“Não temais.”
A voz e o escritor do programa Música e a Palavras de Inspiração e professor de história e doutrina da Igreja na BYU
9 de dezembro de 2014
A voz e o escritor do programa Música e a Palavras de Inspiração e professor de história e doutrina da Igreja na BYU
9 de dezembro de 2014
A mensagem do Senhor para vocês hoje é a mesma que Ele enviou por meio de Seus anjos há muito tempo: “Não temais.” Ele pode dizer isso porque sabe mais do que nós. Ele vê o que não vemos. Ele sabe o que está por vir e, na perspectiva eterna das coisas, não é tão ruim quanto pensamos.
Pretendemos modificar a tradução se for necessário. Para dar sugestões, envie um e-mail para: speeches.por@byu.edu
Sou grato por estar com vocês nesta manhã fria de dezembro. Oro para que o calor do Espírito nos abençoe para que sejamos edificados durante nossos poucos momentos juntos.
Hoje quero falar com vocês sobre a maior história já contada — e um de seus temas menos óbvios, porém mais importantes. Vocês provavelmente poderiam contar muito dessa história de cor. Ela ocupa pouco mais do que uma página das escrituras. Começa com o dever conhecido de pagar impostos. Continua com uma jornada que não era incomum na época. A trama se complica quando não há lugar “nas estalagens”1 e culmina quando o Filho de Deus nasce de Maria, uma virgem “[preciosa] e [escolhida]”.2
Sabemos pouco sobre as pessoas reais e poucos detalhes sobre os acontecimentos verdadeiros. No entanto, não importa quantas vezes lemos a história do primeiro Natal, sempre parece haver algo novo que podemos aprender com ela. Isso porque, como os profetas têm ensinado, “a palavra de Deus é viva”.3 Ela adquire um significado novo e profundo sempre que estivermos espiritualmente prontos para recebê-la.
Algo que chama minha atenção no relato do nascimento do Salvador é que, em quatro ocasiões distintas, um anjo apareceu com a mensagem “Não temais”.
Quando o anjo Gabriel apareceu a Zacarias com a notícia de que sua esposa daria à luz um filho, o precursor do Messias, ele disse: “Não temas, porque a tua oração foi ouvida”.4
Mais tarde, o mesmo anjo visitou Maria “bela e formosa”5 para dizer-lhe que ela seria a mãe do Filho de Deus, acalmando-a com palavras semelhantes: “Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus”.6
Pouco depois, um anjo apareceu a José, o carpinteiro, em um sonho e disse: “Não temas receber Maria, tua mulher”.7
E então, naquela noite santa, enquanto toda a eternidade observava em silêncio reverente, o anjo apareceu aos humildes pastores guardando durante as vigílias o seu rebanho. Os pastores, que “tiveram grande temor”,8 ouviram o anjo proclamar: “Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo”.9
Muito do que aconteceu naqueles momentos cruciais da narrativa da natividade dependeu da coragem de pessoas como Zacarias, Maria, José e os pastores. Deus tinha uma tarefa monumental para cada um deles; a vida deles estava prestes a mudar para sempre. Imagine se eles tivessem permitido que o medo os dominasse. E se eles tivessem recuado, duvidado e não cumprido o que Deus precisava que fizessem?
Esse tema menos óbvio do relato do primeiro Natal me intriga porque eu, assim como vocês, tenho temores, e às vezes preciso ser lembrado de não temer. Não sei quais são os seus temores. Assim como Zacarias, que temia nunca ter filhos, vocês podem ter temores relacionados à sua família. Ou talvez seu temor não seja de não ter filhos, mas de tê-los e precisar criá-los em um mundo tóxico, cada vez mais hostil às famílias. Assim como Maria, você pode ter uma designação ou responsabilidade que parece estar muito além de suas habilidades. Assim como José, talvez vocês tenham temores de se casar — ou de nunca se casar. Assim como os pastores, vocês podem “[ter] grande temor” quando sua vida simples e pacífica for interrompida porque Deus tem planos para vocês que são maiores do que vocês têm para si mesmos.
