“Santo pela Expiação de Cristo, o Senhor”
do Quórum dos Doze Apóstolos
18 de janeiro de 2022
do Quórum dos Doze Apóstolos
18 de janeiro de 2022
O que precisamos, todos nós juntos, vocês e eu, aqueles que estão firmes na Igreja, bem como aqueles que se esforçam para perseverar — o que precisamos em todos os casos ainda é o mesmo: a fé poderosa, a fé que nos sustém aqui e agora, não apenas no dia do julgamento ou em algum lugar na glória celestial.
Pretendemos modificar a tradução se for necessário. Para dar sugestões, envie um e-mail para: speeches.por@byu.edu
Na conferência geral de outubro de 2016, contei a história de meus amigos Troy e Deedra Russell, da Ala Dutchman Pass, em Henderson, Nevada, EUA. Ninguém vai se lembrar do discurso, mas ele foi sobre a experiência deles, quando Troy tirou sua caminhonete da garagem a fim de doar mercadorias para as Indústrias Deseret de sua cidade. [Nota do tradutor: As Indústrias Deseret são lojas de produtos e móveis usados nos Estados Unidos. Essas lojas são mantidas por A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.] Ao fazê-lo, Troy percebeu que o pneu traseiro tinha passado por cima de algo. Imaginando que algum item havia caído da caminhonete, ele saiu e encontrou seu precioso filho de 9 anos de idade, Austen, caído no chão. Os gritos, a bênção do sacerdócio, a equipe de paramédicos, a equipe do hospital — todos, no devido tempo, estavam engajados em tentar salvar a vida desse belo menino, mas sem sucesso. Austen tinha partido.
Com o tempo, Troy e Deedra encontraram paz em sua fé no Senhor Jesus Cristo, na presença consoladora do Espírito Santo e nas dezenas de amigos e vizinhos amorosos que os ajudaram, especialmente John Manning que na época era seu “mestre familiar”.1
Meu propósito hoje não é repetir essa mensagem, mas é dizer a vocês, nesta época de universidade, que algumas lições da vida serão difíceis e que talvez lhes seja pedido que enfrentem mais do que imaginam poder enfrentar — e certamente mais do que desejam.
No caso do Irmão e da Irmã Russell, pode-se pensar que perder um filho da maneira assustadora como perderam Austen seria uma provação além do que qualquer casal jovem poderia enfrentar. Mas há uma mensagem no centro de um dos maiores sermões do Livro de Mórmon que fala sobre as provações e os testes que podem vir a nós com frequência na vida. Em seu discurso de despedida, o rei Benjamim ensinou que talvez o propósito fundamental da vida mortal seja tornar-nos “[santos] pela Expiação de Cristo, o Senhor”, o que exigirá que nos tornemos “como uma criança, submisso, manso, humilde, paciente, cheio de amor, disposto a submeter-se a tudo quanto o Senhor achar que lhe deva infligir, assim como uma criança se submete a seu pai”.2
O que isso significa para nós? Significa — pelo menos em parte — que a aflição e a confusão, o sofrimento e a perda não são experiências que só acontecem com as outras pessoas. Significa que os momentos em que parece ser extremamente difícil nos apegar à fé não se limitam aos dias passados de perseguição e martírio. Não, ainda estamos vivenciando os tempos em que se tornar santo através de Cristo, o Senhor, parece quase impossível de alcançar. E vai ser assim até que Deus tenha provado Seu povo para receber sua recompensa eterna. Será requerido de nós que sejamos submissos e obedientes e que nos tornemos como uma criança. Para alguns de nós, isso é difícil agora e será difícil depois.
Minha súplica hoje, nesta universidade que amo de todo o coração, é que pratiquemos agora mesmo e sejamos fortes hoje para os momentos de aflição e refinamento que certamente virão. Para alguns de nós, eles estão acontecendo agora, durante a universidade. É neste momento que a fé em Deus, em Cristo e em A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias realmente contará. É neste momento que a fé deve ser inabalável, porque será testada no fogo do ourives para ver se é mais do que “o metal que soa ou como o sino que tine”.3 Para alguns, a gravidade da provação pode ser semelhante à prova final na classe para iniciantes de Vida Mortal. É então, navegando no que Hamlet chamou de “um mar de obstáculos”,4 que pode ser necessária toda a fé que você tenha apenas para manter sua pequena embarcação à tona.
