Perseverar e confiar até o fim
dos Serviços Multiculturais Estudantis da BYU
22 de setembro de 2020
dos Serviços Multiculturais Estudantis da BYU
22 de setembro de 2020
É possível alcançar suas metas se vocês trabalharem duro, mantiverem a perspectiva correta e usarem seus desafios como oportunidades de crescimento e desenvolvimento.
Sinto-me grata pela oportunidade única de passar um tempo com vocês hoje. Tenho orado por orientação divina para poder compartilhar com vocês algo que, espero, os inspire a manter sua atenção no que mais importa durante tempos difíceis: perseverar até o fim e confiar no plano do Senhor para cada um de vocês.
O profeta Isaías sabia o quão crucial é, em nossas vidas, confiar no plano do Senhor para cada um de nós. Ele disse:
Mas os que esperam no Senhor renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não desfalecerão.1
Certamente, o Senhor tem dado a mim e à minha família a força para “[correr], e não se [cansar]; [caminhar], e não [desfalecer]”. Temos a nossa cota de adversidades, mas também temos visto a promessa de Isaías cumprir-se em tudo o que vivemos. Eu sei que, se formos humildes e esperarmos no Senhor, Ele caminhará conosco quando as coisas correrem bem e nos sustentará quando as coisas parecerem dolorosas demais para suportar, difíceis demais para realizar, ou sombrias demais para atravessar. Eu tenho visto a mão do Senhor guiar a minha família durante todas as etapas de nossa vida. Ele estava presente durante minha experiência com a pobreza quando criança. Ele estava presente em nossos dias de peregrinação como refugiados de guerra. Ele esteve presente quando nossas perdas foram tão profundas, tão dolorosas, que era difícil ver a luz. Mas a Sua luz tem sido constante em nossas vidas.
Eu cresci em algumas das áreas mais pobres da Guatemala. Minha casa era de adobe, construída em colonia La Florida. Nós não tínhamos conforto material, mas éramos abençoados com abundância divina de várias outras maneiras. Eu tinha o privilégio de pertencer a uma família com pais e irmãos amorosos e que se preocupavam. Tive uma infância feliz, e não sabia o quão pobres nós éramos até ter começado o ensino médio e finalmente ter visto o mundo além de La Florida, onde cresci.
Faço parte da primeira geração de universitários em minha família. Meus pais eram fazendeiros e nunca tiveram a oportunidade de receber uma educação formal. No entanto, fui abençoada com uma mãe que tinha um desejo tenaz de que seus filhos recebessem educação. Também fui abençoada com um pai bondoso que, usando as palavras do Senhor no Velho Testamento, sempre me encorajou a ser “forte e [corajosa]”.2
Meu irmão mais velho foi o primeiro a se converter à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias na nossa família. Ele era um bom missionário, e apesar de viver longe de nós, ano após ano ele enviava os missionários para baterem em nossa porta. Nós éramos católicos, e minha mãe não estava interessada em ouvir os missionários. Finalmente, minha irmã mais velha decidiu convidar os missionários a entrar, o que por fim levou ao batismo da minha mãe, das minhas irmãs e meu. O meu pai se batizou alguns anos mais tarde. Muitos milagres aconteceram após a nossa conversão. O evangelho nos trouxe uma nova esperança e o conhecimento de que Deus tem um plano para cada um de nós. Nossas vidas foram preenchidas com a alegria de conhecer nossa herança divina e de compreender o propósito de nossa existência aqui na Terra.
Antes de nossa conversão ao evangelho, meus pais se mudaram para a cidade em busca de melhores oportunidades para nós. Na Guatemala, naqueles anos, as crianças não tinham um lugar garantido na escola. No início de cada ano letivo, minha mãe levantava-se por volta das três da manhã para nos matricular na única escola de ensino fundamental em La Florida. Com o exemplo de minha mãe, aprendi desde cedo que a educação era importante, e que eu queria ser professora um dia. Em meio às nossas limitações materiais, consegui concluir o ensino médio com um certificado profissionalizante para lecionar no ensino fundamental.