A vida apresenta oportunidades infinitas para temer. Podemos temer pelo que as pessoas pensam de nós. Podemos temer o fracasso ou a rejeição. Podemos temer as mudanças que sabemos que precisamos fazer em nossa vida. Ou talvez apenas temamos as provas finais na próxima semana. Podemos vivenciar fracasso ou rejeição e nos perguntar se somos bons o suficiente. Podemos temer por causa de nossa condição financeira, nossa educação e nosso futuro profissional, ou temer falar em público, ou cobras e aranhas. Sim, vivemos em um mundo lindo — mas lá fora pode ser assustador!
Temo que muitos de vocês tenham vindo esta manhã para serem edificados e inspirados, e agora eu acabei assustando vocês! Bem, eu não vim aqui para assustá-los, e vocês não vieram aqui para ser lembrados de seus temores. Todos desejamos mais paz e força de Deus em meio aos estresses e dificuldades da vida.
A mensagem do Senhor para vocês hoje é a mesma que Ele enviou por meio de Seus anjos há muito tempo: “Não temais.” Ele pode dizer isso porque sabe mais do que nós. Ele vê o que não vemos. Ele sabe o que está por vir e, na perspectiva eterna das coisas, não é tão ruim quanto pensamos. Ele sabe que podemos lidar com isso com Sua ajuda porque Ele sabe como nos fortalecer e socorrer.10
Acima de tudo, Ele nos diz para não temermos porque sabe que o temor vai nos paralisar. O temor vai nos impedir de conhecer e fazer Sua vontade; de aceitar Suas bênçãos, Seu amor e Sua luz; e de cumprir Seus propósitos. O Presidente Howard W. Hunter disse:
O temor (…) é a principal arma do arsenal que Satanás lança mão para tornar a humanidade infeliz. Aquele que teme perde forças para o combate da vida na luta contra o mal. Por isso, o poder do maligno sempre tenta gerar temor no coração humano.
(…) Um povo tímido e temeroso não consegue realizar bem sua obra e também não consegue realizar bem a obra de Deus. Os santos dos últimos dias têm uma missão divinamente designada a cumprir que não pode simplesmente se deixar vencer pelo temor e pela ansiedade.11
Satanás quer que cedamos ao temor. Deus quer que nos apeguemos à esperança.
Uma de minhas escrituras favoritas é 2 Timóteo 1:7. Diz: “Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação.” [Nota do tradutor, em inglês, a palavra “poder” é usada em vez de “fortaleza” e “mente sã” em vez de “moderação”.] Usando essas palavras como estrutura, vamos explorar juntos como o poder, o amor e a mente sã servem como antídotos para o temor.
Primeiro: “Deus não nos deu o espírito de temor; mas de fortaleza”.
Esse “espírito de fortaleza”, ou de “poder”, não é o tipo de poder do mundo. O Senhor e Seu povo do convênio não funcionam como o mundo geralmente funciona. O mundo nos diz que o poder vem da riqueza ou da popularidade e que a vida é uma competição na qual avançamos à frente dos outros por meio da aquisição ou empregar palavras ou armas de destruição.
O caminho do Senhor é mais profundo, mais elevado e mais santo. Seu poder é governado “com longanimidade, com brandura e mansidão e com amor não fingido; Com bondade e conhecimento puro”.12 Enquanto o poder do mundo depende de ostentações dramáticas, o poder do Senhor destila-se sobre nós “como o orvalho do céu”13 — de modo milagroso, mas silencioso e humilde. Enquanto o poder do mundo é para os poucos privilegiados, o poder do Senhor está disponível para todos. Ele se manifesta nas ordenanças do sacerdócio.14 Nós o acessamos ao fazer e guardar convênios sagrados. Nós o cultivamos por meio de oração sincera e por meio do jejum e banqueteando-nos “com as palavras de Cristo”.15
Talvez vocês conheçam alguém que tenha esse tipo de poder e, portanto, pareça destemido. Provavelmente é alguém que não seria considerado poderoso pelos padrões do mundo, mas cujo poder espiritual é inegável.