Mas você pode navegar, diz o rei Benjamim, se for como uma criança, “submisso, manso, humilde, cheio de amor”. Acho que o único comentário necessário para esse versículo pode ser a respeito dessa linha, sugerindo que Deus “inflige” provações e fardos sobre nós. Não conhecemos o egípcio reformado, mas em inglês, a palavra infligir, que vem do latim infligere, tem pelo menos dois significados. Um deles é “atacar ou atirar algo contra algo duro” ou “massacrar”,5 mas isso não se aplica a Deus ou a Seus anjos. Não, a devida definição da palavra como o rei Benjamim a usa é permitir “algo que precisa ser suportado ou sofrido”.6 Agora, permitir algo é uma questão muito diferente! Deus pode e vai fazer isso se for para o nosso bem. Vou dizer novamente: Deus não faz hoje, nem nunca vai fazer, algo destrutivo, maldoso e injusto a vocês — nunca. Nem faz parte daquilo que Pedro chama de “natureza divina”7 ser capaz de fazê-lo. Por definição, e de fato, Deus é perfeitamente e minuciosamente, sempre e para sempre bom, e tudo o que Ele faz é para o nosso bem.8 Prometo a vocês que Deus não perde noites de sono tentando descobrir maneiras de nos decepcionar, nos prejudicar ou destruir nossos sonhos, ou nossa fé.
Agora, depois dessa longa introdução, vamos voltar para Troy e Deedra Russell há apenas quatro meses. Nas primeiras horas da manhã de 8 de setembro, depois de passar boa parte da noite ajudando seu segundo filho a se preparar para o início dos estudos na BYU–Idaho, Deedra Russell estava viajando no sentido norte da rodovia Interestadual 15. Perto da placa de número 14, onde a estrada é bem cortada nas laterais do desfiladeiro Virgin River, Deedra viu uma caminhonete vindo em alta velocidade. Infelizmente, ela estava vindo direto para Deedra, indo em direção ao sul na pista em que ela ia para o norte. Ao volante estava um motorista embriagado, de 39 anos de idade.
Esta é uma foto tirada pela equipe de emergência por volta das 5h30 da manhã, por isso peço perdão pela falta de iluminação. Isso foi o que restou do Honda cinza-carvão de Deedra após uma colisão frontal. [Uma foto do carro batido foi mostrada.]
Apesar do que a batida pareceria indicar, a Irmã Russell, embora tenha ficado presa e sem poder se mover dentro do carro, não morreu no acidente. Com a extraordinária ajuda da equipe de emergência, ela foi retirada dos destroços e levada por transporte aeromédico para o centro médico Saint George, onde após 132 dias de hospitalização — 40 deles na terapia intensiva — ela ainda está lutando pela vida.
Felizmente, ela está viva.
Aqui está o melhor que ela poderia fazer para se despedir de seu filho mais velho, Collin, que partiu dois meses após o acidente para servir na Missão Canadá Edmonton, de idioma tagalo. [Outra foto foi mostrada.] Seus sonhos de ajudá-lo a se preparar e vê-lo sair para servir foram deixados em algum lugar perto da placa de número 14 da Interestadual 15.
Preciso passar aos detalhes do estado de saúde de Deedra, mas, ao fazê-lo, permitam-me dizer que descrever suas lacerações, fraturas e necessidades cirúrgicas é algo desafiador. Ela já passou pela sala de cirurgia 18 vezes, e ainda vão ter mais. Seus rins foram danificados e pelo menos duas de suas feridas externas precisam permanecer abertas com a ajuda de terapia a vácuo até que possam ser fechadas. Dores indescritíveis, lesões correlatas, pesadelos recorrentes e, mais recentemente, uma sequência de convulsões paralíticas têm ocorrido muitas vezes de dia e de noite. Mas todas as indicações são de que ela vai conseguir se recuperar, e por isso somos todos muito gratos.
Aqui está uma foto de Deedra com Troy, à direita, e o setenta de área, Jon Schmitt, à esquerda, a quem sou grato por muitas dessas fotos. [Uma foto foi mostrada.]
Gostaria de compartilhar alguns pensamentos relacionados ao evangelho que tive ao ouvir esses relatos de meus amigos.