Eu queria ir para a faculdade, mas não tinha os 45 dólares necessários naquela época para me inscrever. Quando terminei o ensino médio, minha irmã mais velha, que vivia em Illinois, me enviou $60 para comprar um anel de formatura. Usei o dinheiro para me inscrever na Universidade de San Carlos da Guatemala, na Faculdade de Engenharia Química. Eu tinha poucos recursos, mas muitos sonhos que queria realizar. Lembrando-me das palavras que meu pai sempre me dizia para ser “forte e [corajosa]”, pisei pela primeira vez em um campus universitário, assustada e confusa, mas também cheia de esperança.
Em 1975, conheci meu marido, Israel, e logo me apaixonei por ele. Israel e eu nos casamos no ano seguinte. Planejamos nos casar no templo, mas não tínhamos um templo na Guatemala, então dirigimos por quatro dias para sermos selados no Templo de Mesa, Arizona. Quando finalmente chegamos, nos sentimos gratos por entrarmos na casa do Senhor pela primeira vez. Nossa vida ficou repleta de alegria. Fazer convênios sagrados com o Senhor nos deu uma nova perspectiva sobre o que Ele esperava de nós.
Os anos 70 foram difíceis na Guatemala. Passamos pelo devastador terremoto de 76, que destruiu muitos pueblos nas áreas rurais e nas regiões mais pobres das cidades. Minha casa de adobe ficou totalmente destruída. Além dos desastres naturais, a opressão governamental estava em todo lugar. Era difícil testemunhar a violência social e política contra os pobres, estudantes, trabalhadores e outras boas pessoas e sentir-se completamente impotente para fazer algo a respeito. Meu marido, Israel, orou e jejuou para saber o que fazer. Ele se sentiu inspirado a participar do movimento de defesa dos direitos dos trabalhadores, que na época recebiam apenas 52 centavos por dia e trabalhavam em condições desumanas.
Em um país com tanta violência política e social, o envolvimento de meu marido teve um custo elevado para a nossa jovem família. Nós estávamos vivendo sob um governo autoritário que interpretava qualquer forma de divergência do status quo social, econômico e político como uma conspiração aberta contra o regime. Logo, começaram a surgir ameaças anônimas contra a vida do meu marido. Por duas vezes, as forças do governo tentaram sequestrá-lo. Foi uma época em que as pessoas que discordavam das políticas do governo eram sequestradas na escuridão e levadas a lugares desconhecidos, e então, dias depois, seus corpos apareciam com sinais de tortura. Era perigoso manifestar-se contra as crueldades que aconteciam por toda a parte na Guatemala.
Berta, nossa primeira filha, nasceu em 1978. Ela foi uma bênção muito esperada por nós. Ela veio ao mundo em tempos de opressão, medo e violência. Quando Berta tinha apenas seis semanas de vida, meu marido foi alvo da primeira de duas tentativas de assassinato por parte do governo guatemalteco, essa em frente à nossa casa. Quando mais velha, Berta escreveu de forma eloquente sobre o impacto da guerra nas crianças que vivem sob medo constante. Ela era uma de tais crianças. Ela escreveu:
Me sinto mal por cada criança no ventre que, posteriormente, passa pela infância sob as sombras da guerra, da violência, da ganância e do imperialismo. Eu sei que cada criança vivendo agora sob o reino do terror, guerra, abuso e trauma vai levar consigo um grande peso por toda a vida. Guerra, TEPT [transtorno de estresse pós traumático], exílio – todas essas coisas deixam marcas profundas.
Na segunda tentativa de assassinato, uma pessoa inocente morreu quando os assassinos do governo tentaram matar meu marido. Após essa tentativa, nós sabíamos que seria impossível continuar vivendo na Guatemala em tais condições. Enquanto o governo tentava reprimir a inquietação social do povo, vários líderes do movimento desapareceram, foram presos ou assassinados. Muitos de nossos queridos amigos tiveram esse destino. Três bispos da igreja foram mortos durante aqueles anos terríveis. Todos tinham famílias e eram seguidores de Jesus Cristo. Por que eles não sobreviveram? Muitas vezes nos perguntamos por que fomos poupados do destino infeliz que nossos bons amigos tiveram. O que o Senhor queria que aprendêssemos com aquelas experiências tão difíceis?
