos de suas mensagens ao longo dos anos:
1. Criem, usem e atualizem um orçamento familiar
2. Minimizem e, com o tempo, eliminem as dívidas
3. Invistam cedo, de forma consistente e inteligente, para criar uma reserva financeira
4. Não façam coisas insensatas com seu dinheiro!
5. Sejam generosos e compartilhem seus recursos com os outros
Em uma mensagem recente da Primeira Presidência, o Presidente Thomas S. Monson ensinou essas práticas de forma sucinta:
Incentivamos a todos [a examinarem] sua situação financeira. Exortamos vocês a serem (…) controlados ao fazerem compras a fim de evitarem dívidas. Paguem as dívidas o mais rápido possível e livrem-se desse cativeiro. Economizem algum dinheiro regularmente para que, gradualmente, tenham uma reserva financeira.10
O Presidente Monson nos alertou sobre a seguinte ironia:
Um número muito maior de pessoas conseguiria sobrepujar as dificuldades de sua vida financeira se tivesse um estoque de alimentos e de roupas e nenhuma dívida. Constatamos que muitos seguiram esse conselho ao contrário: têm um estoque de dívidas e nenhum alimento.11
Vamos examinar mais de perto essas cinco práticas que podem ajudá-los a viver com alegria dentro de seu orçamento.
O Élder Robert D. Hales ensinou: “[Uma] importante maneira de ajudar nossos filhos a aprenderem a ser provedores prudentes é elaborando um orçamento familiar. Precisamos examinar regularmente nossos ‘rendimentos, economias e gastos’ em reuniões de conselho de família.”12
Um orçamento é simplesmente um plano de como vocês gastarão o dinheiro que está disponível. Todos, inclusive vocês, deveriam ter um orçamento. Para criar um orçamento, vocês determinam sua renda disponível e a distribuem em diferentes categorias de despesas. Então, vocês acompanham seus gastos reais em relação ao seu orçamento. Um orçamento é um documento vivo que é modificado de acordo com as condições. Sugiro que todo orçamento destine pelo menos 10% para dízimos e ofertas, e a maioria dos orçamentos deveria destinar pelo menos 10% para poupança de longo prazo. Vocês podem encontrar exemplos de orçamentos em vários sites da Internet, como o excelente site da Marriott School, personalfinance.byu.edu,13 e lds.org,14 bem como em muitos aplicativos financeiros. Na minha opinião, a categoria de orçamento mais negligenciada é a de “diversos”. Sempre surgem despesas inesperadas que não se encaixam perfeitamente em suas categorias orçamentárias: talvez um grande conserto de carro ou, que os céus não permitam, um tratamento de canal – ou ainda, aqui na BYU, talvez um anel de noivado.
Nos relacionamentos conjugais, tanto o marido quanto a mulher devem ter voz ativa na criação do orçamento. Em muitos casamentos, um dos cônjuges é poupador e o outro é gastador. Vocês podem se perguntar qual é o seu caso. Ambos desempenham um papel importante no casamento. No início do casamento, é uma grande bênção quando o poupador consegue ajudar o gastador a se manter dentro do orçamento.
O Élder Robert D. Hales ilustrou esse ponto de forma significativa com a seguinte história:
Éramos recém-casados e tínhamos bem pouco dinheiro… [Vi] um bonito vestido na vitrine de uma loja e sugeri a minha esposa que, se ela gostasse, eu o compraria. Mary entrou no provador da loja. Depois de algum tempo, a balconista saiu, passou por mim e recolocou o vestido na vitrine. Ao sairmos da loja, perguntei-lhe: “O que aconteceu?” Ela respondeu: “Era um bonito vestido, mas nós não temos condições de comprá-lo!” Aquelas palavras foram direto ao meu coração.