Em primeiro lugar, condenar o motorista — que sobreviveu milagrosamente a esse incidente e está com seus pais e alguns membros da família Russell na congregação hoje como nossos convidados especiais — não é o propósito desta mensagem. Nosso propósito é aprender. É por isso que entramos em uma universidade. E uma coisa que esse irmão e sua família nos ensinaram é que, quando cometemos um erro, seja grave ou não, devemos sentir genuíno remorso e tristeza, e devemos assumir a responsabilidade pelos danos e sofrimentos causados. Nesse processo, devemos exigir de nós mesmos uma mudança nos hábitos e comportamentos que causaram esses acontecimentos prejudiciais. Mas, mesmo quando tivermos feito o que pudermos, muitas vezes não vai influenciar muito, então teremos que pedir a Deus para cuidar de todas as partes que não conseguimos reparar sozinhos. Para merecer essa ajuda, com certeza devemos procurar viver uma vida que garanta isso, lembrando sempre que a graça celestial vai além do nosso merecimento. Sinto-me tocado que esse bom irmão que causou o acidente está tentando fazer tudo o que sabe fazer e fez exatamente o que eu disse de todas as maneiras que ele conhece.
Por exemplo, fiquei tocado ao saber que, além de escrever para Deedra e Troy, orar por eles e visitá-los, ele e sua família não gastaram nenhum centavo com presentes de Natal neste ano a fim de doar à família Russell o equivalente em dinheiro para ajudar a pagar alguns terríveis e altos custos financeiros que certamente vão levá-los à falência antes de tudo isso acabar.
Um exemplo igualmente tocante de remorso verdadeiro é esta carta de oito páginas escrita à mão, da qual tenho uma cópia em minhas mãos. Ela é muito longa para lermos aqui em sua totalidade, mas vou dar a vocês apenas uma amostra de uma ou duas linhas:
Deedra, sinto-me tão mal [pelo que fiz] a você. Meu coração está [despedaçado]. Meus pulmões não conseguem respirar. Sinto muito pela dor que você está sentindo. (…)
Troy, você é um anjo [por me perdoar]. (…) Sinto muito por vocês já terem passado por tanta coisa em sua vida, e agora tudo isso por minha causa. (…) [Mas] estou indo à igreja novamente. Estou lendo as escrituras todas as noites.
E, por favor, diga a seus filhos que sinto muito por ter machucado a mãe deles. [Deedra,] eu sei que quase tirei sua vida, mas se isto importa, você salvou a minha.
Atenciosamente, (…)
Por trás do que queremos que seja um final verdadeiramente esperançoso e construtivo para essa história está o constante lembrete, aquilo que não sai da minha cabeça — faça chuva ou sol, esteja de noite ou de dia, seja primavera, verão, inverno ou outono — de que há um motivo amoroso para obedecer às leis do evangelho e um motivo digno para seguir os princípios do evangelho, que a obediência aos mandamentos de Deus é realmente importante, e que as coisas que devemos fazer ou não são reveladas por um propósito.
Sem precisar de outra foto daquele Honda para nos inspirar, todos devemos reconhecer a sabedoria de um Deus amoroso que — décadas antes dos carros, das rodovias e do transporte aeromédico — revelou as possibilidades de destruição, neste caso, do consumo de bebidas alcoólicas. Sem relacionar novamente os custos arcados pela vítima e pelo autor do acidente, devemos reconhecer as lágrimas de um Pai Celestial que simplesmente pede que cuidemos uns dos outros, que sejamos cuidadosos em vez de imprudentes com o bem-estar de nossas irmãs e nossos irmãos. A obediência semelhante à de uma criança a Seu chamado como pai e Suas advertências divinas vão poupar a nós e a outras pessoas da agonia no final. Por isso, o clamor de Seu Filho Unigênito: “Se [você me ama], [guarda] os meus mandamentos”.9 Isso faz parte do meu fardo apostólico — dos meus colegas e companheiros dos Doze — estar com o Salvador nesse apelo, nesse pedido. Nós sempre oferecemos nosso amor. Sempre somos moralmente obrigados, por causa desse amor, a pedir obediência aos mandamentos como prova desse afeto.
Agora, enquanto tento falar, por um momento, sobre a submissão santa, semelhante a de uma criança e a de Cristo, às provações e tribulações da vida e aos mandamentos divinos, por mais provados e testados que já se sintam, não saiam daqui hoje ávidos para dizer a seu colega de quarto que não compareceu que o Élder Holland fez um devocional hoje sobre a Palavra de Sabedoria. Se quiserem ver um homem idoso chorar, façam isso! Oro para que descubram que minha mensagem é maior e mais significativa do que o pesar de dirigir bêbado.
