Todas essas ações lhes darão a oportunidade de entender, visualizar e internalizar mais plenamente as lições ensinadas pelo Salvador. Vocês estarão de fato “vendo a chuva cair”.
Lembro-me de uma pesquisa que ouvi recentemente, na qual as pessoas foram solicitadas a listar seus maiores medos. A maioria dos entrevistados citou dar um discurso como o que mais temia. A segunda coisa mais temida foi a morte. Suponho que se possa deduzir, a partir desse estudo, que a maioria das pessoas preferiria morrer a dar um discurso.
A preparação para este devocional foi uma experiência muito interessante. Ela me deu a chance de me concentrar melhor em uma área que está se tornando cada vez mais importante para mim. Peço sua fé e orações para que o que preparei seja apresentado de forma clara e que vocês encontrem valor em seu conteúdo.
Durante meus 26 anos como membro do corpo docente da BYU, descobri que idade é uma questão relativa. Se vocês continuarem a trabalhar e absorver a beleza do mundo ao seu redor, descobrirão que idade não significa necessariamente envelhecer. Em vez disso, ela se refere a um processo contínuo de desenvolvimento e amadurecimento. No meu caso, refere-se a um desejo cada vez maior de preencher minha mente com coisas que tornarão a vida mais produtiva e significativa. A idade me ensinou a importância de usar tudo o que é “[virtuoso], amável, de boa fama ou louvável” (Regras de Fé 1:13) para criar um escudo em minha mente que possa afastar a tentação e me ajudar a me aproximar de Deus e de Seu Filho Jesus Cristo.
Hoje quero compartilhar com vocês algumas razões e exemplos do uso de duas áreas das belas-artes – representação visual e música – para aumentar nossa capacidade de tornar a vida melhor e mais produtiva, especialmente no que se refere ao nosso propósito de nos tornarmos semelhantes a Cristo.
Não há profissão mais importante do que a de professor. Em qualquer nível, é uma grande responsabilidade. Bons professores ajudam a moldar e orientar as vidas de seus alunos.
Um dos princípios que desempenham um papel importante no processo de ensino é que há algumas coisas que os professores podem transmitir aos alunos com bastante facilidade e outras que não podem ser dadas, a menos que os alunos estejam dispostos a se esforçar para adquirir um objeto ou pensamento – começando assim a pagar o preço por torná-lo uma parte integral de suas vidas.
É uma experiência maravilhosamente gratificante ver a “luz se acender” nos olhos de um aluno após vê-lo lutar e enfrentar um problema ou uma nova experiência. Por outro lado, é uma experiência desalentadora ver um aluno que, quando exposto àquilo que é “de boa fama ou louvável”, rejeita-o porque, parafraseando o compositor americano Charles Ives, ele busca apenas aquilo que permite que os ouvidos “[se recostem] em uma poltrona confortável” (Charles Ives, conforme citado por Joseph Machlis em The Enjoyment of Music [Nova York: Norton, 1977], p. 566).
Há poucas coisas que exijam concentração ou esforço extra que sejam confortáveis ou convenientes. Aqueles que não querem se esforçar ou “buscar” aquilo que é “de boa fama ou louvável” geralmente encontram uma desculpa para não participar da experiência. O autoaperfeiçoamento raramente se encontra em um local de fácil acesso. O aprendizado exige esforço ativo. Buscar o que é “[virtuoso], amável, de boa fama ou louvável,” exige que se procure, pesquise, informe-se, tente descobrir ou tente adquirir. Significa estar disposto a se envolver cuidadosa e completamente no processo de encontrar e descobrir.
Ao descrever seu sonho, Leí falou de “uma árvore cujo fruto era desejável para fazer uma pessoa feliz”. O fruto da árvore era “o mais doce de todos os que já havia provado” e era “branco, excedendo toda brancura que [ele] já vira”. Após comer o maravilhoso fruto, sua alma encheu-se “de imensa alegria” (1 Néfi 8:10-12).
Leí também falou de uma “barra de ferro” e de um caminho que se estendia ao longo da margem de um rio. A barra de ferro ajuda as pessoas a permanecerem no caminho. Ambos levam à árvore que contém o maravilhoso, branco e mais doce fruto.
