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Devocional

“Como eu vos amei”: O amor no namoro e no casamento, baseado no arbítrio

Professor de Estudos sobre Casamento e Família na Universidade Brigham Young

2 de abril de 2019

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A compreensão incorreta do amor — que infelizmente é comum em nossa cultura atual — é responsável por muitas das dificuldades que algumas pessoas e casais enfrentam no namoro, no noivado e no casamento.


Pretendemos modificar a tradução se for necessário. Para dar sugestões, envie um e-mail para: speeches.por@byu.edu

Bom dia, irmãos e irmãs. Por mais de 25 anos, tanto como aluno quanto agora como professor aqui na Universidade Brigham Young, fui pessoalmente abençoado por muitas das mensagens que foram proferidas nestes devocionais. Sinto-me humildemente grato pela oportunidade de me dirigir a vocês hoje.

Quando inicialmente me pediram para discursar em um devocional, me designaram para falar na terça-feira da semana do Dia dos Namorados. Embora eu tenha certeza de que a escolha dessa data foi simplesmente uma questão prática de organizar a agenda, como eu passei a última década ensinando as aulas de preparação para o casamento aqui no campus, senti uma certa pressão para relacionar minha mensagem com o tema do Dia dos Namorados. Além disso, uma de minhas experiências mais memoráveis com um devocional da BYU aconteceu há muitos anos, quando o Élder Jeffrey R. Holland falou na semana do Dia dos Namorados sobre entender a verdadeira natureza do amor nos relacionamentos de namoro e casamento1 — então achei que ele seria um bom exemplo para eu seguir.

No entanto, quando a agenda dos discursantes foi finalizada, pediram que eu mudasse para hoje, na primeira semana de abril. Quando isso aconteceu, perguntei-me se talvez devesse mudar o foco de minha mensagem. Porém, visto que o único feriado a que posso relacionar meu discurso nesta semana é o Dia da Mentira, resolvi manter meu plano original. (Mas, por falar nisso, tenho certeza de que alguns de vocês provavelmente tiveram algumas experiências de namoro que se encaixariam muito bem no tema do Dia da Mentira.)

Ao começar, devo ressaltar que, embora eu pretenda falar sobre como cada um de nós pode seguir mais plenamente o exemplo do Salvador de amor baseado no arbítrio em nossos relacionamentos atuais ou futuros de namoro e casamento, acredito que os princípios que vou abordar também se aplicam a inúmeros outros relacionamentos, por exemplo, entre amigos, pais e filhos e outras relações familiares.

Também quero ressaltar que, embora eu vá compartilhar com vocês algumas percepções de meus estudos como pesquisador de casamento ao longo dos anos, as lições mais transformadoras e verdadeiras que já tive sobre o assunto do amor aprendi com minha querida esposa, Stefani. De fato, o testemunho do casamento que tenho tido o privilégio de compartilhar com os alunos deste campus por quase 20 anos decorre principalmente da beleza do casamento que vivencio com ela todos os dias. Em algumas semanas, Stefani e eu vamos comemorar o trigésimo aniversário de nosso primeiro encontro, e sinto-me grato a cada dia pela bênção que ela é em minha vida. Também sou grato por todos os meus filhos poderem estar aqui hoje, inclusive minha nova nora. Amo muito cada um deles, e minha mensagem hoje é tanto para eles quanto para qualquer outra pessoa (mas é provável que eles só vão revirar os olhos e lhes dizer que já ouviram tudo isso antes).

No meu discurso de hoje, gostaria de abordar três perguntas sobre o amor.

1. Quão importante é o amor?

A primeira pergunta é: Quão importante é o amor? E, especificamente em relação a nossa ênfase hoje, qual é a importância do amor no namoro e no casamento? À primeira vista, essa pergunta parece uma daquelas perguntas das aulas da Escola Dominical que são tão óbvias que ninguém quer responder. Quase todo mundo responde instintivamente a essa pergunta dizendo que é claro que o amor é muito importante para o sucesso dos relacionamentos conjugais. Na verdade, em nossa cultura atual, muitos diriam que o amor é a única razão verdadeira pela qual um casal deve se casar e permanecer unido.

No entanto, embora afirmar a importância do amor no namoro e no casamento pareça óbvio e evidente, tal resposta pressupõe que todos tenhamos um consenso sobre o significado das palavras amor e amar. Em relacionamentos românticos, costumamos dizer que alguém está apaixonado — mas estar apaixonado é o mesmo que amar? O que esses termos significam exatamente?