O Élder Hales terminou a história dizendo, “Aprendi que as três palavras mais amáveis são “Eu te amo”, e as quatro palavras mais atenciosas para aqueles a quem amamos são ‘Nós não temos condições’”.15
O gastador também pode desempenhar um papel importante no casamento. Se, após um período de tempo, a família estiver bem financeiramente, o gastador pode assumir a liderança no orçamento de algumas despesas especiais que fortaleceriam o relacionamento: talvez uma segunda lua de mel ou umas boas férias em família.
Convido cada um de vocês a criar, usar e atualizar algum tipo de orçamento pelo resto de suas vidas.
O Presidente Monson recentemente citou o Presidente J. Reuben Clark Jr. quando disse:
Quando você faz uma dívida, o juro é seu companheiro a cada minuto do dia e da noite; você não pode fugir nem escapar dele… e sempre que você ficar em seu caminho, cruzar a frente dele, ou deixar de cumprir suas exigências, ele o esmaga”.16
Então, qualquer dívida é legítima? O conselho dos líderes da Igreja sobre dívidas foi resumido pelo Élder Robert D. Hales: “Algumas dívidas, como a feita para pagar os estudos, a compra de uma casa modesta ou um carro básico podem ser necessárias a uma família.”17
Devo acrescentar que a dívida necessária para estudar na BYU geralmente compensa muito bem. Um estudo recente revelou que o custo da educação na BYU teve o maior retorno sobre o investimento do que qualquer outra universidade em Utah.18 Vai, Cougars! [Nota da tradutora: apelido dado aos times esportivos da BYU.]
Gostaria de falar sobre o que acredito ser o maior erro financeiro cometido pelos recém-formados da BYU: comprar uma casa que está além de sua capacidade financeira. Há uma razão para esse problema. Quando você solicita um empréstimo hipotecário, é perguntado sobre suas dívidas. O dízimo representa uma dívida no valor de 10% de sua renda, reduzindo o valor que você pode pagar pela casa. Tratem 10% de sua renda como uma dívida ao considerar quanto vocês realmente podem pagar por uma casa.
Se você já possui dívidas, a chave é incluir uma categoria de “pagamento de dívidas” em seu orçamento. O dinheiro destinado a essa categoria deve ser aplicado como um pagamento extra todo mês à dívida com a taxa de juros mais alta até que ela seja eliminada. Novamente, o site personalfinance.byu.edu tem excelentes conselhos sobre esse assunto.
O conselho profético é claro, mas às vezes as tentações são muito desafiadoras, mesmo depois de estar livre de dívidas por anos. Gostaria de confessar e compartilhar outra experiência pessoal.
Tammy e eu nos comprometemos a seguir o profeta e a viver sem dívidas e dentro de nosso orçamento. Não temos uma hipoteca ou qualquer outra dívida. Pagamos o carro todo mês, mas, em vez de pagar a uma concessionária, fazemos um depósito em uma conta poupança específica para nosso carro. Há pouco tempo, pegamos cerca de quatro anos de poupança e fomos comprar um carro novo. Gostamos muito de um Toyota modelo básico, que se encaixava perfeitamente em nosso orçamento. Achávamos que estávamos prontos para comprar, mas então o vendedor nos mostrou um modelo mais sofisticado. Ele era muito mais bonito, mas custava um pouco mais do que havíamos economizado. Mas então, e essa foi a tentação, fomos levados a um modelo top de linha – uma verdadeira máquina dos sonhos.
Nunca fui apaixonado por carros, mas dirigir aquele veículo foi uma experiência transcendental; era tão suave e potente. Eu o queria! Eu realmente o queria, e a Tammy também. Só tínhamos um problema: o carro custava muito mais do que tínhamos em nossa poupança. O vendedor nos mostrou com entusiasmo que, com nosso alto valor de entrada, nosso pagamento mensal do carro seria uma mixaria – muito acessível! O que haveria de errado com um pouco de dívida se pudéssemos conseguir o que queríamos agora? Não seríamos irresponsáveis. Ficamos muito tentados!