No decorrer da narrativa de Leí, torna-se óbvio que chegar à árvore não é uma tarefa fácil. Não é simples ou conveniente. Não é possível progredir no caminho se vocês simplesmente se permitirem “recostar-se em uma poltrona confortável” (ver 1 Néfi 8:19-33).
Em nenhum momento do sonho de Leí alguém foi forçado a segurar a barra de ferro e seguir pelo caminho. Aqueles que desejavam comer do fruto tinham que estar dispostos a fazê-lo por sua própria vontade. Tinham que estar dispostos a exercer todo o seu poder, mente e força na busca daquilo que lhes daria maior firmeza ao segurar a barra de ferro.
Ser capaz de segurar continuamente requer que vivenciemos plenamente o evangelho de Jesus Cristo e significa que compreendemos e internalizamos completamente nossas obrigações e responsabilidades.
À medida que nos empenhamos completamente para fazer do que é “[virtuoso], amável, de boa fama ou louvável” parte de nossas vidas, nossa firmeza ao segurar a barra de ferro se fortalece. E quando as enchentes vêm e as névoas de escuridão nos cercam, somos capazes de resistir à tentação de largar a barra e abandonar o caminho. Conseguimos nos manter firmes até podermos partilhar daquela que é a “maior de todas as dádivas de Deus”, sim, a vida eterna (1 Néfi 15:36, D&C 14:7).
Cada membro da Igreja de Cristo tem a responsabilidade de encontrar aquilo que lhe permite segurar firmemente a barra. O Élder Dallin H. Oaks admoestou que temos a responsabilidade de preencher
nossas mentes com “as coisas do Espírito” – coisas que ensinam sobre Deus ou promovem o que é agradável a Ele, coisas que são “[virtuosas, amáveis], de boa fama ou [louváveis]”. [Dallin H. Oaks, Pure in Heart (Salt Lake City: Bookcraft, 1988), p. 146]
Precisamos buscar sabedoria e entendimento. Precisamos procurar “conhecimento, sim, pelo estudo e também pela fé” (D&C 88:118). Precisamos preencher nossa mente com pensamentos e expressões, imagens, músicas e livros que possam ser julgados como dignos de nos aproximar do Espírito de Cristo. “Eles são”, de acordo com o Élder Hugh B. Brown, “o pão diário da alma, os melhores amigos que uma pessoa pode ter. Eles nos ensinam a melhor maneira de viver e a mais nobre maneira de pensar” (Henry Fielding, citado por Hugh B. Brown, The Abundant Life [Salt Lake City: Bookcraft, 1965], p. 112).
Várias pessoas já nos disseram, neste e em outros púlpitos, que devemos preencher nossa mente com boa música. Elas sugeriram que tenhamos um hino favorito que possamos cantar em nossa mente quando as névoas da escuridão nos envolverem. Outras sugeriram que memorizemos poemas ou escrituras com a mesma finalidade. Algumas usaram obras de arte como material contemplativo para nos ajudar a superar a influência do mal. Todas essas intervenções podem ajudar a combater as influências malignas. Elas concentram nossa mente. Elas nos enriquecem com sabedoria.
Precisamos começar a preencher nossa mente com coisas boas. Como Paulo disse em sua carta aos tessalonicenses, “retende o bem” (1 Tessalonicenses 5:21).
O Dr. Arthur Henry King, membro emérito de nosso corpo docente, disse em uma palestra em junho de 1970:
Temos uma mensagem [para] o mundo. Essa mensagem é fruto de nossa fé. Para transmitir essa mensagem, precisamos selecionar no mundo os instrumentos que nos ajudarão a compartilhar nossa fé e, ao mesmo tempo, precisamos estudar o mundo para entender com o que temos de lidar. Mas precisamos estudar o mundo não do ponto de vista do mundo, porque isso é errado, mas do ponto de vista do centro que temos na Igreja e em nós mesmos, que nos permite julgar com clareza e firmeza. Uma das principais tarefas de nossa educação certamente é aplicar os padrões da Igreja às grandes obras artísticas de todos os tempos, para que possamos julgá-las em sua abordagem do relacionamento entre Deus e o homem.
