Transformando inimigos em amigos
Primeira conselheira na presidência geral da Sociedade de Socorro
23 de janeiro de 2018
Primeira conselheira na presidência geral da Sociedade de Socorro
23 de janeiro de 2018
Se mudarmos a nossa perspectiva de que cuidar dos pobres e necessitados tem menos a ver com doar bens materiais e mais com saciar o desejo por contato humano, seja por meio de conversas valiosas ou da criação de laços enriquecedores e positivos, então o Senhor poderá nos enviar a qualquer lugar.
Pretendemos modificar a tradução se for necessário. Para dar sugestões, envie um e-mail para: speeches.por@byu.edu
Na Universidade Brigham Young, há muitos anos, havia um grande treinador de atletas chamado Eugene L. Roberts. Ele cresceu em Provo e, como jovem, andava com más amizades. Então algo extraordinário aconteceu. Vou ler para vocês suas palavras. Ele escreveu:
Há vários anos, quando a cidade de Provo estava marcada por bares horrorosos e outras formas questionáveis de diversão, eu estava certa noite na rua esperando por meu grupo de amigos aparecer quando percebi que o tabernáculo de Provo estava iluminado e que uma grande multidão de pessoas estava indo nessa direção. Eu não tinha nada para fazer, então fui até lá e entrei. Pensei que poderia encontrar alguns amigos, ou pelo menos algumas das garotas que me interessavam. Ao entrar, deparei-me com três ou quatro companheiros meus e ficamos na galeria, onde havia uma multidão de moças, que pareciam querer se divertir conosco.
Não estávamos interessados nas mensagens que vinham do púlpito. Sabíamos que as pessoas na tribuna eram todas velhas. Eles não sabiam nada sobre a vida e certamente não podiam nos dizer nada, pois sabíamos de tudo. Então nos sentamos para nos divertir. Bem no meio de nosso algazarra, veio do púlpito, como um trovão, a seguinte declaração:
“Não é possível conhecer o caráter de um indivíduo pela maneira como ele realiza seu trabalho diário. Observem-o após o trabalho. Vejam para onde ele vai. Observem os amigos que ele procura e as coisas que ele faz em seu tempo livre. Então vocês podem conhecer seu verdadeiro caráter.”
Olhei para o púlpito porque fiquei impressionado com esta poderosa declaração. Vi lá em cima um homem de cabelos escuros, olhos ferozes, que eu conhecia e temia; mas pelo qual não tinha nenhum amor especial.
Ele continuou e fez uma comparação. Ele disse:
“Consideremos a águia, por exemplo. Esta ave trabalha tão árdua e eficientemente como qualquer outro animal em fazer o seu trabalho diário. Ela sustenta a si mesma e a seus filhotes pelo seu suor, por assim dizer; mas quando o seu trabalho diário terminar e a águia tiver tempo livre para fazer o que quiser, observe como ela passa seus momentos de lazer. Ela voa para as altitudes mais elevadas do céu, abre as asas e desfruta a atmosfera superior, pois ama o ar puro e limpo e as altitudes exuberantes.
Por outro lado, consideremos o porco. Esse animal grunhe e fareja e sustenta seus filhotes tão bem quanto a águia; mas, após terminar seu trabalho e tendo alguns momentos de lazer, observe para onde ele vai e o que faz. O porco buscará o buraco mais lamacento do campo e rolará e se chafurdará na lama, pois é isso que ele ama. As pessoas ou são porcos ou são águias em seus momentos de lazer”.
Ora, quando ouvi este breve discurso, fiquei estupefato. Virei-me para meus companheiros, embaraçado, pois senti vergonha de ter sido pego ouvindo-o. Imagine minha surpresa ao encontrar todos do meu grupo com sua atenção voltada ao orador.
Saímos do tabernáculo naquela noite em silêncio e nos separamos uns dos outros mais cedo do que normal. Pensei nesse discurso durante todo o caminho para casa. Classifiquei-me imediatamente como pertencente à família dos porcos. Tenho pensado sobre esse discurso ao longo dos anos. Naquela noite, foi implantado em mim o tênue começo de uma ambição de me elevar do grupo dos porcos ao grupo das águias.