Felizmente, Tammy e eu não tomamos essa decisão financeira tão importante naquela hora. Sempre conversamos sobre o assunto, oramos, dormimos e então tomamos a decisão final quando estamos renovados e, esperamos, mais inspirados. Assim, voltamos para casa e tentamos nos convencer a fazer essa breve aventura em direção às dívidas. Mas, por fim, não nos sentimos bem com isso, então decidimos esperar.
Quando contei essa história para minha turma de finanças familiares na BYU, um aluno perguntou: “Dr. Hill, por que você simplesmente não compra uma versão usada do carro que quer? É melhor, financeiramente falando.” Ele estava certo. É mais econômico comprar um carro usado e com baixa quilometragem do que comprar um carro novo.
Fiquei animado. Logo após a aula, pesquisei no Carfax.com e encontrei um belo carro com baixa quilometragem em Rexburg, Idaho, que cabia no nosso orçamento. Meu pai mora em Rexburg, então pedi a ele que fizesse um test drive. Ele ligou de volta e disse que era o melhor carro que já havia dirigido e que, se eu não comprasse, ele compraria! Comprei o carro na hora, por telefone, com a condição de que minha esposa o aprovasse – embora eu soubesse que ela o faria.
Nosso aniversário de casamento estava chegando, então decidi fazer uma surpresa para Tammy. Pedi a ela que me desse vinte e quatro horas para comemorar com uma pequena viagem. Fizemos nossas malas e seguimos para o norte pela rodovia I-15. A Tammy ficava tentando adivinhar para onde estávamos indo e, normalmente, é impossível esconder algo dela. Mas, dessa vez, eu consegui. Eu apenas dizia: “Você terá que esperar para ver onde estamos indo, querida”. Ela não fazia a menor ideia.
Quando nos aproximamos da concessionária de carros, eu disse: “Vamos parar aqui por um minuto”. Entramos no showroom e lá estava nosso lindo carro usado, com aparência de novo, envolto em balões de Feliz Aniversário de Casamento!
A Tammy deu um gritinho de alegria e quase quase ficou sem ar. Alguns segundos depois, recuperou o fôlego e ficou preocupada. Ela protestou: “Mas, Jeff, não temos dinheiro para isso”. Quando ela soube que poderíamos pagar à vista por esse carro usado, ela me abraçou, me deu um beijo e disse que eu era o marido mais inteligente de todos!
Essa é uma experiência da qual sempre me lembrarei. Posso dizer honestamente que quando você é fiel ao compromisso de viver sem dívidas e dentro de seu orçamento, você pode viver com alegria e reivindicar bênçãos.
Na Conferência Geral de Abril de 1999, o Élder Joe J. Christensen disse:
Existem pessoas de renda moderada que, ao longo da vida, conseguem fazê-lo; mas há outras que recebem grandes salários e que não o conseguem. Onde está a diferença? Simplesmente no fato de gastarem menos do que ganham, economizando ao longo da vida e tirando proveito dos juros acumulados.19
Acredita-se que Albert Einstein tenha dito: “Os juros compostos são a oitava maravilha do mundo”. Vamos considerar um exemplo dessa maravilha. Imaginem que há quatro estudantes da BYU com vinte anos de idade, cada um com US$10.000 para investir agora em preparação para suas aposentadorias em 2065. Vamos comparar diferentes opções de investimento, supondo retornos semelhantes aos das últimas décadas.
O primeiro aluno não confia no sistema financeiro e coloca o dinheiro embaixo da cama em um cofre. Em cinquenta anos, ele ainda terá US$10.000.
A segunda aluna coloca seu dinheiro em uma conta poupança, que tem um retorno médio anual de 2,5%. Devido aos juros compostos, o dinheiro dobra a cada vinte e cinco anos. Quando ela se aposentar, terá US$40.000.
O terceiro coloca seu dinheiro em um investimento conservador, baseado em títulos públicos, que tem uma média de retorno anual de aproximadamente 4,5%. Ele dobra a cada quinze anos. Em 2065, os US$10.000 terão se transformado em quase US$100.000.