Parte da complexidade de entender o amor vem do fato de que usamos o termo de uma maneira muito inconsistente e em diversos contextos. Podemos usar o termo amar para descrever nosso relacionamento com nosso noivo ou cônjuge, mas também dizemos que amamos bolo de chocolate. É óbvio que amar nessas frases não significa a mesma coisa — ou pelo menos espero que não! Mas ser explícito sobre nossas definições de amor é muito mais do que um exercício semântico. De fato, as diferentes concepções de amor são frequentemente a origem das diferentes trajetórias que vemos nos relacionamentos de casais, para o bem ou para o mal.

Ao ponderarmos sobre a importância do amor, é instrutivo considerar o seguinte trecho do livro Cartas de um diabo a seu aprendiz, de C. S. Lewis. Neste clássico livro de apologética, acompanhamos a correspondência entre dois demônios. O primeiro, Tio Maldanado, é um demônio mestre, e o segundo, Vermelindo, é seu sobrinho e um demônio aprendiz que ainda está aprendendo o ofício. Um dos treinamentos abordados envolve como arruinar casamentos.

O Tio Maldanado admoestou seu jovem sobrinho Vermelindo que “os humanos podem ser levados a inferir a crença falsa de que a mistura de afeição, medo e desejo, que eles chamam de ‘estar apaixonado’, seja a única coisa que torne um casamento feliz ou sagrado”.2 O Tio Maldanado explicou que essa forma de engano impede que homens e mulheres reconheçam a natureza e a finalidade mais profundas de seus casamentos atuais ou futuros. Essa finalidade mais profunda, disse ele, é “a intenção de lealdade a uma parceria de ajuda mútua para a preservação da castidade e para a transmissão de vida”.3

A tática do Tio Maldanado de levar as pessoas a acreditarem que o casamento deve se basear no estado emocional de “estar apaixonado” e ter como objetivo principal a felicidade pessoal parece ser particularmente eficaz em nossa cultura geral hoje em dia. Refletindo as tendências atuais do individualismo, do consumismo e da busca incessante da alma gêmea, a história dominante do casamento em nossa cultura geral é a história de se apaixonar e encontrar realização pessoal em um relacionamento amoroso.

Como resultado, muitos jovens adultos (e também alguns adultos menos jovens) têm dificuldades em seus relacionamentos porque pensam no amor principalmente como um intenso sentimento ou estado de ser que não conseguem explicar, mas têm certeza de que vão reconhecê-lo quando o sentirem — e muitas vezes têm dificuldade em saber se seu relacionamento atual tem o suficiente disso. Em alguns casos, as pessoas temem se comprometer com relacionamentos que parecem muito promissores por medo de não estarem suficientemente apaixonadas. E muito frequentemente, outros casais que se sentem muito apaixonados iniciam casamentos com a esperança de alcançar um casamento feliz, apenas para ver esses sonhos terminarem em decepção.

Agora, deixem-me fazer uma pausa por um momento. Minha experiência me diz que é nesse ponto que alguns de vocês talvez comecem a ficar confusos. Raramente questionamos essa história ou ideia de nossa cultura que diz que o sentimento de amor é o fator principal que faz o casamento funcionar. Então, alguns de vocês provavelmente estão pensando: “Mas estar apaixonado não é uma parte importante de um casamento bem-sucedido?” Outros podem até estar se perguntando: “Ele está sugerindo que não devemos querer ser felizes em nosso casamento?” Eu respondo a essas reações dizendo que é claro que o amor e a felicidade importam. No entanto, embora os sentimentos de amor e felicidade estejam de fato presentes em bons casamentos, esses sentimentos são melhor interpretados como frutos desses relacionamentos, não necessariamente as raízes.

Compreendido corretamente, o amor é sem dúvida uma parte fundamental de um casamento duradouro. Mas a compreensão incorreta do amor — que infelizmente é comum em nossa cultura atual — é responsável por muitas das dificuldades que algumas pessoas e casais enfrentam no namoro, no noivado e no casamento.