Naquela mesma noite, também foi implantado em mim o tênue começo de uma ambição de ajudar a preencher os buracos de lama no campo social para que aquelas pessoas com tendências de porco tivessem dificuldade em se misturar no lamaçal recreativo. E como resultado de uma reflexão constante sobre esse discurso, fui estimulado a dedicar toda a minha vida e profissão ao desenvolvimento de atividades de lazer edificantes para os jovens, para que fosse natural e fácil para eles se entregarem ao lazer do tipo águia.
O homem que deu aquele discurso que afetou a minha vida mais do que qualquer outro que já ouvi foi o Presidente George H. Brimhall. Que Deus o abençoe.1
Este é o final da história de Eugene L. Roberts. George Brimhall foi presidente da BYU há cem anos. Ele foi o presidente que ajudou na transição da Academia Brigham Young para uma universidade. Ele era o Presidente Worthen da época. E ele era respeitado e admirado por sua capacidade de comover as pessoas — da maneira como ele comoveu Eugene. Talvez o Presidente Brimhall nunca tenha percebido que seu discurso no Tabernáculo de Provo naquele dia tocou alguém como Eugene, mas a verdade é que o discurso mudou completamente a vida do rapaz, que se tornou um professor respeitado e treinador na BYU.
Refleti muito sobre a seguinte pergunta, e vocês provavelmente também fizeram o mesmo: O que gosto de fazer em meu tempo livre? Serei um porco ou uma águia?
Talvez vocês sejam como eu por se perguntarem: “Que tempo livre?” Sei que vocês são alunos universitários ocupados, com chamados na Igreja, trabalho, família, amigos e muitas obrigações. Mas, depois de uma experiência que tive há algumas semanas, percebi que, por mais ocupada que eu ache que esteja, o Senhor coloca oportunidades no meu caminho, e tudo o que preciso fazer é aproveitá-las.
A experiência que tive foi depois do funeral do Presidente Thomas S. Monson. A família Monson perguntou à Sociedade de Socorro se poderíamos entregar as dezenas de arranjos de flores que haviam sido enviados para o funeral do Presidente Monson em diferentes casas de repouso e hospitais ao redor do vale. Levei um desses grandes e belos arranjos para uma casa de repouso que ficava bem perto da casa da família do Presidente Monson. A mulher atrás da recepção perguntou o que eu estava fazendo, porque o arranjo era enorme. Mas, quando ela entendeu o que eu estava entregando, abriu um sorriso, porque o Presidente Monson era muito conhecido e amado naquela casa de repouso. Descobri que ele passava muitas horas de seu tempo livre visitando as pessoas de lá.
Creio que o Senhor muitas vezes não está pedindo de nós gestos grandiosos e demorados; Ele simplesmente quer minutos de nosso tempo todos os dias para ajudar as outras pessoas em suas jornadas.
Reservem um momento para pensar em seu próprio avô, nas lições que vocês podem ter aprendido com ele e no papel que ele representou ou representa em sua vida. Quero falar sobre Amon e os outros filhos de Mosias. Eles tinham um avô muito famoso. O avô deles era o rei Benjamim.
O rei Benjamim ensinou uma verdade profunda e convincente que ainda nos motiva hoje, séculos depois. Na verdade, há um banco de alimentos em Las Vegas que é administrado por membros de uma outra religião que se identificaram tanto com as palavras do rei Benjamim que as escreveram na parede do prédio do banco de alimentos. O versículo tem apenas 29 palavras, mas mudou para sempre como eu quero passar meu tempo livre. A escritura é Mosias 2:17, e é muito famosa:
E eis que vos digo estas coisas para que aprendais sabedoria; para que saibais que, quando estais a serviço de vosso próximo, estais somente a serviço de vosso Deus.