Ter fé no plano do Senhor para nós foi crucial enquanto tentávamos descobrir qual era a Sua vontade para nós. Eu, meu marido e nossa filha, Berta, fomos forçados a buscar refúgio em uma das embaixadas estrangeiras na Guatemala. Após um mês de negociações entre o governo e a embaixada, fomos autorizados a sair do país sob proteção diplomática. Esse foi o início de nossa vida como refugiados em uma terra estranha, longe do apoio de nossas famílias e amigos.
Ao longo de todas as nossas experiências, uma coisa permanceu constante: nossa fé no Pai Celestial e no Senhor Jesus Cristo, assim como nosso compromisso de sermos Seus discípulos e recordarmos os convênios que fizemos com Ele. Ele teve misericórdia das nossas imperfeições e caminhou ao nosso lado, especialmente quando sentíamos que estávamos perdendo nossas forças. Na sessão das mulheres da conferência geral de setembro de 2014, o Presidente Dieter F. Uchtdorf disse:
Trilhar o caminho do discipulado não precisa ser uma experiência amarga. (…) O discipulado eleva-nos o espírito e alegra-nos o coração. Inspira-nos com fé, esperança e caridade. Enche nosso espírito de luz nos momentos de escuridão e de serenidade nos momentos de tristeza.3
O Senhor elevou nosso espírito conforme tentávamos viver como Seus discípulos em meio às nossas circunstâncias. Ele encheu nossa vida de esperança e de preciosos momentos de alegria para que pudéssemos continuar seguindo com fé. As bênçãos que vieram do apoio da comunidade da Igreja foram constantes em nossa vida. Para onde quer que fôssemos, encontrávamos boas pessoas que nos ofereciam seu amor, abriam suas portas para nós e nos proporcionavam espaços seguros.
No devocional do dia 10 de dezembro de 2019, a irmã Jean B. Bingham, presidente geral da Sociedade de Socorro, falou-nos sobre a importância de mantermos uma perspectiva eterna. Ela disse:
O ponto de vista que torna todas as coisas claras é uma perspectiva eterna: a perspectiva perfeita e ampla de nosso Pai Celestial. Com Sua capacidade de ver, conhecer e entender todas as coisas do passado, do presente e do futuro de uma forma mais elevada, ampla e profunda do que nós, Sua perspectiva é completa.4
Nosso tempo como refugiados foi um tempo no qual era mais importante do que nunca manter uma perspectiva eterna em nossas vidas, mas preciso dizer que manter uma perspectiva divina em meio às tribulações nem sempre é fácil. Certamente não foi fácil para nós. Por seis anos, vagamos da Guatemala para a Costa Rica, e da Costa Rica para o México, à procura de um lugar onde pudéssemos viver em paz e criar a nossa família. Ter o evangelho em nossa vida nos deu direção, entendimento e conforto. A mão do Senhor nos guiou enquanto tentávamos criar um futuro para nossa família. Quando as coisas ficavam difíceis, eu relembrava a promessa de Isaías de que o Senhor nos fortaleceria para que pudéssemos continuar caminhando, sem desfalecer.
O Senhor nos fortaleceu quando estávamos tentando descobrir onde nos estabelecer. Já tínhamos família aqui e fazia sentido que vir para os Estados Unidos seria uma boa opção para nós. No entanto, resistimos à ideia. Confiávamos em nossos planos, sem saber que o Senhor tinha um plano melhor para nós. Permanecemos na Costa Rica por alguns anos, e então decidimos nos estabelecer na Cidade do México. Porém, novamente, o Senhor tinha outros planos para nós.