Meu pai, que morreu em um acidente há quase trinta anos, era um homem assim. Ainda hoje conheço pessoas que dizem: “Ele foi o homem mais bondoso que já conheci”. Ele trabalhava em uma siderúrgica – não é a mais glamorosa ou prestigiosa das ocupações – e tenho vergonha de dizer que, quando eu era jovem, eu queria que ele fosse mais inteligente, mais descolado e mais rico. Felizmente amadureci desde então, e hoje não há ninguém que admiro mais.
Duvido que algum de vocês já tenha passado um dia em uma siderúrgica, mas digamos que não é o ambiente mais calmo ou limpo. O poder, nesse local, geralmente é afirmado por meio da grosseria e linguagem rude. No entanto, meu pai, em suas mais de três décadas lá, nunca foi conhecido por dizer palavrões ou palavras rudes. Ele nunca sequer levantou a voz. Depois que ele morreu, seus colegas de trabalho nos disseram que sempre podiam contar com ele para ser agradável e positivo, independentemente das circunstâncias. Encontramos enrolados em sua lancheira vários folhetos da Igreja que ele estudava fielmente durante o horário de almoço e frequentemente compartilhava com seus colegas de trabalho, muitos dos quais se tornaram ativos na Igreja por causa de sua bondade e seu exemplo.
Isso é poder destemido. É o tipo de poder que vem para aqueles que confiam em Deus e têm fé em Jesus Cristo — fé para fazer as coisas à maneira Dele, mesmo que seja diferente da maneira do mundo. Essa fé é mais do que mero pensamento positivo ou entusiasmo motivacional. Como ensinou o Profeta Joseph, a fé é poder.16 A fé nos inspira e nos capacita a fazer coisas notáveis e corajosas que não seríamos capazes de fazer de outra forma. Verdadeiramente, esse tipo de fé nos dá o poder e a confiança que “se fortalecerão na presença de Deus”17 e de todas as pessoas.
Se vocês tiverem temores por se sentirem impotentes, convido-os a se voltarem para o Senhor. Recorram ao poder dos convênios que fizeram e que estão guardando. Confiem no poder de Deus, pois ele é mais poderoso do que qualquer poder na Terra. As palavras de Deus para a antiga Israel também são Suas palavras para vocês: “Porque eu, o Senhor teu Deus, te tomo pela tua mão direita, e te digo: Não temas, eu te ajudo”.18
O próximo na lista de Paulo de virtudes que espantam o temor é o amor. Como Paulo e Mórmon ensinaram: “O perfeito amor lança fora todo o medo”.19 Qualquer pessoa que serviu uma missão sabe do que estou falando. Uma missão de tempo integral, se pensarmos bem, seria uma experiência aterrorizante se não fosse por amor — amor a Deus e a Seus filhos. Mas dezenas de milhares de rapazes e moças, incluindo muitos de vocês, servem todo ano porque Deus lhes concedeu o dom do amor cristão.
Todos nós conhecemos jovens missionários que nem sabiam soletrar a palavra Guatemala — muito menos encontrá-la em um mapa — quando receberam seu chamado missionário. Mas, quando voltaram, já tinham a bandeira da Guatemala pendurada na parede do quarto e lembranças do amado povo guatemalteco no coração. Alguns missionários recebem essa dádiva de amor antes mesmo de partirem; outros não a encontram até mais tarde em seu serviço. Mas todo missionário, em algum momento ou outro, tem que aprender a amar as pessoas, caso contrário sua missão será miserável.
Essa foi a maior lição que aprendi como missionário na Argentina, há muitos anos. Durante toda a minha missão, fiz o melhor que pude e fomos abençoados com sucesso, mas meu primeiro ano foi diferente do meu segundo ano. No primeiro ano, meus motivos não eram completamente puros. Eu queria liderar a missão em batismos, subir na hierarquia da missão e impressionar as pessoas. Felizmente, tive um companheiro mais consagrado, que me mostrou como amar e apreciar mais as pessoas, como servi-las com minha alma e meu coração, e como esquecer de mim mesmo e trabalhar com amor. Meu foco e meus motivos mudaram — realmente adquiri um novo coração — e voltei para casa diferente de quando parti.