Em sua juventude, Amon estava ainda mais perdido do que Eugene Roberts. Ele passava o tempo com seus amigos, dizem as escrituras, “procurando destruir a igreja e desviar o povo do Senhor”.2
Bem, Amon teve uma conversão milagrosa, como sabemos. E como resultado, a semente das 29 palavras de seu avô começou a crescer em seu coração. Amon e seus três irmãos, que haviam chafurdado como porcos em sua juventude, queriam voar como águias. Eles sentiram a inspiração de ir para a terra dos lamanitas. Por quê? As escrituras dizem:
E certamente era grande, porque se haviam proposto a pregar a palavra de Deus a um povo selvagem, duro e feroz, um povo que se deleitava em matar os nefitas e roubá-los e despojá-los; e seu coração estava nas riquezas, ou seja, no ouro e na prata e nas pedras preciosas; mas procuravam obter essas coisas pelo assassínio e pilhagem, para não terem que trabalhar por elas com as próprias mãos.3
Por que Amon e seus irmãos queriam passar seu precioso tempo fazendo algo que provavelmente seria uma perda de tempo, não teria nenhuma mudança positiva e resultaria em morte? Eles poderiam estar se estabelecendo e ocupando seus cargos no governo; poderiam ter se tornado grandes líderes na comunidade.
Mosias 28:3–4 nos diz o motivo:
Não podiam suportar que qualquer alma humana se perdesse; e até mesmo a ideia de que alguma alma tivesse de sofrer o tormento eterno fazia-os tremer e estremecer.
E assim agia o Espírito do Senhor sobre eles, porque eram os mais vis pecadores. E o Senhor, na sua infinita misericórdia, julgou prudente poupá-los;
Então, foram para a terra dos lamanitas. Vocês conhecem a história:
E quando Amon entrou na terra de Ismael, os lamanitas pegaram-no e amarraram-no, pois era seu costume amarrar todos os nefitas que caíam em suas mãos [Amon não foi o primeiro] e levá-los à presença do rei; e assim ficava a critério do rei matá-los ou retê-los cativos ou mandá-los para a prisão ou desterrá-los, segundo a sua vontade e prazer. (…)
E assim Amon foi levado à presença do rei que governava a terra de Ismael e cujo nome era Lamôni; (…)
E o rei perguntou a Amon [de forma sarcástica] se era seu desejo morar na terra, entre os lamanitas, ou entre [o] povo [do rei Lamôni].
E [então] Amon [surpreendeu-o e] respondeu-lhe: Sim, desejo habitar com este povo por algum tempo; sim, e talvez até o dia de minha morte. (…)
(…) [E] serei teu servo.4
O avô de Amon não teria gostado de ouvir isso de seu neto? “Serei teu servo.”
Amon foi designado para ser um pastor. Os outros servos — o restante dos pastores que estavam lá — provavelmente não tinham o mesmo interesse em Amon como o rei Lamôni. Não sei como foram aqueles três dias em que Amon estava trabalhando como pastor, mas suspeito que os lamanitas não ficaram entusiasmados com o fato de um nefita estar com eles fazendo seu trabalho.
Mas, três dias depois, depois de tudo o que estava acontecendo, surgiu um problema, e os rebanhos foram dispersos por alguns homens selvagens. Amon “viu as aflições daqueles a quem chamava de seus irmãos“5; ele os considerava seus irmãos. Quando aquele evento catastrófico aconteceu, quando os homens dispersaram as ovelhas, os servos ficaram com medo de serem mortos, e o coração de Amon se encheu de alegria. Ele percebeu que aquela era uma boa oportunidade para servir seus irmãos.
Isso não é extraordinário? Ele não os considerava lamanitas, inimigos, adversários ou um bando de pessoas ruins; ele sentia que eram seus irmãos.
Essa atitude de ser servo de seus irmãos deu a Amon a oportunidade de ter outra conversa com o rei lamanita. Um pecador arrependido ensinou o outro, e o coração do rei lamanita foi acordado para a realidade de seus próprios pecados e hábitos. Ele questionou em seu coração como poderia se reconciliar com Deus e ter aqueles pecados e assassinatos removidos pelos méritos de Jesus Cristo. Amon e o rei Lamôni passaram a se entender e tornaram-se amigos. No final, eles estavam dispostos a dar a vida um pelo outro.
Eu absolutamente amo a coragem desses jovens príncipes, estes filhos de Mosias, de serem servos e exemplos da paz que é oferecida por meio do Senhor Jesus Cristo quando nos arrependemos e O servimos, por mais vis que sejam nossos pecados.