O Dr. King conclui:
O Espírito Santo não faz tudo por nós. Ele está lá para nos guiar quando não somos capazes de fazer o que é necessário por nós mesmos. Cabe a nós, em nossa Igreja, educar-nos até o ponto em que podemos vivenciar o melhor da arte. [Arthur H. King, “Some Notes on Art and Morality” (Algumas Notas sobre Arte e Moralidade), BYU Studies 11, n.º 1 (outono de 1970): 48].
“Vivenciar o melhor da arte” – estar no mundo, mas não ser do mundo. Nós somos diferentes. Nossa visão da vida deve ser do ponto de vista do evangelho e de seus ensinamentos. Nós, de fato, temos uma mensagem para o mundo – uma mensagem que precisamos internalizar. Ela deve se tornar parte de nosso ser. Devemos compreender interiormente o que significa tomar sobre nós o nome de Cristo. Precisamos estar convencidos e certos da mensagem dada pelo Salvador.
Para “vivenciar o melhor da arte”, precisamos entender que “todas as coisas boas vêm de Deus” e que “o Espírito de Cristo é concedido a todos os homens, para que eles possam distinguir o bem do mal” (Morôni 7:12, 16).
O Élder Richard L. Evans escreveu: “Somos a soma de todas as nossas ações, atitudes e expressões, de todas as coisas armazenadas em nosso corpo, mente e memória” [Richard L. Evans, An Open Door (Uma porta aberta), vol. 2, Salt Lake City: Publishers Press, 1967, p. 100]. Assim, devemos estar continuamente preenchendo nosso corpo, mente e memória com o que é “[virtuoso], amável, de boa fama ou louvável”.
Há vários anos, um de nossos filhos mais velhos, que tinha cinco ou seis anos na época, estava sentado no sofá da sala. Era verão – meio-dia – e o sol brilhava através de nossas grandes janelas. Ele estava dando uma pausa em suas brincadeiras para ler e descansar. Quando olhei para ele com o livro aberto em seu colo, ele parecia estar dormindo. Pensando que seria mais confortável para ele se deitar, fui até ele e comecei a colocar meus braços sob suas pernas e ao redor de suas costas para pegá-lo no colo. Quando o toquei, ele se mexeu de repente e disse: “O que você tá fazendo, pai?”
Em resposta, eu disse que estava simplesmente tentando deixá-lo mais confortável. De maneira bem direta, ele disse que não estava cansado e que não queria cochilar.
“O que você quer dizer com isso, filho? Seus olhos estavam fechados e você parecia estar dormindo”.
“Eu não estava dormindo, pai”, disse ele. “Estava apenas vendo a chuva cair”.
“Vendo a chuva cair”. O livro era sobre chuva. Esse pequeno garoto havia usado suas experiências de vida com a chuva e as combinou com o que estava lendo. Embora o sol estivesse brilhando intensamente através das janelas, em sua mente ele estava “vendo a chuva cair”. Ele havia internalizado a mensagem. Ela se tornou parte dele, a ponto de que, quando queria, ele conseguia lembrar e visualizar em sua mente a experiência da chuva.
Durante uma experiência de intercâmbio em Londres, em 1991, visitamos muitos dos grandes museus de arte da Europa. Foi então que minha coleção de slides de pinturas que retratam eventos da vida do Salvador se iniciou. Muitas dessas pinturas possibilitaram que eu visualizasse a palavra escrita. Elas deram à minha imaginação a oportunidade de ver como certas cenas poderiam ter sido. São retratos de um momento no tempo, agora suspenso para sempre, conforme visto pelos olhos do artista. Elas têm, nas palavras do Élder Boyd K. Packer, “um senso de propriedade espiritual” [Boyd K. Packer, “The Arts and the Spirit of the Lord” (As artes e o Espírito do Senhor), Speeches of the Year, 1976 (Provo: Brigham Young University Press, 1977), p. 278].
Assim como nosso filho estava “vendo a chuva cair” após ler um livro, as obras de arte podem nos dar a oportunidade de visualizar eventos específicos da vida do Salvador com maior profundidade e compreensão. As obras de arte podem literalmente dar vida às passagens das escrituras.