A quarta coloca seu dinheiro em um fundo do mercado de ações amplamente diversificado, que tem uma média de retorno de cerca de 10%. Ele dobra a cada sete anos e meio. Em cinquenta anos, ele terá duplicado quase sete vezes e os US$10.000 terão se transformado em mais de US$1.000.000!
Esse é o milagre dos juros compostos. Quando você investe consistentemente como a quarta aluna, você tem a tranquilidade de saber que poderá se aposentar no futuro e que, se uma emergência acontecer agora, você tem uma reserva.
Convido meus alunos e convido vocês a começarem a investir agora. Se vocês não têm muito para investir, tudo bem. É possível começar com apenas um dólar por mês, por meio de um débito automático da sua conta corrente, utilizando alguns fundos de investimento que atendem ao pequeno investidor.20
Nesse sentido, é muito importante lembrar que, embora o dinheiro seja importante, ele é simplesmente um meio para fazer algo mais importante. Ter bastante dinheiro quando se aposentar por ter feito investimentos inteligentes não tem significado em si mesmo. O dinheiro só tem valor quando é usado para fazer a obra de Deus com sua família e em outros lugares.
Ao lidar com dinheiro, usem seu bom senso; se parece bom demais para ser verdade, provavelmente não é verdade.
Minha primeira sugestão é evitar a especulação. Especulação é qualquer investimento que promete um retorno maior do que a média de mercado. A maioria deles são fraudes ou empreendimentos de altíssimo risco. Em uma carta da Primeira Presidência, os membros da Igreja foram advertidos sobre “pessoas que [usam] relacionamentos de confiança para promover investimentos de risco ou mesmo fraudulentos e esquemas de negócios”.21
Conheço o caso de uma jovem viúva que investiu parte dos recursos do seguro de vida de seu marido em um amigo próximo com a promessa de uma alta taxa de juros garantida. Embora o investimento tenha sido pago por vários anos, um dia os cheques pararam de chegar. Logo depois, a empresa entrou com pedido de falência e a viúva perdeu muitas dezenas de milhares de dólares. Ela se sentiu traída pelo fato de os fundos sagrados que seu falecido marido havia fornecido terem sido perdidos dessa forma.
É importante entender que a única maneira de se obter retornos acima da média de mercado é assumindo riscos também acima da média. Isso significa que se vocês colocarem dinheiro em investimentos que prometem grandes retornos – esquemas de enriquecimento rápido – têm grandes chances de perderem muito também. É muito melhor adotar a abordagem de enriquecimento lento e investir sabiamente a longo prazo.
Minha próxima sugestão é evitar empréstimos que usam o imóvel como garantia de pagamento. Quando o valor do imóvel cai, esse tipo de empréstimo pode deixá-los de cabeça para baixo em sua casa. Isso não significa que vocês ficarão literalmente de ponta-cabeça em sua sala de estar, mas sim que não poderão vender o imóvel pelo valor suficiente para quitar a dívida. Quando isso acontece, vocês se tornam prisioneiros em sua própria casa porque não podem vendê-la. Pior ainda, muitas pessoas nessa situação acabaram perdendo suas casas porque não puderam arcar com os pagamentos quando surgiram dificuldades financeiras. Tenham muito cuidado ao considerar um empréstimo que use o imóvel como garantia.
Outra sugestão é evitar compras por impulso. Recomendo que vocês adotem a política de nunca fazer uma compra importante por impulso. Vão para casa, jantem, conversem sobre o assunto com seu cônjuge ou outra pessoa em quem confiem, orem sobre a decisão e decidam mais tarde se farão ou não a compra. Lembrem-se deste conselho: não façam compras importantes quando estiverem com fome, com raiva, solitários ou cansados.
O profeta Jacó ofereceu um conselho excelente sobre riquezas e como elas devem ser usadas:
Mas antes de buscardes riquezas, buscai o reino de Deus.