Talvez o exemplo mais impressionante do poder do amor para vencer o temor venha dos filhos de Mosias e de sua missão extraordinária entre os lamanitas. Acho que não apreciamos plenamente o quão corajosos eles foram. Os lamanitas não eram apenas apáticos em relação ao evangelho — eles eram abertamente hostis. Eram inimigos jurados que rotineiramente matavam nefitas apenas por serem nefitas. Eles não eram necessariamente eleitos! Então, por que os filhos de Mosias fizeram isso?
Eles desejavam que a salvação fosse declarada a toda criatura, porque não podiam suportar que qualquer alma humana se perdesse; e até mesmo a ideia de que alguma alma tivesse de sofrer o tormento eterno fazia-os tremer e estremecer.20
Seu amor intenso era tão poderoso que eles simplesmente tiveram que compartilhar o evangelho com todos. Eles não aguentaram, tinham que fazê-lo. Quando amamos com esse tipo de força e sinceridade, vencemos o temor.
É claro que o amor vence o temor não apenas no trabalho missionário, mas em todos os aspectos da vida. Quando o jovem Gordon B. Hinckley e Marjorie Pay ficaram noivos, Gordon começou a se preocupar com a realidade econômica do casamento durante a década de 1930, marcada pela Grande Depressão. Ele ligou para a noiva e disse que precisavam conversar. Eles combinaram de se encontrar no almoço.
“Acho que você deve saber”, ele disse a ela, “que eu só tenho 150 dólares em meu nome”. Ele acrescentou que ganhava apenas 185 dólares por mês.
Marjorie aliviou seus temores com sua resposta inesperada e otimista: “Ah, vai dar tudo certo; se você tem 150 dólares, estamos prontos!”
Refletindo sobre seus pensamentos naquele dia, Marjorie disse: “Eu queria um marido e agora estava recebendo 150 dólares também!”21 O amor e a fé da Irmã Hinckley a capacitaram a “não temer” quando começaram sua vida juntos — um casamento que se tornaria quase sete décadas de amor, fé e serviço.
O amor dá sentido à vida, mesmo em meio às incertezas. É o que nos mantém seguindo em frente quando sentimos vontade de desistir; pode ser o que nos motiva a sair da cama de manhã e nos traz tranquilidade ao dormir à noite. O amor é a essência do evangelho de Jesus Cristo. Ele não tem fim nem limites. Ele permanece quando tudo dá errado. O amor nunca desiste e nunca se esgota; ele simplesmente persevera e supera. Na verdade, ele “nunca falha”.22
Não podemos encontrar esse tipo de amor no mundo. Basta examinar como a cultura popular usa o termo amor e é óbvio que Satanás simplesmente não entende. Sempre, as falsificações do amor se transformam rapidamente em egoísmo, luxúria, orgulho e até mesmo ódio pouco velado.
Deus, por outro lado, não só entende o amor, Ele é o amor.23 De fato, as nossas expressões de amor são apenas ecos e aproximações do amor contínuo e ilimitado de Deus. Nossos esforços para cultivar o amor falhariam se não fossem as infusões do amor divino ao longo do caminho. Por fim, todo amor vem de Deus. Quanto mais O buscarmos, mais sentiremos Seu amor operando uma mudança vigorosa em nosso coração — e no coração daqueles a quem amamos. O que poderíamos temer quando estamos cheios desse amor?
Há vários anos, em uma noite fria de inverno, alguns de nossos parentes se ofereceram para servir o jantar em um abrigo para os sem-teto durante a época de Natal. No início, algumas das crianças mais novas ficaram um pouco assustadas com as imagens, cheiros e sons do abrigo da periferia da cidade. Eles nunca haviam estado tão perto de um ambiente de tal angústia antes. Mas, com o tempo, um pequeno milagre de Natal aconteceu.
Ao servirmos a refeição quente, todos começamos a interagir com os moradores de rua. Trocamos sorrisos, risadas e conversa. Depois começou a cantoria. Ninguém realmente se lembra de quem começou a cantar primeiro — talvez um dos moradores ou uma das crianças —, mas em pouco tempo todos estavam cantando canções natalinas. O ambiente se encheu do doce espírito do Natal. Tornou-se como uma grande festa, quase uma reunião de família. Eles não eram mais estranhos, mas irmãos e irmãs, filhos do mesmo Deus. Foi poderoso, pessoal e comovente — uma noite inesquecível.