Depois de entender o motivo dos mandamentos e a necessidade de buscar o perdão quando os quebramos, ofereço uma segunda lição. É o outro lado da moeda do perdão. Assim como o transgressor busca o perdão como parte da busca por alívio e paz, nós precisamos perdoar, pelo menos em parte, pelo alívio e paz que ele nos traz. Por mais irados que Troy e Deedra poderiam ter justificavelmente estado por causa dessa terrível experiência, eles sentiram que não poderiam e não deveriam reter o perdão daquele que os ofendeu. Pelo menos parte dessa motivação foi porque Troy passou os últimos cinco anos de sua vida lutando contra seu papel, por mais acidental que fosse, na perda de Austen, de nove anos de idade.
Trazendo isso para o cenário desta manhã, não há nenhum de nós neste campus que não tenha precisado do perdão por algum erro cometido em algum lugar, em algum momento. O que fizemos pode não ter sido tão grave quanto o que estamos relatando hoje, mas todos cometemos erros, e alguns deles foram erros graves. Eu me incluo nessa lista. Seja qual for o evento, todos agradecemos a Deus por ser o Pai do perdão e pelos dons de misericórdia e alívio que Ele nos oferece — tudo isso, por fim, graças à majestosa Expiação de Seu Filho Unigênito, o Senhor Jesus Cristo. Devemos participar dessa oferta. A família Russell fez isso. Eles têm buscado a seu Deus e, mesmo em sua angústia, uniram-se ao Salvador humildemente, concedendo perdão ao necessitado. Eles têm sido “submissos, mansos, humildes, pacientes, cheios de amor”. Sem constrangê-los, certamente eles estão se tornando “[santos] pela Expiação de Cristo, o Senhor”.
Agora, uma terceira lição desse incidente. Eu nunca os ouvi dizer isto, mas como todos nós em momentos de sofrimento e dor, a família Russell pode ter exclamado algumas vezes: “Por que eu? Por que nós? Por que de novo?” ou “O quanto temos que enfrentar na vida?” ou “Deus realmente Se importa comigo?”
Se eles fizeram essas perguntas, estiveram em boa companhia. O salmista perguntou: “Até quando te esquecerás de mim, ó Senhor?”10 E o Profeta Joseph Smith perguntou: “Ó Deus, onde estás?”11 Até o próprio Salvador, na excruciante provação da Expiação, perguntou se Ele também havia sido abandonado.12 Mas a resposta divina a cada uma dessas almas fiéis, às perguntas proferidas na escuridão do desespero — a resposta é sempre a mesma: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”.13 Ele não nos abandonou; não fomos expulsos; Suas promessas vão se cumprir; Seu amor santo é constante. “O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio.”14
Então, quando estiverem sendo martelados na bigorna da adversidade, quando sua alma estiver sendo refinada com lições severas que talvez não possam ser aprendidas de nenhuma outra maneira, não fujam. Não pulem do navio. Não guardem ressentimentos com relação a seu bispo, seu presidente de missão ou a Deus. Permaneçam com a única ajuda e força que pode auxiliá-los nesse momento doloroso. Quando tropeçarem na corrida da vida, não se afastem do Médico que está infalivelmente ali para tratar seus ferimentos e erguer e ajudar vocês a terminarem a corrida.
Não sabemos por que acontecem todas as coisas que acontecem conosco na vida, não sabemos por que às vezes somos poupados de uma tragédia e às vezes não. Mas é nesse momento que a fé deve realmente significar alguma coisa, ou de fato não é fé. Em circunstâncias tão severas, raras como esperamos que sejam, podemos nos lembrar do que Alma disse sobre a fé e o conhecimento estarem relacionados, mas não serem sinônimos. Em alguns assuntos, vocês podem ter conhecimento, conhecimento puro, conhecimento perfeito, mas em outros, a fé será necessária até que o conhecimento venha.15 E, como a doce Irmã Holland sempre diz aos missionários, a fé não é verdadeira se houver algo mais a que se apegar.