Em resumo, o que quero sugerir é que nossa cultura atual valoriza profundamente os frutos de um bom casamento, como o amor e a felicidade, mas estamos desvinculando cada vez mais esses frutos das verdadeiras raízes que os produzem. Casamentos amorosos e duradouros são verdadeiras parcerias nas quais os cônjuges se dedicam a criar uma vida compartilhada que é maior do que a recompensa emocional do casamento. E essa verdade se aprofunda ainda mais quando os cônjuges formam um relacionamento por convênio dedicado ao discipulado compartilhado e à formação de uma família eterna. Essa visão do casamento nos dá mais do que sentimentos de felicidade; ela ajuda a dar mais significado à nossa vida.

Portanto, em vez de descartar completamente as visões atuais do amor, estou sugerindo que todos nós nos beneficiaremos ao ampliar e aprofundar nosso entendimento do amor e o que é um bom casamento e, o mais importante, como esses relacionamentos se formam. Nossa compreensão de um bom casamento deve incluir sentimentos de amor e felicidade, mas precisamos nos certificar de que também enfatizamos os aspectos muito mais importantes e duradouros dos relacionamentos — que, paradoxalmente, tornam a própria felicidade que desejamos ainda mais possível de ser alcançada.

2. Qual é a verdadeira natureza do amor?

Com isso, chegamos à nossa próxima pergunta: Qual é a compreensão correta e adequada do amor? E como podemos evitar cair na armadilha de Maldanado em nossos próprios relacionamentos atuais ou futuros de namoro e casamento? Como podemos garantir que temos o alicerce mais profundo e completo do amor em nossos relacionamentos?

Assim como em todas as perguntas significativas da vida, a resposta se encontra em seguir o exemplo de nosso Salvador Jesus Cristo. De fato, seguir Seu exemplo na forma em que amamos foi uma das instruções finais do Salvador a Seus discípulos, quando Ele disse: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós” (João 13:34). “Como eu vos amei” — é assim que Cristo pede que amemos. Como podemos passar a amar como o Salvador ama? Essa, meus queridos amigos, é uma das pouquíssimas perguntas da vida que realmente precisamos responder.

Há quase 20 anos, durante seu devocional na semana do Dia dos Namorados aqui, o Élder Holland falou sobre esse convite para imitar o padrão de amor do Salvador no namoro e no casamento. Seus ensinamentos são ainda mais necessários nos relacionamentos de hoje. Ele disse: “O poder semelhante ao de Cristo de permanecermos e perseverarmos no romance e no casamento requer mais do que qualquer um de nós realmente possui. Requer algo mais, uma investidura do céu”.4

O que significa quando o Élder Holland disse que “o poder de permanecer e perseverar” no casamento exigirá “mais do que qualquer um de nós realmente possui”? De modo bem simples, significa que, sozinhos, nenhum de nós tem sentimentos de amor suficientes para sustentar nosso casamento e relacionamentos familiares durante os altos e baixos naturais da vida. Precisamos nos tornar mais do que somos naturalmente.

Em seguida, o Élder Holland ressaltou uma verdade crucial e reconfortante — que cada um de nós pode ser investido com o amor de que precisamos. Ele citou os ensinamentos do profeta Mórmon sobre caridade,5 quando Mórmon ensinou que:

A caridade é o puro amor de Cristo e permanece para sempre. (…)

(…) Rogai ao Pai, com toda a energia de vosso coração, que sejais cheios desse amor que ele concedeu a todos os que são verdadeiros seguidores de seu Filho, Jesus Cristo. [Morôni 7:47–48]

Observem que, segundo Mórmon, a caridade não é simplesmente uma quantidade diferente de amor; é um tipo diferente de amor. Não é apenas diferente em grau; é diferente em sua natureza.

Também vemos que Cristo é a única fonte verdadeira de amor duradouro por duas razões. Primeiro, Cristo é nosso único exemplo completo de como amar. Segundo, Ele é a única fonte verdadeira pela qual podemos receber esse amor. Assim, como em todas as coisas, Cristo nos mostra o que devemos nos tornar e então nos capacita para seguir Seu exemplo.