Como O servimos? A resposta está na sabedoria de um avô: “Quando estais a serviço de vosso próximo, estais somente a serviço de vosso Deus.”
Amo a coragem do rei Lamôni, de seu pai e de seu irmão ânti-néfi-leíta e como eles abandonaram a lama para que pudessem voar. O pai de Lamôni deixou-nos esta bela passagem das escrituras: “Ó Deus, (…) abandonarei todos os meus pecados para conhecer-te”.6
Deixem-me dar um exemplo mais moderno de um pensamento menos convencional de como podemos estender a mão a outras pessoas. A maioria de vocês se lembra da Irmã Linda K. Burton, que foi presidente geral da Sociedade de Socorro. Na Conferência Geral de abril de 2016, ela citou uma escritura que é reverenciada por cristãos, muçulmanos e judeus.7 A escritura se encontra em Levítico 19, e diz:
E quando o estrangeiro peregrinar contigo na vossa terra, não o oprimireis.
Como um natural entre vós será o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-ás como a ti mesmo, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o Senhor vosso Deus.8
A Irmã Burton pediu a cada um de nós que pensássemos nos estrangeiros entre nós. Há alguém que, por algum motivo, não participa da sociedade? Alguém que se sente marginalizado? Alguém que, por causa de idioma, origem, deficiência, religião, situação familiar, escolhas da vida ou qualquer outra coisa, não participa integralmente do círculo? Podemos considerar essas pessoas como irmãos e irmãs? Podemos servi-las?
Desde que a Irmã Burton deu esse discurso em 2016, fiquei admirada com quantos exemplos foram compartilhados em relação a esse grande convite à ação. Quero compartilhar um com vocês. Eu li esta história no Deseret News, um jornal publicado por A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Aconteceu no colégio Lincoln situado no sul de Salt Lake City, que tem alunos de 15 países diferentes.
No primeiro dia de aula, os irmãos Hamed, que haviam chegado recentemente da Síria, foram recebidos pelo diretor, Milton Collins. Ele tem uma personalidade marcante e imita um rosnado esquisito de lince (o mascote do colégio Lincoln) – não consigo imaginar como deve soar. Ele garante que cada criança tenha uma mochila e diz: “Ah, a propósito, um “bate aqui” é obrigatório. Sempre que vocês me virem no corredor, vocês devem me dar um “bate aqui”’. E, se os alunos se sentirem intimidados por outros estudantes, eles devem recorrer diretamente a um adulto.9
O trabalho de Milton Collins é ser o diretor – ele está fazendo seu trabalho – mas ele está fazendo além de seu trabalho para ser uma influência inesquecível para o bem na vida das crianças. Eles vivenciaram bombardeios, fome, morte de entes queridos e incertezas. E agora, no primeiro dia de aula, eles estão morrendo de medo. Eles não sabem se vão se adaptar ou se vão ter amigos. E seus pais estão ainda mais assustados do que eles. Como verdadeiros discípulos de Jesus Cristo, devemos ter conosco durante toda a vida o hábito de ter coragem, de estar dispostos a servir e ajudar as pessoas com seus problemas e de pensar nos outros como se fossem nossos irmãos e irmãs.
As grandes crises humanitárias que estão acontecendo agora e as que aconteceram no passado, quando as pessoas foram expulsas de suas casas e terras, são, no fundo, uma falha na importância de lembrar que somos irmãos e irmãs e que Deus é o Pai de todos nós. Essa é a causa principal do que está acontecendo no mundo. E quando respondemos de forma humanitária, podemos enviar quilos de alimentos, cavar poços, construir latrinas, abrir escolas e postos de saúde e acomodar as pessoas em apartamentos. Mas, se não fizermos algo a respeito das pessoas que se sentem como estrangeiras ao invés de se sentirem como nossos irmãos e irmãs, então tudo será em vão e apenas alimentará o ciclo de miséria emocional e espiritual.