E depois de haverdes obtido uma esperança em Cristo, conseguireis riquezas, se as procurardes; e procurá-las-eis com o fito de praticar o bem.22
Temos uma responsabilidade especial de abençoar os pobres com nossos recursos. O Élder Jeffrey R. Holland ensinou eloquentemente que devemos “fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para libertar todos os que pudermos da pobreza que os mantém cativos e que destrói tantos de seus muitos sonhos”.23 Contribuições para a Igreja além do dízimo podem ser úteis. O Élder Holland também disse: “Sejam tão generosos quanto possível em suas ofertas de jejum e outras contribuições humanitárias, educacionais e missionárias.”24 Há também muitas maneiras de usar seus recursos em doações anônimas e ocasionais.
Eis um exemplo: Tammy me ensinou a ser mais generoso quando saímos para comer. Ela foi garçonete quando era mais jovem, portanto, sabe muito bem o quanto os atendentes trabalham para conseguir pagar as contas. Ela me incentivou a deixar de ser pão-duro e a ser mais generoso na hora de dar gorjetas. Tenho que lhes dizer que é uma sensação muito boa dar uma gorjeta inesperadamente grande. Valorizo o espírito generoso da Tammy.
Eu os convido a serem atenciosos e a orar ao encontrarem maneiras de serem generosos e compartilharem seus recursos com outras pessoas. Prometo que sentirão alegria ao fazê-lo.
Deixem-me concluir com uma citação e com meu testemunho. O Élder Robert D. Hales ensinou:
É necessário exercitar os princípios do viver previdente: viver com alegria dentro de nossas posses — contentar-nos com o que temos, evitar o excesso de dívidas e economizar diligentemente, preparando-nos para as emergências dos “dias de chuva”.25
Eu tenho testemunho de que quando compreendemos que o dinheiro importa, e quando dedicamos tempo para criar orçamentos, eliminar dívidas, investir sabiamente, tomar decisões financeiras sábias e compartilhar nossos recursos, receberemos tanto bênçãos materiais quanto espirituais. Testifico que precisamos construir nossas “casas financeiras” sobre a rocha do Evangelho de Jesus Cristo. Se o fizermos, quando as chuvas da recessão descerem, as enchentes de demissões chegarem, e os ventos das altas taxas de juro soprarem e combaterem nossas casas, estas não cairão, pois estarão edificadas sobre a rocha de Cristo.26 Eu os convido a viver com alegria dentro de seu orçamento pelo o resto de suas vidas, para que, no Dia do Julgamento, vocês possam prestar contas de forma honrosa sobre sua mordomia financeira aqui na Terra.
Em nome de Jesus Cristo, amém.
Notas
1. Adaptações dessa história humorística e fictícia foram usadas por vários oradores e escritores em muitos contextos; ver N. Eldon Tanner, “Constância em Meio a Mudanças”, A Liahona, março de 1980.
2. Ver Clinton G. Gudmunson, Ivan F. Beutler, Craig L. Israelsen, J. Kelly McCoy e E. Jeffrey Hill, “Linking Financial Strain to Marital Instability: Examining the Roles of Emotional Distress and Marital Interaction [Ligando a tensão financeira à instabilidade conjugal: examinando os papéis da angústia emocional e da interação conjugal]”, Journal of Family and Economic Issues 28, no. 3 (setembro de 2007): 357-76.
3. Consulte Jeffrey Dew, Sonya Britt e Sandra Huston, “Examining the Relationship Between Financial Issues and Divorce [Examinando a relação entre questões financeiras e divórcio]”, Family Relations 61, no. 4 (outubro de 2012): 615-28.
4. Bernard E. Poduska, Till Debt Do Us Part: Balancing Finances, Feelings, and Family [Até que a dívida nos separe: equilíbrio entre finanças, sentimentos e família] (Salt Lake City: Shadow Mountain, 2000), ix; ênfase no original.