O Élder Holland explicou:

A verdadeira caridade, o amor absolutamente puro e perfeito de Cristo, foi realmente demonstrada apenas uma vez neste mundo — na forma do próprio Cristo, o Filho vivo do Deus vivo. (…) Como em tudo, Cristo é o único que sempre acertou, fez tudo perfeitamente, amou da maneira que todos nós devemos tentar amar. Mas, mesmo que falhemos, ainda temos esse padrão divino. É uma meta que devemos continuar nos esforçando para alcançar — e certamente é uma meta que devemos valorizar.6

Assim, vemos que, à luz do evangelho restaurado, o amor é muito mais do que uma emoção ou um sentimento. De fato, o amor corretamente compreendido não é um estado de ser, é um Ser real. E esse Ser é o próprio Cristo. Nós, na verdade, adoramos a personificação viva e verdadeira do amor. A caridade é o puro amor de Cristo porque é o amor Dele e, como Ele é realmente o Messias prometido, por meio de Sua Expiação infinita, cada um de nós pode ser investido com esse amor. Essa investidura envolve passar a ver como Ele vê, entender como Ele entende, priorizar o que Ele prioriza, escolher o que Ele escolhe e, por fim, fazer o que Ele faz. Ao nos esforçarmos para sermos verdadeiros seguidores de Cristo, Ele pode moldar nosso coração, elevar nossos desejos, purificar nossas motivações e magnificar nossas ações para que, com o tempo, possamos passar a amar como Ele ama e, por fim, viver como Ele vive.

Voltando ao discurso do Élder Holland, ele disse o seguinte sobre essa investidura de amor:

Não vem sem esforço e não vem sem paciência, mas, como a própria salvação, no final é um dom, concedido por Deus aos “verdadeiros seguidores de seu Filho, Jesus Cristo” [Morôni 7:48]. As soluções para os problemas da vida são sempre soluções do evangelho. Não só as respostas se encontram em Cristo, mas também o poder, o dom, a concessão e o milagre de dar e receber essas respostas. No que diz respeito ao amor, nenhuma doutrina poderia ser mais encorajadora para nós do que essa.7

O arbítrio, os convênios e o amor

Talvez a mensagem central que desejo transmitir em meu discurso de hoje, especialmente para meus jovens amigos aqui presentes, é que imitar o Salvador e seguir Seu mandamento de amar como Ele ama envolve adotar uma visão do amor baseado no arbítrio. Como o Élder Lynn G. Robbins salientou em seu livro Love Is a Choice [O amor é uma escolha]: “Amar é uma ação ativa e não passiva. Portanto, a frase ‘Eu te amo’ é tanto uma promessa de comportamento e comprometimento quanto uma expressão de sentimento”.8

Em Seu exemplo e em Seus ensinamentos, o Salvador expressou que o amor é manifestado de várias maneiras nos relacionamentos. Quando proferiu o primeiro de todos os mandamentos, Jesus disse: “Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento” (Marcos 12:30).

Na revelação moderna, vemos que as palavras amor e amar aparecem sete vezes na proclamação da família, e cada vez estão associadas a palavras de ação como “cuidar” ou “servir”.9 Assim, a linguagem do Senhor sugere que a ação de amar está no âmbito de nosso arbítrio. Amar é algo que fazemos, algo que podemos controlar e, por fim, algo que podemos escolher fazer — se não fosse assim, Deus não poderia nos mandar amar uns aos outros (ver João 13:34).

O amor e as ciências do relacionamento

Vale mencionar que um segundo testemunho do valor de uma abordagem de amor baseado no arbítrio no casamento e nas relações familiares se encontra nas ciências do relacionamento. Os pesquisadores da família há muito tempo reconhecem que existem diferentes tipos de amor, e que alguns tipos ou abordagens de amor são melhores do que outros na formação e manutenção de relacionamentos fortes.

A Dra. Patricia Noller, uma das principais psicólogas familiares da Austrália, revisou dezenas de estudos e concluiu que relacionamentos familiares fortes e saudáveis são baseados no que ela chamou de amor maduro. Ela concluiu que o amor maduro é composto por três dimensões interligadas: uma dimensão emocional, que consiste em nossos sentimentos e emoções; uma dimensão cognitiva, composta por nossasxprioridades e escolhas; e uma dimensão comportamental, que consiste em nossas ações e comportamentos. O amor maduro é contrastado com o que ela chama de amor imaturo, que enfatiza principalmente apenas a dimensão emocional. Com esse amor imaturo, as escolhas e os comportamentos amorosos são condicionais e variam conforme o estado emocional do relacionamento.10

A Dra. Noller e outros especialistas ressaltam que essas distinções de amor são importantes porque o aspecto emocional do amor, embora necessário e importante, costuma ser a dimensão mais instável nos relacionamentos. As emoções, por sua natureza, podem oscilar e variar com as experiências da vida. Nossas prioridades, escolhas e comportamentos, por outro lado, podem ser intencionais, estáveis e consistentes. Além disso, quando experimentamos uma diminuição nos sentimentos emocionais em um relacionamento romântico, ter uma visão madura do amor nos permite reconhecer que podemos continuar a escolher amar nosso companheiro e agir de forma amorosa a fim de promover a cura e a restauração de nossos sentimentos de amor.