Amon, a Irmã Burton e Milton Collins estão usando como alicerce o que o rei Benjamim ensinou: que servir ao próximo é servir a Deus — ou, como o próprio Jesus disse: “Como eu amei a vós (…) Ameis uns aos outros”.10
Existem muitas, muitas organizações e pessoas que fazem enormes quantidades de boas ações no mundo com seus recursos limitados e seu desejo semelhante ao do rei Benjamim de servir ao próximo e a Deus. Tenho o privilégio de trabalhar com muitas delas e posso ver o que está sendo feito no mundo. Vou falar-lhes agora, a partir de minha própria experiência, sobre o que tenho visto que produz o bem mais duradouro. Se vocês quiserem se engajar no serviço humanitário, este é o caminho – e espero que seja isso que vocês se lembrem desta nossa conversa de hoje. Vocês são a dádiva. Vocês mesmos são a dádiva. Não são as roupas, os kits de higiene, as carteiras escolares ou os poços de água. São vocês.
Como seria se cada um de nós fosse nossa própria organização humanitária bem preparada? Em vez de apenas distribuir bens materiais em locais estrangeiros, como seria se tivéssemos a habilidade de distribuir cura, amizade, respeito, diálogo pacífico, interesse sincero, assim como ouvir as crianças de modo a protegê-las e lembrar de aniversários e conversas com estranhos? Como seria se fosse isso o que sua organização humanitária fizesse? Esse tipo de trabalho humanitário pode ser feito por qualquer pessoa e pode ser feito em qualquer momento. E vocês não precisam de armazéns, campanhas de arrecadação ou transporte. Vocês podem responder perfeitamente a qualquer necessidade que surgir, onde quer que estejam.
Gostaria de compartilhar uma citação do Élder Robert D. Hales sobre este tipo de organização humanitária. Ele estava falando sobre as interações entre pais e filhos, mas pensem nisto como um manual de como vocês podem estender ofertas humanitárias para as pessoas de forma geral.
Quero hoje incentivar os pais e todos os que foram chamados para liderar e servir aos jovens neste mundo. (…)
(…) Como pai e avô (…) Gostaria de compartilhar com vocês o que aprendi. (…)
(…) Para realmente compreender o coração [dos jovens], precisamos fazer mais do que apenas estar no mesmo lugar ou participar das mesmas atividades em família ou na Igreja. Precisamos planejar e aproveitar momentos de ensino que deixem uma impressão marcante e duradoura na mente e no coração deles. (…)
(…) Mães e pais, ao levar seus filhos para a escola ou para suas várias atividades, será que vocês aproveitam o tempo para conversar com eles sobre as esperanças, sonhos, temores e alegrias que eles têm? Vocês se dão ao trabalho de fazer com que eles tirem do ouvido os fones de seus MP3 ou de qualquer outro aparelho para que eles possam ouvi-los e sentir seu amor? (…)
(…) Lembro-me de um rapaz que pediu para jogar beisebol na hora do jantar. “Basta deixar meu prato no forno”, disse eu para minha mãe. Ela respondeu: “Robert, quero muito que você faça uma pausa, volte para casa, esteja com a família durante o jantar, e depois pode sair e jogar beisebol até ficar escuro”. Ela ensinou a todos nós que as refeições em família eram mais do que alimento, eram uma interação da família, que nutria a alma. (…)
Para que nossas interações com os jovens realmente toquem o coração deles, temos que dar atenção a eles, assim como damos atenção a um colega adulto de confiança ou a um amigo chegado. O mais importante é que façamos perguntas, deixemos que falem, e depois, tenhamos a disposição de ouvir — sim, ouvir — e ouvir um pouco mais, com nossos ouvidos espirituais! Há vários anos, eu lia o jornal quando um de meus netos foi sentar-se a meu lado. Enquanto eu lia, fiquei feliz em ouvir sua doce voz tagarelando ao fundo. Imaginem minha surpresa quando, de repente, ele se interpôs entre o jornal e eu. Segurou meu rosto com as mãos, encostou o nariz no meu e perguntou: “Vovô! Você está aí?“
Mãe, pai, vocês estão aí? Vovô, vovó, vocês estão aí? Estar aí significa compreender o coração de nossos jovens e conectar-nos com eles. E conectar-nos com eles significa não apenas conversar com eles, mas também realizar atividades com eles. (…)
Rogo que as bênçãos do Senhor estejam com os pais e com os jovens (…), para que compreendam a alegria que é estar em um lar e em uma família nos quais possam ser amados, orientados e instruídos. É minha oração que tenhamos uma família eterna e estejamos juntos para sempre na presença de Deus, o Pai, e de Seu Filho Jesus Cristo.11
Penso nos exemplos que os profetas nos deram. Em todas as histórias que conhecemos sobre o Presidente Monson — e eu vi isto com meus próprios olhos naquela casa de repouso — ele ia regularmente, sentava-se e conversava com pessoas que não tinham ninguém para conversar. Por acaso, eu estava na sala onde a família do Presidente Russell M. Nelson estava esperando durante a coletiva de imprensa quando a nova Primeira Presidência foi anunciada. Ele tem 57 netos e 116 bisnetos. Uma de suas netas, que estava me contando isso, disse: “Ah, ele sabe o nome de todo mundo e o aniversário de todo mundo. Ele é o tipo de pessoa que se lembra dessas coisas mais do que qualquer outra pessoa.”