O que precisamos, todos nós juntos, vocês e eu, aqueles que estão firmes na Igreja, bem como aqueles que se esforçam para perseverar — o que precisamos em todos os casos ainda é o mesmo: a fé poderosa, a fé que nos sustém aqui e agora, não apenas no dia do julgamento ou em algum lugar na glória celestial. A maioria de nós tem fé nas questões mais importantes, de longo prazo, como a veracidade da Igreja ou a realidade da Expiação e Ressurreição de Cristo. Mas, às vezes, estamos menos seguros em trazer essa fé para hoje, para esta manhã, para ajudar com os desafios a curto prazo, como a morte de Austen, o acidente automobilístico de Deedra, os problemas financeiros deles, a decepção durante o namoro ou o pedido de uma bênção muito necessária com relação ao casamento, à saúde ou a alguma outra necessidade pessoal — orações que parecem ficar sem resposta repetidas vezes. Precisamos ter fé nesses assuntos, assim como nas coisas mais sublimes, como a veracidade desta Igreja e a realidade da Expiação e Ressurreição de Cristo.
Com esse último apelo para a fé submissa e com a de uma criança a curto prazo vindo praticamente todos os dias de nossa vida, meus jovens amigos, sejam bem-vindos à vida que o rei Benjamim descreveu e que Jesus perfeitamente exemplificou. Bem-vindos a conceitos como paciência e longanimidade, palavras e princípios que assumiram um significado que vocês nunca souberam que tinham. Bem-vindos à falta de conhecimento, mas sem deixar de acreditar. Bem-vindos a confiar em seu Pai Celestial e a acreditar que todas as Suas promessas, em curto ou longo prazo, ainda assim serão todas cumpridas em sua plenitude, cada palavra. Mas estejam cientes de que ao longo dessa jornada há algum grau de angústia. Isso porque o caminho da fé para o conhecimento puro, das provações mortais às recompensas celestiais, sempre de alguma forma passa pelo Getsêmani. E quando somos convidados a nos unir ao Salvador do mundo nesse lugar, devemos estar preparados para responder à difícil pergunta que Ele fez a Pedro, Tiago e João: “Então nem uma hora pudestes velar comigo?”16 Figurativamente falando, todo o nosso ciclo de busca e espera, de arrependimento e perdão, por mais importantes que sejam, soma muito menos de uma hora em comparação com a purificação que Seu sangue produz em todas as tristezas e todos os pecados e todos os erros de toda a humanidade, desde Adão e Eva até o fim do mundo.
A vocês, jovens colegas absolutamente belos neste trabalho, quando sua vida parecer uma lágrima, tragédia e tristeza, uma após a outra, o significado e as respostas que vocês não podem entender, peço-lhes, assim como Alma fez, que “[tenham] esperança nas coisas que não se veem [mas] que são verdadeiras”.17 Tão certo quanto vocês vivem, todas as bênçãos de Abraão, Isaque e Jacó, de Sara, Rebeca e Raquel, estão esperando por vocês, em curto prazo, em longo prazo e para sempre.
Muito bem! Tragédias e submissão. Tristeza e crença. Arrependimento e arco-íris. Amor e colisões frontais. Essas são questões de gente grande; até parecem contraditórias às vezes. Mas prometo a vocês, em nome do Senhor, que a ajuda virá e resolverá essas contradições por meio do poder coeso do evangelho de Jesus Cristo — o que o presidente John Taylor chamou uma vez de “influências que fortalecem e trazem a harmonia”18 da verdade eterna.
Assim, as pessoas que passam coisas semelhantes a que Troy e Deedra Russell estão passando são submissas como os jovens santos que eles são. E eles assistem ao milagre do amor e da fé se propagarem em círculos cada vez mais amplos para tocar literalmente centenas de pessoas, literalmente centenas de pessoas — por exemplo, muitos grupos que lavaram as roupas da família Russell, que trouxeram refeições todos os dias, que levaram os filhos para a escola, ficaram ao lado da cama de Deedra todos os dias e todas as noites em que ela esteve no hospital em St. George, lembrando que eles moram em Henderson, Nevada. O amor e a fé ajudaram Troy a dirigir muitos quilômetros para ficar com sua querida esposa de forma integral a metade desses 132 dias e noites. Seus colegas trabalharam dobrado para que ele pudesse dar a ela essa atenção. Enquanto isso, dois de seus pacientes começaram a ler o Livro de Mórmon. Um amigo próximo que, ao longo dos anos, recusou convites para cinco batismos diferentes e uma bênção de bebê — prometendo que nunca iria colocar os pés em uma capela da Igreja — foi à reunião sacramental em que Collin falou antes de partir para a missão. Aquele amigo achou que era o mínimo que poderia fazer por uma mãe ausente, deitada em uma unidade de terapia intensiva a quilômetros de distância. E assim, os milagres fluem até mesmo das ruínas emaranhadas de um Honda cinza-carvão e de uma caminhonete Silverado branca — tudo em resposta à submissão e mansidão como as de uma criança ao lidar com o que o Pai permite que aconteça.