Assim, os ensinamentos das escrituras e os resultados das pesquisas sobre os relacionamentos nos ensinam que casamentos amorosos e duradouros não são uma questão de os casais se apaixonarem. Em vez disso, casamentos assim se fundamentam em um padrão de os casais usarem seu arbítrio para repetidamente escolher amar e crescer em seus relacionamentos.

3. Como podemos ativamente criar relacionamentos amorosos?

A minha última pergunta se volta para a aplicação: Como podemos usar uma abordagem do amor baseado no arbítrio para realmente criar e produzir amor em nossos relacionamentos? As respostas para essa pergunta nos apontam para as verdadeiras raízes do casamento, as quais indivíduos e casais podem cultivar por meio de suas escolhas e ações intencionais. Permitam-me compartilhar cinco princípios para criar amor em nossos relacionamentos.

Princípio 1 — O serviço atencioso produz amor

Quando aconselho pessoas ou casais que estão se perguntando se estão suficientemente apaixonados em seu namoro, eu os incentivo a avaliar a quantidade de comportamentos amorosos em seu relacionamento. As emoções que sentimos podem ser incertas ou confusas às vezes, mas a forma como tratamos os outros e como somos tratados nos relacionamentos é muito mais certa e clara. Cada um de nós se beneficiará ao reforçar nosso compromisso de prestar serviço regularmente em nosso casamento e relacionamentos familiares.

O valor dos comportamentos amorosos é particularmente importante em momentos de diferenças e desentendimentos no relacionamento de um casal. Para muitos casais, os desentendimentos levam a ressentimentos, que depois são usados como justificativa para se recusar a mostrar comportamentos e ações amorosos necessários.

Algo que sempre repito para meus alunos é esta afirmação: “Nos relacionamentos, as diferenças não são problemas, são oportunidades!” Isso se deve ao fato de que as diferenças convidam cada um de nós a ver nosso companheiro como ele realmente é e a atender às suas necessidades. As diferenças nos oferecem a chance de mostrar uma forma verdadeiramente única de altruísmo que ajuda os outros a se sentirem valorizados e amados. Acho que era isso que o Presidente Gordon B. Hinckley queria que entendêssemos quando disse: “O amor verdadeiro não é tanto uma questão de romance, mas, sim, uma zelosa preocupação pelo bem-estar do companheiro”.11

Princípio 2 — O compromisso produz amor

Um dos mitos mais comuns que ouço em relação a namoro é quando alguém afirma: “Quando eu encontrar um relacionamento realmente bom, vou me comprometer”. A razão pela qual isso é um mito é que relacionamentos realmente bons não existem sem comprometimento. O comprometimento é uma das partes fundamentais da criação de um ambiente duradouro de amor em um relacionamento. Sim, é verdade — e ainda bem! — que, no namoro, o comprometimento deve vir em uma sequência de etapas e estágios progressivos, não de uma só vez. Mas, com o tempo, somente a dedicação completa entre duas pessoas pode promover uma perspectiva de longo prazo do relacionamento que, em última análise, justificará os investimentos diários necessários para criar um relacionamento realmente bom. Sem o devido comprometimento no momento adequado, os relacionamentos de namoro estagnam em um ciclo de adiamento e hesitação que leva uma ou ambas as pessoas a recuarem em vez de investirem profundamente. Infelizmente, o comprometimento desigual ou assimétrico nos relacionamentos de namoro — em que um companheiro está profundamente comprometido, mas o outro não — tornou-se uma epidemia em nossa cultura atual.