Esses são os exemplos de nossos profetas. Não são exemplos gigantes e enormes, mas são significativos. Penso no Salvador, que salvou toda a humanidade; Ele tinha que ensinar Seu evangelho em uma cultura que não o entendia. Essa mensagem tinha que ser levada para todo o mundo. E o que Ele fez? Ele caminhou mais de 160 quilômetros de Dã até Berseba e de volta e ministrou às pessoas individualmente. Ora, como isso levaria o evangelho para o mundo inteiro? Mas foi o que Ele fez.
Se mudarmos a nossa perspectiva de que cuidar dos pobres e necessitados tem menos a ver com doar bens materiais e mais com saciar o desejo por contato humano, seja por meio de conversas valiosas ou da criação de laços enriquecedores e positivos, então o Senhor poderá nos enviar a qualquer lugar. Cada pessoa pode fazer isso por conta própria. Vocês não precisam de ajuda financeira para isso, mas precisarão de algum comprometimento. Algumas pessoas não responderão positivamente, e outras terão uma atitude tóxica, o que só significa que elas ainda não estão prontas para seu relacionamento. Sempre haverá lugares com necessidades humanitárias fora do nosso alcance. Mas há muitos outros que podemos alcançar.
Vivemos em um mundo que está se desfazendo, que está sendo despedaçado, de modo que a união da comunidade e o respeito pelas crenças alheias, a tolerância às diferenças e a proteção da voz da minoria estão sendo destruídos. É extremamente destrutivo para todos nós quando todos fora do nosso pequeno clã se tornam inimigos. À medida que essas forças em nossa sociedade surgem, também deve haver um forte sentimento e habilidade do lado oposto.
Se eu tivesse poder, faria com que cada um de vocês viesse e ficasse na minha frente, e eu nomearia cada um de vocês como embaixador humanitário da paz e da amizade da Igreja de Deus para o reino de Deus. Não se trata de ser bom ou ruim, rico ou pobre. Os filhos de Mosias e o povo lamanita do rei Lamôni nos mostraram que todos falhamos, que de vez em quando criamos caos, que todos sofremos com pecados diferentes e que estamos todos na lama. Mas, por meio da graça de Jesus Cristo, podemos nos arrepender e continuar tentando ser melhores — ser mais semelhantes a Ele. E ao tentarmos ser como Ele, podemos fazer alianças com outras pessoas que também estão tentando fazer o bem de maneiras que podem ser muito diferentes das nossas, que estão se esforçando para fazer as coisas certas pelos motivos certos e que estão se recuperando das consequências de seus erros da mesma forma que nós: por meio das virtudes de Deus, quando essas outras pessoas pedem ajuda a Ele.
Quero encerrar com as palavras que o Senhor falou em Doutrina e Convênios. Ele as disse diretamente a embaixadores que, como vocês, Ele chama constantemente. Essa não é uma escritura agradável que nos lisonjeia; mas sim um ousado e vibrante convite à ação para pessoas como nós, que colocam o coração na segurança e na igualdade de oportunidades para todas as pessoas — ou, em outras palavras, Sião.