Em 1985, um terremoto devastador destruiu boa parte da Cidade do México. Muitas pessoas ficaram presas sob prédios que desabaram e milhares perderam a vida. Nós tivemos a sorte de sair dessa tragédia apenas com perdas materiais. Mais uma vez, o Senhor poupou nossas vidas. Muitas coisas mudaram depois daquele terremoto, e não foi fácil continuar vivendo na Cidade do México. Naquela altura, tínhamos quatro filhos com menos de oito anos. Isso nos levou a tomar a decisão crucial de nos mudarmos para os Estados Unidos. Essa era uma outra oportunidade para crescer, e nos aventuramos novamente rumo ao desconhecido.
Chegamos na Califórnia, onde poderíamos ficar mais perto de nossa família. Nenhum de nós falava o idioma, conhecia a cultura ou compreendia o ambiente, mas acredito que o Senhor, com Sua perspectiva completa, enxergava o que não podíamos ver na época.
Por meio dessas experiências, aprendemos que nosso sucesso e nossa felicidade dependem de como reagimos à adversidade que enfrentamos na vida e não da adversidade em si. Alguns de vocês podem estar enfrentando desafios neste momento enquanto aprendem a conviver com a realidade de nosso “novo normal”. Talvez estejam lutando contra a incerteza, problemas de saúde, fardos financeiros ou dificuldades pessoais ou familiares. Quero que saibam que não estão sozinhos nesta jornada. Deus tem um plano para cada um de vocês. Ele os conhece e sabe do que precisam. Seus braços estão prontos para envolvê-los e carregá-los durante os momentos difíceis.
Nos vários anos em que trabalhei como orientadora para estudantes multiculturais, tive o privilégio de conhecer as histórias de estudantes que estão no meio de desafios imensos, mas que mantêm sua perspectiva eterna e permanecem firmes no que sabem sobre sua herança divina. Sinto-me abençoada pela oportunidade de acompanhar esses alunos, de fazer parte de sua jornada – mesmo que por pouco tempo – e de aprender com sua incrível resiliência. Lembrem-se de que Deus tem um plano divino para cada um de vocês.
Deus já tinha um plano para mim e minha família quando finalmente decidimos imigrar para cá. Tínhamos sobrepujado muitas coisas em nossa vida, então, nos adaptar à nossa nova vida não parecia ser mais difícil do que sobreviver a uma guerra na Guatemala ou a dois trágicos terremotos, mas, ainda assim, a transição foi desafiadora. Não sabíamos que levaria tantos anos para que nosso status migratório aqui nos Estados Unidos fosse ajustado, o que trouxe grandes limitações à nossa capacidade de crescer aqui. Eu já tinha algum nível de educação universitária, mas isso não importava, porque eu não falava a língua e meu status migratório estava no limbo. Com o apoio de meu querido marido, voltei à escola para aprender inglês. Aprender o idioma foi crucial mas muito desafiador para mim. Até hoje, ainda estou aprendendo o idioma e, como podem ver, nunca perdi meu sotaque.
Conforme meu inglês foi melhorando, as oportunidades de emprego também melhoraram. Consegui um emprego de meio período como assistente de professora em um distrito escolar local na Califórnia. Não oferecia muito em termos de salário, mas me motivou a continuar investindo na minha educação. Assim que me senti mais confortável com o idioma, ousei fazer algumas aulas na faculdade. Eu e a minha filha Berta estudamos no Faculdade Comunitária Mt. San Jacinto e fizemos uma aula de filosofia juntas. Enquanto eu penava por semanas com um trabalho, Berta, que tinha um dom com palavras e amava escrever, fazia o dela de última hora. Nós duas tirávamos a nota máxima, e eu achava isso injusto! Sem dúvida, Berta era mais esperta do que eu.
Não foi fácil trabalhar por meio período, cuidar de minha família e ir estudar ao mesmo tempo, mas eu ousava sonhar, e hoje estou aqui para lhes dizer que com Deus a seu lado, nada é impossível. É possível alcançar suas metas se vocês trabalharem duro, mantiverem a perspectiva correta e usarem seus desafios como oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Descubram qual é o plano do Senhor para vocês e, então, ousem andar pela fé, sabendo que Ele os está guiando pelo caminho.