[Foi mostrado um vídeo da família Russell conversando com as pessoas na sala do hospital:]
[Deedra Russell:]
Agradecemos ao Élder Holland por nos deixar compartilhar nosso testemunho com todos vocês hoje. Sei que gostaríamos que as provações não fizessem parte de nossa vida, mas uma coisa que aprendi nos últimos meses, os quais têm sido muito, muito difícil para mim, é que temos um Pai Celestial muito amoroso, e a razão pela qual Ele nos deixa passar por essas provações é para que possamos aprender coisas sobre nós mesmos. Podemos aprender a ter fé e aprender a ser fortes. E especialmente podemos aprender a confiar em nosso Salvador. O Pai Celestial definitivamente nos envia anjos. Ele nos enviou tantas pessoas para nos ajudar! Ele permite que outras pessoas nos ajudem em nossos momentos mais difíceis. Não acho que teria tido um testemunho tão forte do quanto o Pai Celestial realmente nos ama se eu não tivesse passado por essas coisas.
[Troy Russell:]
Algumas semanas depois que Austen faleceu, um amigo veio falar comigo e disse que eu tinha passado pela pior coisa que alguém poderia passar. Pensei um pouco sobre isso e disse: “Não concordo com você. Acho que a pior coisa pela qual qualquer um de nós poderia passar é não estar com nossa família para a eternidade”. Nos últimos quatro meses, houve três ou quatro vezes em que eu não sabia se ela ia conseguir sair dessa, mas lá no fundo eu sabia que, mesmo que ela não conseguisse sobreviver, havíamos sido selados no templo para esta vida e toda a eternidade. E isso era o que realmente importava. A única coisa que eu acredito que realmente possuímos é nossa capacidade de fazer escolhas. Nosso corpo é uma dádiva de Deus. O ar que respiramos é uma dádiva de Deus. Todas as coisas materiais podem ser tiradas de nós a qualquer momento, mas a única coisa que temos é nosso arbítrio. E o que é tão belo nas aflições, provações e dificuldades que temos é que elas nos permitem usar nosso arbítrio para perdoarmos ou não, para demonstrarmos amor e bondade, ou para ajudarmos as pessoas. Esperamos que todos saibam que amamos nosso Salvador. Sabemos que Ele morreu por nós e, por causa Dele, podemos estar juntos como família. Esperamos que sempre usemos nosso arbítrio para perdoar as pessoas que nos fizeram mal, que demonstremos amor e bondade e que estejamos ao lado de outras pessoas. Deixamos isso com vocês, em nome de Jesus Cristo. Amém.
[Élder Holland:]
Meus amados jovens amigos, também deixo meu testemunho com vocês. Testifico que, quando a vida lhes trouxer decepção ou tristeza — e ocasionalmente isso acontecerá — o evangelho de Jesus Cristo e a Igreja que defende a plenitude deste evangelho são verdadeiros e fortes. Eles são o que o salmista chamou de “refúgio para o oprimido, um alto refúgio em tempos de angústia”.19 Presto testemunho do amor e da fé, do arrependimento e da perseverança, da longanimidade e da misericórdia de Deus. Em especial, presto testemunho da alegria no final da jornada, que vem das coisas difíceis que somos chamados a fazer nessa jornada. Testifico que estamos no processo de renascimento e refinamento, de nos tornarmos “santos pela Expiação de Cristo, o Senhor”. E seremos reduzidos à fé e à humildade de uma criança no decorrer dessa experiência. Testifico dessas verdades e deixo uma bênção apostólica sobre cada um de vocês para que realizem todos os desejos justos de seu coração ao buscarem o Deus do céu e da Terra em sua vida. Com desejo e amor compartilho com vocês minha própria fé em vocês, com vocês e para vocês; fé essa que vai aliviá-los de todos os fardos que sentirem — os que podem carregar e os que não podem — e curará todas as feridas que agora temem ser fatais. Faço isso com amor em nome Daquele que dá o poder de fazer essas coisas, que foi levantado na cruz para que nós pudéssemos ser levantados para a vida eterna.20 Em nome de Jesus Cristo. Amém.
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Notas
Jeffrey R. Holland, do Quórum dos Doze Apóstolos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, deu esse devocional em 18 de janeiro de 2022.