Isso me lembrou de uma passagem de Um Conto de Natal, de Charles Dickens, quando o sobrinho de Scrooge, Fred, defende o Natal com bastante ousadia contra os resmungos de seu tio. Ele descreveu o Natal como:
uma época de gentileza, perdão, caridade e alegria. A única que eu conheço, no longo calendário do ano, na qual homens e mulheres parecem abrir de boa vontade seus corações fechados e pensar nas pessoas (…) como seus legítimos companheiros na viagem para o túmulo (…) e não como uma raça estranha, viajando para um outro lugar.24
Nenhum anjo celeste cantou naquela noite no abrigo — pelo menos não no sentido literal —, mas o céu parecia próximo. Sentimos amor — amor a Deus, uns aos outros e a toda a humanidade. Quando a noite terminou e fomos para fora onde estava escuro e frio, cada um de nós sentiu a alegria e o significado do Natal mais profundamente. As estrelas brilharam um pouco mais, e todos nós sentimos um pouco mais próximos de alguns de nossos companheiros de viagem nesta jornada da vida que temos em comum.
Se estiverem com temor — quaisquer que sejam seus temores —, convido-os a se voltarem para o Senhor e a confiarem em Seu amor, em Sua bondade e em Sua graça. Tudo isso é mais poderoso do que qualquer força na Terra. Suas palavras amorosas para os primeiros santos também são Suas palavras para vocês: “Não temais, filhinhos, porque sois meus e eu venci o mundo”.25
Finalmente, além do poder e do amor, Deus nos deu o espírito de uma mente sã para dissipar o temor. [Nota do tradutor: no inglês, a palavra que 2 Timóteo 2:7 usa é “sound mind”, que quer dizer “mente sã”. Em português, a palavra é “moderação”.] O que quer dizer ter mente sã? Uma mente sã está relacionada com segurança, proteção e confiança. Como conseguimos ter uma mente sã? Ancorando-nos na rocha mais segura e confiável do oceano: o Senhor Jesus Cristo e Seu evangelho restaurado.
Vocês, eu e o resto do mundo estamos no meio de uma tempestade intelectual, um furacão de filosofias e ideologias, com ventos de doutrina que levam muitos de nós de um lado para o outro. Grupos e indivíduos que são antagônicos em relação à religião em geral, ao cristianismo em particular e aos Santos dos Últimos Dias especificamente estão ganhando influência e espalhando suas mensagens enganosas. Seu objetivo é simples: destruir a fé. Infelizmente, todos nós temos amigos ou entes queridos que se tornaram vítimas disso. Em tais circunstâncias, não é fácil manter uma mente lúcida ou evitar o temor. Somente aqueles que ancoraram sua vida firmemente no Salvador sobreviverão.
Para usar imagens que talvez sejam mais familiares do que furacões e âncoras, em um lugar como Provo, longe do mar, considere as belas montanhas que ficam do lado de fora deste edifício — a frase “as sombras das montanhas eternas” vem à mente. Elas me parecem bem estáveis e permanentes, não? Elas não parecem que irão desaparecer tão cedo. Mas, por mais firmes que essas montanhas pareçam, eu jamais confiaria minha segurança espiritual nelas. Acho que isso pode ser em parte o que Isaías estava tentando dizer quando profetizou: “Todo vale será exaltado, e todo monte e todo outeiro serão abatidos”.26 Isaías continuou: “Seca-se a erva, e caem as flores, porém a palavra de nosso Deus subsiste eternamente”.27
Vocês se lembram de como a grama estava verde no campus há apenas alguns meses? Se lembram das flores coloridas que antes adornavam os pátios? Parece uma lembrança distante em um dia frio de inverno como hoje, não é? Bem, em comparação com a palavra de Deus, todos os dogmas, reinos e instituições do homem são tão permanentes quanto a grama seca e a flor caída. Se eu depositasse minha confiança em algo tão fugaz, eu definitivamente temeria. Isso certamente não é o produto de uma mente sã. Não, nesta temestade prefiro refugiar-me na palavra de Deus.