As pinturas a seguir não foram originalmente concebidas para serem exibidas no ambiente do Marriott Center. Em vez disso, foram criadas para ambientes nos quais as pessoas que as vissem pudessem ficar próximas a elas e se deleitar em sua apresentação visual. Algumas foram feitas para mosteiros ou capelas, outras para pequenas salas nas quais as pessoas se reuniam para adoração e contemplação, e outras para exibição pessoal ou particular. Todas foram pintadas com a ideia de atrair o espectador para uma cena e proporcionar-lhe mais empatia. Todas foram criadas para ajudar a proporcionar uma maior internalização individual do tema que estava sendo retratado.
[Slide 1] Mulher pega em adultério – Bruce Hixson Smith
Certa manhã, bem cedo, Jesus entrou no templo. João escreve que
todo o povo vinha ter com ele, e assentando-se, os ensinava.
E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério;
E pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando.
E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? [João 8:2-5]
Esse é o momento que Bruce Hixson Smith, de nossa faculdade, estava tentando retratar em sua pintura Mulher pega em adultério (da coleção pessoal de Bruce L. Christensen). O irmão Smith descreveu a obra da seguinte forma: “A pintura refere-se implicitamente à maldade e à insensibilidade dos acusadores; no entanto, para mim, a pintura reafirma, principalmente, a fé no arrependimento e fortalece minha vontade de me arrepender. Ela ilustra a perfeita compreensão de nosso Salvador e confirma sua magnânima persuasão”.
O professor Smith se esforçou propositalmente para não pintar essa cena em um estilo realista. Em vez disso, é necessário que o espectador use a imaginação. A “maldade e a insensibilidade dos acusadores” estão lá, mas não são dadas de bandeja. Vocês precisam colocar suas mentes para trabalhar. Vocês precisam se esforçar e descobrir o que está sendo retratado pelo artista.
Por algum tempo, o quadro Mulher pega em adultério ficou pendurado no escritório do reitor Bruce Christensen. Quando a porta do escritório estava aberta, a pintura ficava plenamente visível para quem passasse. Para mim, era sempre difícil passar por seu escritório sem contemplar a pintura e pensar na resposta do Salvador aos escribas e fariseus: “Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela”. Sua admoestação à mulher: “Vai-te, e não peques mais”, e a resposta dela, que “glorificou a Deus a partir daquela hora, e creu no nome dele”, sempre me deram motivos para ter esperança e saber a direção que devo tomar quando peco e passo pelo processo de arrependimento (João 8:7, 11; TJS João 8:11).
Fechem os olhos, reflitam sobre a passagem das escrituras, permitam-se visualizar o momento pelos olhos do artista. Todas essas ações lhes darão a oportunidade de entender, visualizar e internalizar mais plenamente as lições ensinadas pelo Salvador. Vocês estarão de fato “vendo a chuva cair”.
[Slide 2] Crucificação – Francisco de Zurbarán
Em 1627, Francisco de Zurbarán pintou Crucificação (presente na coleção do Instituto de Artes de Chicago) para o monastério de San Pablo el Reale, em Sevilha, Espanha. Sem a intenção de ser uma obra que permita que os olhos “se recostem em uma poltrona confortável”, a obra Crucificação oferece ao espectador uma representação realista do conceito de Zurbarán sobre o horror da crucificação, dos cravos sendo pregados nas mãos e nos pés, de uma lança sendo cravada no lado do Salvador, e da agonia da morte. Crucificação não é uma cena bonita, mas é algo que devemos permitir que se torne parte de nosso processo de visualização. Ela aconteceu. Cristo foi pendurado na cruz. Mas havia um propósito. Eliza R. Snow escreveu:
Vede, morreu o Redentor,
Cumpriu a lei o meu Senhor.
Em sacrifício se entregou,
Em sacrifício se entregou,
Vida e glória nos legou.
Entre ladrões, em uma cruz,
Foi, sim, pregado o meu Jesus.
Cravos e espinhos suportou,
Cravos e espinhos suportou,
E nossas almas resgatou.
Em agonia tão cruel,
Bebeu a taça, foi fiel.