Como disse antes, viver pela fé não é algo fácil. No início dos anos 90, nossa família não escapou do impacto da recessão. Passamos por sérios problemas financeiros e acabamos perdendo nossa casa. Para melhor sustentar minha família, precisei deixar meu trabalho temporário e passar a trabalhar em período integral. Naquela altura, eu já tinha adquirido um diploma universitário de nível técnico. Normalmente, as pessoas terminam esse curso em dois anos, mas, com minhas responsabilidades familiares, levei quase quatro anos. Porém, quando precisei de um trabalho de tempo integral, foi uma bênção ter aquele diploma. Consegui um trabalho com o Departamento de Serviços Sociais Públicos no Condado de Riverside, na Califórnia. Aquele foi um grande passo para mim de muitas maneiras. E eu sabia que se quisesse crescer naquele departamento, precisaria adquirir mais educação.
Tomei a decisão de voltar a estudar. Nessa altura, eu já tinha sete filhos, uma casa pra cuidar, e um trabalho de tempo integral. Ingressei em um programa de três anos oferecido pela Universidade La Sierra voltado a adultos que trabalham. Eu trabalhava nove horas por dia, e, ao sair do trabalho, ía diretamente para as aulas duas ou três vezes por semana. Foi difícil? Sim, foi muito difícil. Quando chegava em casa, estava exausta, mas ainda tinha uma família para cuidar e lições de casa para fazer. Eu não teria conseguido fazer isso sem o imenso apoio do meu querido marido, que sempre esteve ao meu lado ao longo desta jornada. Eu lhe digo que os meus diplomas também são dele.
Em 2004, me formei com honras na Universidade La Sierra como bacharel em serviço social. Quando terminei a faculdade, fui promovida a uma posição melhor no mesmo departamento em que trabalhava. Na época, três de minhas filhas estavam estudando na BYU.
Agora, deixem-me voltar às minhas humildes origens na Guatemala. Quando eu tinha 15 anos, sonhava em estudar na BYU. Um bom missionário dos Estados Unidos me encorajou a escrever uma carta para a BYU e a expressar meu desejo de estudar na escola no futuro, e eu o fiz. Recebi uma resposta da universidade: estava bem escrita em espanhol, mas pedia que minha próxima carta fosse escrita em inglês. Meu inglês era muito limitado naquela época, por isso nunca mais pensei na BYU. Trinta anos mais tarde, minhas filhas estavam estudando na universidade dos meus sonhos. Pelo menos agora minhas filhas estavam realizando os sonhos delas, e, de certa forma, eu também estava realizando os meus através delas.
Aqueles foram bons anos na Califórnia. Meu coração estava repleto de gratidão pelas muitas bênçãos que nós estávamos recebendo. A vida era boa! Eu tinha um ótimo trabalho, nós vivíamos em um bairro agradável e o negócio do meu marido estava indo bem. O que mais eu poderia pedir? Com o apoio de meus filhos e de meu marido, candidatei-me a programas de mestrado na Universidade Estadual da Califórnia e na BYU. Mas a verdade é que eu não acreditava que a BYU se interessaria por mim. Eu só me candidatei para agradar as minhas filhas, que estavam insistindo que eu e meu marido nos mudássemos para Utah. Pensei: “Utah? De jeito nenhum!” Era um lugar muito frio e muito longe para nós, mas me senti comovida quando recebi uma carta de aceitação da BYU.
Essa foi outra grande mudança em nossas vidas. Ir para a BYU significava deixar para trás tudo o que era familiar na Califórnia. Vocês podem adivinhar o resto da história. Nos mudamos para Utah, e meu sonho de adolescente finalmente se tornou realidade, mas aquele não era o final da história. Era o começo de novas oportunidades e bênçãos. Meu primeiro emprego após concluir o mestrado foi como assistente social para uma escola no Distrito Escolar de Provo. Lá, fui abençoada ao servir muitas famílias cujas crianças estavam tendo diversas dificuldades. Eu entendia bem seus desafios. Em minha infância, havia passado por condições semelhantes.