Foi isso que Jacó, irmão de Néfi, fez. Ele banqueteou-se com as escrituras, deleitando-se nelas e valorizando-as, de modo que, quando Serém, que era carismático e persuasivo, apareceu, procurando “destruir a doutrina de Cristo”,28 “[desviando] muitos corações”29 e eventualmente tendo Jacó como alvo de suas agressões, Jacó “não podia ser abalado”.30 Ele simplesmente tinha muitas experiências espirituais com a verdade eterna para ser enganado por qualquer mentira.
Se pudermos seguir o exemplo de Jacó e edificar nossa vida sobre o firme alicerce da palavra de Cristo, receberemos uma bênção adicional além da imunidade contra mentiras. Nos momentos em que precisarmos de correção, quando surgirem perguntas e dúvidas sérias ou quando mais revelação for necessária para nos estimular a agir mais, não ficaremos ofendidos, perturbados, impacientes ou enganados. Na verdade, nos alegraremos em receber com mansidão mais da palavra divina que amamos tanto.
Quando Jacó teve que repreender seu povo, ele notou “que as palavras da verdade são duras contra toda impureza, mas os justos não as temem, porque amam a verdade e não se abalam”.31 Ele observou que para aqueles que “[são] puros de coração” a palavra de Deus é “agradável” e eles “[banqueteiam-se] com seu amor” porque “para sempre, [sua] mente [é] firme”.32
Vocês conseguem ver como homens e mulheres de mente sã, firmemente ancorados no evangelho de Jesus Cristo, não precisam temer? Quando o testemunho e a verdadeira conversão ardem no coração e na mente, eles não se incomodam com as modas e filosofias mais recentes dos homens, porque as reconhecem pelo que são. E não temem em receber a verdade mesmo que ela exija que mudem. Néfi disse a respeito dessas almas humildes, porém sólidas como uma rocha: “Pois eis que o que está edificado sobre a rocha recebe [a verdade] com júbilo [enquanto] o que está edificado sobre um fundamento de areia treme de medo de cair”.33
Vamos nos inspirar nessas palavras vigorosas de um hino favorito. Elas estão escritas como se viessem da própria boca do Senhor:
Se Deus é convosco, a quem temereis?
Ele é vosso Deus, seu auxílio tereis.
Se o mundo vos tenta, se o mal faz tremer,
Com mão poderosa (…) vos há de suster.
Verdadeiramente, um firme alicerce pode nos suster ao enfrentarmos todos os tipos de dificuldades na vida — fausto, dor, pobreza, riqueza, torrentes, dardos inflamados e provas de fogo — porque
A alma que em Cristo confiante repousar,
A seus inimigos não há de se entregar.
Embora o inferno a queira destruir, (…)
Deus nunca, oh, nunca, o há de permitir.34
O Senhor está pronto para ajudar. Convido-os a se voltarem para o Senhor e edificar sobre Seu firme alicerce. Ele é mais poderoso e permanente do que qualquer alicerce na Terra. O mundo precisa de sua força e seu poder espiritual, de seu amor e de sua luz, de sua mente e de seus corações lúcidos. As palavras do Senhor para Joseph Smith e Oliver Cowdery também são Suas palavras para vocês:
Não temais, pequeno rebanho; fazei o bem; deixai que a Terra e o inferno se unam contra vós, pois se estiverdes estabelecidos sobre minha rocha, eles não poderão prevalecer. (…)
Buscai-me em cada pensamento; não duvideis, não temais.35
Não sei se fiz parte do coro celestial que cantou “glória a Deus” na noite daquele primeiro Natal, mas certamente posso acrescentar meu humilde testemunho ao dos anjos: Testifico que Jesus Cristo é o Filho de Deus. E porque “[naquele dia], na cidade de Davi, [nos] nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor”, não precisamos temer, pois Ele realmente trouxe consigo paz na terra e boa vontade para com os homens. Testifico que essas novas de grande alegria são para todo o povo — inclusive para mim e para vocês.36 Em nome de Jesus Cristo. Amém.
Lloyd D. Newell era a voz e o escritor do programa Música e a Palavras de Inspiração e professor de história e doutrina da Igreja na BYU quando esse discurso foi dado no devocional em 9 de dezembro de 2014.