Sem reclamar ele expirou,
Sem reclamar ele expirou,
De Deus o plano exaltou.
…
Após a morte de Jesus
O sol não deu a sua luz
A natureza então gemeu:
A natureza então gemeu:
“Ele era o Filho, sim, de Deus.”
[“Vede, Morreu o Redentor”, Hinos, n.o 110]
Um retrato de um momento no tempo. Vocês conseguem ver o sol retirar sua luz, a terra tremer e toda a natureza gemer? Vocês conseguem “ver a chuva cair”, assim como trovões e relâmpagos, enquanto o Filho de Deus é crucificado?
[Slide 3] A Incredulidade de São Tomé – Michelangelo da Caravaggio
Após sua Ressurreição, Cristo apareceu a seus discípulos. Tomé, um deles, não estava presente. Após a aparição, os discípulos disseram a Tomé:
Vimos o Senhor. Porém ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei. [João 20:25]
Oito dias depois, enquanto Tomé e os outros discípulos estavam reunidos em uma sala, com as portas fechadas, Jesus apareceu de repente no meio deles e disse: “Paz seja convosco”. Em seguida, voltou-se para Tomé e disse: “Chega aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente” (João 20:26-27).
O pintor italiano Caravaggio pintou A Incredulidade de São Tomé em 1604 (presente na coleção do Novo Palácio de Potsdam). A pintura nos dá a oportunidade de visualizar a conversa do Salvador com Tomé. Ela permite que concentremos nossa mente no evento e internalizemos mais plenamente a admoestação do Salvador: “Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram, e creram” (João 20:29).
[Slide 4] A Incredulidade de São Tomé – Guercino
Essa mesma cena foi pintada pouco tempo depois por outro italiano conhecido como Guercino.
Nenhum desses dois artistas pretendia que suas pinturas retratassem eventos em outra parte do mundo. No entanto, elas podem nos dar a oportunidade de melhor visualizar e incorporar em nós mesmos a aparição do Salvador ressuscitado aos nefitas. Vocês se lembram de Sua aparição – depois que o sol retirou sua luz em vergonha, a Terra tremeu e “a natureza então gemeu”. Imaginem o Salvador dizendo:
Levantai-vos e aproximai-vos de mim, para que possais meter as mãos no meu lado e também apalpar as marcas dos cravos em minhas mãos e em meus pés…
E aconteceu que a multidão se adiantou e meteu as mãos no seu lado e apalpou as marcas dos cravos em suas mãos e seus pés; e isto fizeram, adiantando-se um por um, até que todos viram com os próprios olhos, apalparam com as mãos e souberam com toda a certeza… que ele era aquele sobre quem os profetas escreveram que haveria de vir. [3 Néfi 11:14-15]
Outro retrato de um momento suspenso no tempo. Vocês conseguem se imaginar lá? Conseguem ver o Salvador convidando-os a se levantarem? Conseguem se imaginar colocando as mãos em seu lado e sentindo as marcas dos pregos em suas mãos? Vocês conseguem “ver a chuva cair”?
[Slide 5] A Primeira Visão – Minerva Teichert
Minerva Teichert nasceu em Ogden, Utah, em 1888. Ela estudou no Instituto de Artes de Chicago de 1908 a 1912. Na década de 1930, durante seu período mais produtivo, sua prioridade era pintar a história mórmon. Para ela, a pintura era um meio de contar às pessoas sobre sua fé em Cristo e sobre Sua igreja, restaurada à Terra pelo Profeta Joseph Smith. Essa pintura da aparição do Pai e do Filho a Joseph se encontra atualmente no Edifício Joseph Smith em nosso campus (A Primeira Visão, pintada para o tabernáculo SUD em Montpelier, Idaho). Infelizmente, ela está pendurada em uma área que não é muito propícia à contemplação em um nível pessoal. Porém, ao observar a pintura, não se pode deixar de recordar a experiência que ela tenta retratar.
Mas usando todas as forças para clamar a Deus que me livrasse do poder desse inimigo que me subjugara, no momento exato em que estava prestes a sucumbir ao desespero… vi um pilar de luz acima de minha cabeça, mais brilhante que o sol, que descia gradualmente sobre mim.