Aqueles anos como assistente social escolar permitiram algumas das minhas experiências mais memoráveis, tanto pessoal quanto profissionalmente. Acredito que o Senhor age de maneiras misteriosas, e se estivermos dispostos a submeter a nossa vontade à Dele, Ele nos permitirá subir a montanha “com asas como águias”. Meu trabalho no Distrito Escolar de Provo me preparou para trabalhar com alunos multiculturais e de primeira geração aqui na BYU. Tenho sido abençoada por trabalhar com alunos brilhantes que trazem à BYU perspectivas e experiências únicas. Me sinto privilegiada e grata por poder estar ao lado deles, ouvir suas histórias e guiá-los para que possam realizar seus sonhos. Nada me traz mais satisfação do que vê-los não apenas sobreviver, mas prosperar na BYU.
Quando minha memória retorna à casa de adobe da minha infância, vejo minha jornada como uma jornada de esperança. Esta vida é cheia de desafios, mas há uma coisa que eu sei: o Senhor permitiu que eu tivesse aquelas experiências por um motivo, e agora é minha honra e responsabilidade compartilhá-las com vocês, os jovens sonhadores de hoje. É possível tornar a sua jornada uma jornada de esperança e uma jornada de sucesso.
Perguntem ao Senhor qual é o plano Dele para vocês, e conforme estiverem dispostos a submeter a sua vontade à Dele, sejam humildes e tenham fé para deixar a Sua mão guiá-los. Vocês têm o potencial divino de realizar qualquer coisa para a qual estejam dispostos a trabalhar duro. Nosso sucesso e felicidade não dependem das circunstâncias que enfrentamos, mas de como enfrentamos tais circunstâncias. Ao se esforçarem para terem sucesso em suas aulas neste semestre histórico, lembrem-se de que vieram à BYU com um propósito.
Amo as palavras do Presidente Kevin J. Worthen, ditas em um devocional em 2016:
Vocês não estão aqui por acidente. Deus tem um obra a ser realizada através de vocês. Façam Dele o centro de seus esforços. Façam o que Ele gostaria que fizessem. Permitam que Sua luz brilhe mais intensamente através de vocês como resultado de suas experiências na BYU. Se assim fizerem, milagres acontecerão em sua vida e verão a glória do Senhor operando na vida dos outros.5
Oro e espero que internalizem as palavras do Presidente Worthen. Vocês estão aqui porque o Senhor tem um plano para vocês. O Élder Ronald A. Rasband disse, na conferência geral de Outubro de 2017, que “[o] Senhor está nos pequenos detalhes de nossa vida”.6 Acredito firmemente nisso. O Senhor certamente está nos pequenos detalhes de nossa vida. Sei disso por experiência própria. Minha família e eu não saímos da Guatemala por acaso. Havia um propósito para nós. Sou imensamente grata pelos muitos milagres que testemunhamos ao deixarmos a mão do Senhor nos guiar até este lugar.
Às vezes parece que as dificuldades que enfrentamos na vida se acumulam sobre nós, uma após a outra. Me conforta saber que Deus é misericordioso e não nos dá mais do que podemos aguentar. Em 2015, senti-me sobrecarregada quando fui diagnosticada com um aneurisma cerebral quase ao mesmo tempo que um de meus filhos foi diagnosticado com uma doença crônica debilitante. Naqueles momentos, quando estava prestes a pedir ao Senhor por uma trégua, Ele me mostrou Seu perfeito amor ao dar-me força para seguir em frente com fé. O aneurisma foi resolvido cirurgicamente, e gosto de brincar que recebi um cérebro novo. Deus é bom!