Em sua essência, o comprometimento é uma escolha que se manifesta em nossos comportamentos repetidos, particularmente em comportamentos que envolvem sacrifício pessoal. Em seu livro Covenant Hearts [Corações do convênio], o Élder Bruce C. Hafen comparou a parábola do Bom Pastor no Novo Testamento ao convênio do casamento, salientando que essa passagem das escrituras pode ser nossa melhor descrição da natureza do comprometimento que o Senhor deseja que tenhamos em nosso casamento. Especificamente, ele comparou a dedicação do Bom Pastor, que “dá a sua vida pelas ovelhas”, com as motivações egoístas do mercenário, que “deixa as ovelhas, e foge” quando um lobo as ameaça (João 10:11–12).12

Refletir sobre esse ensinamento tem sido verdadeiramente transformador para mim em meu próprio casamento. Em várias ocasiões, especialmente em momentos de dificuldade ou desacordo, ou quando estive estagnado em um comportamento de autojustificação, uma pergunta me veio à mente: “Você está sendo um pastor ou um mercenário?” E quando sou humilde o suficiente, admito que estou agindo como um mercenário e que minha esposa e meu casamento merecem mais.

Em mais de 25 anos de casamento, houve várias ocasiões em que minha querida esposa foi realmente minha pastora quando eu fui o lobo, e ela me amou durante minhas dificuldades. Eu tento fazer o mesmo por ela. Percebi como essas experiências compartilhadas de dificuldade, provação e crescimento aprofundaram nosso amor e apreço um pelo outro de uma forma que nem sabíamos que era possível quando estávamos namorando.

Princípio 3 — A parceria conjunta produz amor

Em minhas aulas de Família Eterna e Preparação para o Casamento ao longo dos anos, ensinei a meus alunos que o princípio mais importante que eles podem usar como guia para tomar decisões sábias no namoro e promover um casamento futuro duradouro é a doutrina da parceria conjunta. Eu sinceramente acredito nisso. O Presidente Gordon B. Hinckley ensinou:

No relacionamento conjugal, não há inferioridade nem superioridade. A mulher não anda à frente do marido nem o marido, à frente da mulher. Eles caminham lado a lado como filho e filha de Deus em uma jornada eterna.13

Com essa visão de parceria conjunta, as perguntas mais importantes a serem feitas a fim de avaliar se um relacionamento de namoro é digno de progredir para o casamento são: Vemos e tratamos um ao outro como parceiros iguais? Ouvimos um ao outro? Respeitamos a opinião do outro, mesmo quando discordamos? Tomamos decisões juntos? Ao avaliar um relacionamento de namoro, se suas respostas a essas perguntas forem afirmativas, então é um bom relacionamento! Em sua essência, a parceria conjunta consiste em abraçar a dependência mútua e aprender a tomar decisões importantes na vida juntos.

Princípio 4 — Praticar virtudes produz amor

Em seu livro inovador Beyond the Myth of Marital Happiness [Além do mito da felicidade conjugal], o Dr. Blaine Fowers escreveu o que acredito ser uma das verdades mais importantes do casamento. Ele afirmou:

Estou convencido de que casamentos fortes são edificados sobre as virtudes ou pontos fortes do caráter dos cônjuges. Em outras palavras, a melhor maneira de ter um bom casamento é ser uma boa pessoa.14

Os casamentos se tornam mais completos e resilientes à medida que os cônjuges se esforçam para cultivar virtudes como compaixão, autocontrole, amizade, generosidade e perdão. Essas virtudes podem ser desenvolvidas se as estimularmos com o devido cuidado e atenção e orarmos pedindo que nos sejam concedidas mais plenamente por meio do poder da Expiação do Salvador.

Como cônjuges, possuímos grande poder e uma responsabilidade sagrada na forma como respondemos e reagimos às falhas e imperfeições de nosso cônjuge, e eles, por sua vez, às nossas. É muito poderoso quando os cônjuges são os mais fortes apoiadores um do outro — quando os cônjuges se unem e se defendem em vez de se afastarem um do outro, quando se encorajam em vez de se criticarem, quando se concentram no melhor um do outro em vez de no pior e quando se elevam um ao outro em vez de se rebaixarem.