Esta escritura vem de Doutrina e Convênios 58:
Eis que em verdade vos digo [e vocês podem inserir seus nomes aqui], que por este motivo vos enviei — para que fôsseis obedientes e para que vosso coração estivesse preparado para prestar testemunho das coisas que estão para vir;
E também para que tivésseis a honra de estabelecer o alicerce e de testificar quanto à terra na qual a Sião de Deus será edificada;
E também para que um banquete de coisas gordas fosse preparado para os pobres; sim, um banquete de coisas gordas, de vinho puro bem refinado, para que a Terra saiba que a boca dos profetas não falhará;
Sim, uma ceia da casa do Senhor, bem preparada, para a qual todas as nações serão convidadas.
Primeiro o rico e o instruído, o sábio e o nobre;
E depois vem o dia do meu poder; então o pobre, o coxo e o cego e o surdo virão às bodas do Cordeiro e participarão da ceia do Senhor, preparada para o grande dia que virá.
Eis que eu, o Senhor, o disse.
E para que o testemunho saia de Sião, sim, da boca da cidade da herança de Deus —
Sim, por essa razão mandei-vos.12
As perguntas que quero deixar com vocês hoje são estas: Como vocês ajudarão aqueles que são pobres de espírito? Será que podem criar uma comunidade unindo pessoas da mesma forma que poderiam criar uma colcha unindo retalhos? Qual inimigo vocês começarão a ver como um irmão? Querem viver sua vida como um porco ou como uma águia?
O Senhor disse: “Por essa razão mandei-vos”. Se vocês sentem que estão presos em um buraco e não podem bater as asas como uma águia por causa de toda a lama que está sobre elas, então tenham coragem. Tenham em mente os filhos de Mosias. Tenham como exemplo Lamôni e seu povo.
O Senhor deseja usá-los. Há um trabalho a ser realizado por vocês, específico para vocês e suas habilidades. Ninguém será o embaixador que vocês serão. No entanto, precisam estar limpos para fazer isso. Jesus pode tirá-los da lama e colocá-los em seu caminho. Arrependam-se, e Ele os perdoará. E lembrem-se: assim como o Salvador, vocês próprios são uma das melhores dádivas que poderão oferecer aos necessitados.
Esse é meu testemunho. Tem sido verdade em minha própria vida, e oro para que seja assim para todos nós, em nome de Jesus Cristo. Amém.
Notas
1. Eugene L. Roberts, “The Eagle and the Pig” [A águia e o porco], Young Woman’s Journal 32, no. 7, (julho de 1921): 386–87; ver também Raymond Brimhall Holbrook e Esther Hamilton Holbrook, The Tall Pine Tree: The Life and Work of George H. Brimhall [O pinheiro alto: A vida e a obra de George H. Brimhall] (United States: R. B. e E. H. Holbrook, 1988), 111–113.
2. Mosias 27:10.
3. Alma 17:14.
5. Alma 17:30; grifo do autor.
6. Alma 22:18.
7. Ver Linda K. Burton, “I Was a Stranger” [Era estrangeiro], Ensign, maio de 2016.
9. Ver Allison Pond, “Special Report: How Utah Became One Refugee Family’s Final Chance at Survival”, InDepth, Deseret News, 18 de dezembro de 2017, deseretnews.com/article/900005809/special-report-how-utah-became-one-familys-final-chance-at-survival.html.
10. João 13:34.
11. Robert D. Hales, “Nosso Dever para com Deus: A Missão dos Pais e Líderes para com a Nova Geração”, Liahona, maio de 2010; grifo no original; veja trechos de vídeo compilados, “Parenting: Touching the Hearts of Our Youth” [Parentalidade: Tocar o coração de nossos jovens], YouTube, youtube.com/watch?v=-cxHd773Ya0.
12. D&C 58:6–14.
Sharon Eubank, primeira conselheira na presidência geral da Sociedade de Socorro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e diretora dos Serviços Humanitários SUD, deu esta palestra em 23 de janeiro de 2018.