A poda de nossa fé não parou por aí. Quando nossa filha Berta nasceu, nos sentimos muito gratos por finalmente ter um bebê após duas gestações sem sucesso. Logo compreendemos que o Pai Celestial tinha nos enviado um espírito muito especial. Como a filha mais velha, ela era a pacificadora e a líder. Berta era mestre em inventar as piadas mais bobas da família e adorava imitar meu sotaque, o que nos proporcionava muita diversão. Ela adorava escrever e criar arte, mas, acima de tudo, tinha um coração compassivo. Berta estava sempre procurando oportunidades para servir e cuidar daqueles que, com frequência, são marginalizados, esquecidos e negligenciados.
A inteligência de Berta e seu domínio das palavras nunca faltaram. Ela frequentemente usava esse dom em seu incansável trabalho em defesa da comunidade LGBTQ+ dos santos dos últimos dias. Berta amava e procurava seguir o Salvador sendo uma serva humilde para aqueles que precisavam de amor e cuidado. Certa vez, ela me disse que sempre que servia aos outros, sentia que estava partindo o pão com o Salvador. Berta lutava especialmente pelos jovens LGBTQ+ sem-teto, que frequentemente são vítimas de abusadores. Ela trabalhou para encontrar um lugar seguro para eles viverem e para que tivessem acesso a recursos de saúde. Com todo o amor e compaixão que tinha em seu coração, Berta lutava contra a ansiedade generalizada e transtornos depressivos maiores. Em junho de 2018, Berta morreu por suicídio.
Os dias após a morte de Berta foram uns dos mais difíceis de minha vida. Eu me senti “como um vaso quebrado”.7 Às vezes, era difícil respirar ou enxergar a luz, mas a luz do Salvador estava lá, nos confortando e sustentando assim como Ele havia nos sustentado no passado. Muitos anjos, na forma de familiares, queridos amigos e membros da comunidade LGBTQ+ ministraram a nós, até mesmo pessoas que eu nunca tinha conhecido antes. Por mais difícil que o falecimento de Berta tenha sido para nossa família, saber que ela inspirou e tocou tantas vidas tem sido uma experiência de cura para nós.
Encontrei conforto no conselho dado pelo Élder Jeffrey R. Holland, do Quórum dos Doze Apóstolos, na conferência geral de outubro de 2013:
Embora possamos nos sentir como um “vaso quebrado”, segundo o salmista, devemos nos lembrar de que esse vaso está nas mãos do divino oleiro. Mentes despedaçadas podem ser curadas assim como ossos e corações partidos. Enquanto Deus está operando tais reparos, o restante de nós pode ajudar, sendo misericordiosos, bondosos, sem julgamentos.8
Se algum de vocês hoje estiver se sentindo solitário, com medo ou sem esperança, eu os convido a buscar ajuda e jamais considerar uma solução drástica para um desafio temporário. Deus os ama e vocês têm um lugar aqui. Por favor, escolham viver, buscar ajuda e lembrar o quanto vocês são amados por nosso perfeito Redentor, o Senhor Jesus Cristo. No Getsêmani, nosso Salvador sentiu tudo o que todos nós sentimos ou vamos sentir em nossas vidas. Ele conhece a cada um de nós pessoalmente, e Ele compreende as nossas dores.
Esta é a promessa que recebemos nas palavras do profeta Isaías:
Não temas, porque eu estou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço…
Porque eu, o Senhor teu Deus, te tomo pela tua mão direita, e te digo: Não temas, eu te ajudo.9
Oro para que possamos manter nosso compromisso de fortalecer nossa fé em nosso Pai Celestial e em Seu Filho Amado. Oro para que confiemos em Seu plano divino para nós. Deus tem uma perspectiva completa e eterna. Essa certeza me ajuda a seguir com esperança. Por favor, tomem a divina mão do Senhor e deixem-No guiá-los. No sagrado nome de nosso Salvador e Redentor Jesus Cristo, amém.
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Notas

Estela Marquez, conselheira dos Serviços Multiculturais Estudantis da BYU, proferiu este discurso no devocional do dia 22 de setembro de 2020.