Princípio 5: O discipulado sincero produz amor

Acima de qualquer outra coisa, a ação primordial que todos nós devemos fazer para criar amor em nossos relacionamentos é nos comprometermos com os padrões diários do discipulado sincero de nosso Salvador Jesus Cristo. Como mencionei anteriormente, “como eu vos amei” é a forma como Cristo nos convida a amar. Esse convite pressupõe que cada um de nós já tenha sentido e esteja ciente do amor do Senhor em nossa própria vida para que possamos mostrar o mesmo amor aos outros. Presto-lhes meu testemunho do perfeito amor que o Senhor tem por vocês e do quanto Ele deseja que vocês experimentem Seu amor de maneira pessoal em sua própria vida. Eu experimentei isso profundamente em minha vida. Sei que Seu amor é infinito e íntimo e que Ele os conhece e Se importa com cada um de vocês.

Há duas maneiras principais pelas quais podemos experimentar mais plenamente o amor de Cristo: orar e seguir. Primeiro, orem por isso. O profeta Mórmon implorou que rogássemos “com toda a energia” de nosso coração para que fôssemos “cheios desse amor”. Além de nossas orações pessoais, é muito poderoso quando os cônjuges oram um com o outro e um pelo outro. Esse ato invoca bênçãos do céu que permitem que as pessoas vejam seu cônjuge como Deus o vê — e essa é a essência da caridade.

Segundo, sigam o Salvador Jesus Cristo. Para encerrar, permitam-me citar mais uma vez o discurso de devocional do Élder Holland. Ele explicitou o único padrão verdadeiro para garantir o amor duradouro em nossos relacionamentos de namoro e casamento. Ele disse:

Vocês querem ter capacidade, segurança e proteção no namoro, na vida romântica, no casamento e na eternidade? Sejam autênticos discípulos de Jesus. Sejam santos dos últimos dias genuínos e comprometidos, em palavras e em ações. Acreditem que sua religião tem tudo a ver com sua vida romântica, porque de fato tem mesmo. Separar o namoro do discipulado é algo arriscado e perigoso. Ou, para expressar isso de forma mais positiva, Jesus Cristo, a Luz do Mundo, é a única lâmpada pela qual vocês podem efetivamente ver o caminho do amor e da felicidade para vocês e para seu companheiro eterno.15

Acrescento também meu simples testemunho da veracidade desse padrão divino, e o faço no sagrado nome Daquele que pode encher cada um de nós com a plenitude do amor que desejamos em nosso casamento e relacionamentos familiares, sim, Jesus Cristo. Amém.

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  1. Ver Jeffrey R. Holland, “How Do I Love Thee?” [Como te amo?] discurso de devocional na BYU, 15 de fevereiro de 2000.
  2. C. S. Lewis, The Screwtape Letters[Cartas de um diabo a seu aprendiz], traduzido por Gabriele Greggersen, (Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017), Carta XVIII.
  3. Lewis, Cartas, Carta XVIII.
  4. Holland, “How Do I Love Thee?”
  5. Ver Holland, “How Do I Love Thee?”
  6. Holland, “How Do I Love Thee?”
  7. Holland, “How Do I Love Thee?”; grifo no original.
  8. Lynn G. Robbins, Love Is a Choice: Making Your Marriage and Family Stronger[O amor é uma escolha: Fortalecer seu casamento e sua família] (Salt Lake City: Deseret Book, 2015), 31.
  9. A Família: Proclamação ao Mundo” (1995).
  10. Ver Patricia Noller, “What Is This Thing Called Love? Defining the Love That Supports Marriage and Family,” Personal Relationships3, no. 1 (março de 1996): 97–115.
  11. Gordon B. Hinckley, “Except the Lord Build the House …“, Ensign,junho de 1971.
  12. Ver Bruce C. Hafen, Covenant Hearts: Marriage and the Joy of Human Love[Corações do convênio: Casamento e a alegria do amor humano] (Salt Lake City: Deseret Book, 2005), 85–90.
  13. Gordon B. Hinckley, “Dignidade Pessoal para Exercer o Sacerdócio“, Liahona, julho de 2002.
  14. Blaine J. Fowers, Beyond the Myth of Marital Happiness: How Embracing the Virtues of Loyalty, Generosity, Justice, and Courage Can Strengthen Your Relationship[Além do mito da felicidade conjugal: Como abraçar as virtudes da lealdade, generosidade, justiça e coragem pode fortalecer seu relacionamento] (New York: John Wiley, 2000), 23.
  15. Holland, “How Do I Love Thee?”; grifo no original.
Jason S. Carroll

Jason S. Carroll, Professor de Estudos sobre Casamento e Família na Universidade Brigham Young, deu este devocional em 2 de abril de 2019.