5. “A Família: Proclamação ao Mundo”, A Liahona, junho de 1996.
6. Joseph B. Wirthlin, “Dívidas Terrenas, Dívidas Celestiais”, A Liahona, abril de 2004.
7. Ver Linda Eyre e Richard Eyre, Three Steps to a Strong Family [Três Passos para uma Família Forte] (Nova York: Simon and Schuster, 1994), pp. 105-10.
8. 1 Timóteo 6:10; ênfase adicionada.
9. As referências a seguir são excelentes para uma perspectiva do evangelho sobre as finanças da família:
Tanner, “Constância em Meio a Mudanças”, A Liahona, março de 1980.
Marvin J. Ashton, “A Respeito de Dinheiro”, abril de 1975.
Robert D. Hales, “Tornar-se Provedores Prudentes Temporal e Espiritualmente”, A Liahona, maio de 2009.
Joseph B. Wirthlin, “Dívidas Terrenas, Dívidas Celestiais”, A Liahona, abril de 2004.
“Princípios de Segurança Financeira”, capítulo 13 de Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Heber J. Grant (Salt Lake City: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 2002).
Dieter F. Uchtdorf, “Prover à Maneira do Senhor”, A Liahona, novembro de 2011.
L. Tom Perry, “Se Estiverdes Preparados, Não Temereis”, A Liahona, janeiro de 1996.
Ezra Taft Benson, “Preparai-vos para os Dias de Tribulação”, A Liahona, março de 1981.
J. Reuben Clark Jr., CR, abril de 1938, pp. 102-109.
Joe J. Christensen, “Ganância, Egoísmo e Indulgência Excessiva”, A Liahona, julho de 1999.
Franklin D. Richards, “Preparação Financeira Pessoal e Familiar”, A Liahona, outubro de 1979.
10. Preparar Todas as Coisas Necessárias: Finanças da Família (Salt Lake City: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 2007), p. 1; citado em Thomas S. Monson, “Mensagem da Primeira Presidência: Estamos Preparados?” A Liahona, setembro de 2014.
11. Monson, “Estamos Preparados?”
12. Hales, “Tornar-se Provedores Prudentes Temporal e Espiritualmente”.
13. Os modelos de plano financeiro pessoal estão entre as ferramentas de aprendizado listadas na guia “Resources” (Recursos).
14. Ver “Finanças da Família”; ver também Preparar Todas as Coisas Necessárias: Finanças da Família, p. 4.
15. Hales, “Tornar-se Provedores Prudentes Temporal e Espiritualmente”; ênfase no original.
16. Clark, CR, p. 103; citado em Thomas S. Monson, “Verdades Constantes numa Época de Mudanças”, A Liahona, maio de 2005.
17. Hales, “Tornar-se Provedores Prudentes Temporal e Espiritualmente”.
18. Ver Emma Penrod, “BYU Offers Highest Return in Educational Investment in the State of Utah, Rankings Say”, Deseret News, 8 de maio de 2013.
19. Christensen, “Ganância, Egoísmo e Indulgência Excessiva”.
20. Veja o exemplo da Homestead Funds (homesteadfunds.com). Isto não implica em um endosso de seus serviços.
21. Carta da Primeira Presidência, 27 de fevereiro de 2008; citada em Ben Winslow, “Leaders Warn LDS Against Money Scams”, Deseret News, 13 de março de 2008. Ver também “Proteger as Finanças da Família Evitando Fraudes” e “Fraude por Afinidade.”
22. Jacó 2:18-19.
23. Jeffrey R. Holland, “Não Somos Todos Mendigos?”, A Liahona, novembro de 2014.
24. Holland, “Não Somos Todos Mendigos?”
25. Hales, “Tornar-se Provedores Prudentes Temporal e Espiritualmente”; grifo do autor.
26. Ver Mateus 7:25.
E. Jeffrey Hill era professor da Escola de Vida Familiar da BYU quando proferiu este discurso no devocional do dia 9 de junho de 2015.