… Quando a luz pousou sobre mim, vi dois Personagens cujo esplendor e glória desafiam qualquer descrição, pairando no ar, acima de mim. Um deles falou-me, chamando-me pelo nome, e disse, apontando para o outro: Este é Meu Filho Amado. Ouve-O! [Joseph Smith-História 1:16-17; ênfase no original].
Em seus momentos de silêncio, vocês conseguem visualizar o poder do inimigo? Conseguem visualizar o sentimento de desespero do Profeta? Conseguem ver o pilar de luz descendo sobre ele? Conseguem visualizar o “esplendor e glória” dos personagens celestiais que apareceram para ele? Vocês conseguem “ver a chuva cair”?
A música é uma das áreas mais influentes e poderosas das artes. Ela pode nos aproximar do Espírito – o Espírito de Cristo e o Espírito Santo. Ou pode nos aproximar daquele espírito que nos leva a fazer e dizer coisas que não são de Deus. Ela tem o poder de persuadir a humanidade a praticar o mal ou pode nos ajudar a acreditar mais profundamente em Cristo. Ela pode, de fato, ser uma grande dádiva para o bem. É nossa responsabilidade internalizar o tipo de música que nos ajudará a nos tornarmos filhas e filhos de Cristo.
A música é o poder da emoção expresso em som. Ela pode melhorar nosso ser interior. Ela pode nos ajudar a “ver a chuva cair” de forma mais vívida.
Ao chegar à Missão Canadá Leste, fui designado para trabalhar em Ottawa com o Élder Gary Heiner. O Élder Heiner não perdeu tempo e me envolveu no trabalho. Na noite do meu primeiro dia lá, visitamos a Sra. Groves. A experiência daquela noite é tão vívida que me lembro como se fosse ontem. Entramos em sua casa, o Élder Heiner ensinou a primeira lição e depois prestou seu testemunho. Em seguida, voltou-se para mim e disse: “Élder Randall, você poderia prestar seu testemunho?” Oh, como eu queria prestar meu testemunho tocando piano. Teria sido tão mais fácil para mim. Eu tinha muito mais experiência me apresentando na frente dos outros do que prestando meu testemunho – especialmente para estranhos. Bem, não havia nenhum piano disponível naquela noite, e foi necessário que eu compartilhasse verbalmente com a Sra. Groves o meu testemunho sobre o Profeta Joseph Smith e a Restauração.
Agora, porém, tenho a oportunidade, juntamente com meu colega Robin Hancock, de tocar para vocês uma expressão de testemunho: “Eu Sei Que Vive Meu Senhor”. O arranjo foi feito por Larry Beebe. Ao ouvirem, permitam-se contemplar as palavras do hino e visualizar o Salvador ressuscitado em toda a Sua glória e majestade.
Não se permitam simplesmente “recostar-se em uma poltrona confortável” ou ser como a vaca que Hugh B. Brown descreveu, parada na encosta da colina, mastigando pasto “alegremente inconsciente do belo pôr do sol no oeste” [Hugh B. Brown, The Abundant Life (A Vida Abundante), p. 262]. Estejam dispostos a buscar tudo o que é “[virtuoso], amável, de boa fama ou louvável”. Estejam dispostos a preencher continuamente sua mente com aquilo que os aproximará do Espírito de Cristo e os ajudará a resistir à tentação a cada momento. Estejam dispostos a preencher sua mente com aquilo que lhes permitirá “ver a chuva cair” com mais clareza. Ao fazer isso, vocês criarão um escudo em sua mente que os ajudará a afastar a tentação e a se aproximar de Deus e de Seu Filho Jesus Cristo.
Deus vive. Esta é a Sua igreja. Vivemos em uma época em que há profetas – profetas que representam o Senhor Jesus Cristo. Que busquemos continuamente fazer Sua vontade, para que um dia possamos voltar à Sua presença, eu oro em nome de Jesus Cristo. Amém.
© Brigham Young University. Todos os direitos reservados.

David M. Randall era professor de música da BYU quando este discurso foi proferido no devocional do dia 16 de setembro de 1997.