Seis lições espirituais do mundo natural
Reitora associada da Faculdade de Ciências da Vida da BYU e professora de biologia vegetal e vida selvagem
4 de abril de 2023
Reitora associada da Faculdade de Ciências da Vida da BYU e professora de biologia vegetal e vida selvagem
4 de abril de 2023
Nos é ordenado que cuidemos das criações do Senhor e que sejamos mordomos sábios sobre elas. Por ter me beneficiado tanto da Criação divina, quero verdadeiramente ser uma boa mordoma para ela.
Pretendemos modificar a tradução se for necessário. Para dar sugestões, envie um e-mail para: speeches.por@byu.edu
É uma honra ser convidada a falar com vocês. Oro para que sintam o Espírito enquanto compartilho minha mensagem e meu testemunho com vocês. Recebemos um banquete espiritual no último fim de semana durante a conferência geral. Espero que vocês ainda tenham espaço em seus corações para a minha mensagem hoje.
Como eu disse em minha introdução, sou membro do corpo docente aqui na BYU há quase 27 anos. Concluí o bacharelado e o mestrado na BYU. Aqui estou com meu orientador de mestrado, o falecido Kimball Harper, antes de ir para a Universidade de Utah para meu PhD. [Uma foto foi mostrada.] A BYU me contratou logo após eu ter concluído meu PhD, e estou aqui no corpo docente desde então. Se pensarem bem, passei a maioria de minha vida aqui no campus da BYU.
Para minha pesquisa acadêmica, estudo a ecologia e conservação de espécies vegetais raras e/ou ameaçadas de extinção. Durante minhas quase três décadas como professora, tive a oportunidade de estudar uma grande variedade de espécies de plantas em muitos lugares diversos e belos ao redor do mundo.
Aqueles que me conhecem sabem que tenho um profundo amor por todas as criações do Pai Celestial. Adquiri meu amor pelo mundo natural quando era jovem. Passei os verões de minha infância acampando nas montanhas Bighorn, no Wyoming, com minha família imediata e meus avós. Minha mãe e minha avó adoram flores silvestres. Em nossas viagens de carro pela montanha, parávamos regularmente para que minha mãe e minha avó pudessem tentar identificar as novas flores silvestres que viam. Com elas, aprendi a apreciar a beleza e a diversidade das criações do Pai Celestial. Ainda hoje – para desgosto dos meus filhos – tenho que parar o carro para identificar qualquer planta nova que eu vejo.
Casei-me com meu companheiro eterno, Steve Flinders, um biólogo da vida selvagem do Serviço Florestal dos Estados Unidos, há oito anos. Juntos temos seis filhos e quatro netos. Todos os nossos filhos e netos adoram a vida ao ar livre e gostam de passar o tempo na natureza. Meu amor e apreço pelo mundo natural continuam aumentando ao longo de minha vida. Descobri que muitas vezes me sinto mais próxima do Pai Celestial e do Salvador quando estou no mundo natural.
Minha pesquisa me leva ao campo com meus alunos para estudar a ecologia de plantas raras. Às vezes, quando estou trabalhando arduamente e fazendo medições nas plantas, fico hiperfocada. Eu me concentro na tarefa à minha frente e esqueço de ver o panorama geral ou o panorama completo.
O Élder Rafael E. Pino disse estas palavras importantes:
A perspectiva é o modo com que vemos as coisas quando olhamos para elas a partir de certa distância, e isso permite que apreciemos seu verdadeiro valor.
É como estar em uma floresta e ter uma árvore bem à nossa frente. Se não dermos um pequeno passo para trás, não poderemos apreciar o que realmente é uma floresta.1
Quando paro o que estou fazendo e olho ao meu redor, ganho perspectiva e percebo que sou apenas uma pequena parte da milagrosa Criação. Ao olhar para cima, fico maravilhada com esse mundo lindo que, como diz a música da Primária: “o bom Deus fez criar para mim”.2
No próximo domingo é Páscoa. Na época da Páscoa, costumamos cantar um de meus hinos favoritos: “Ó criaturas do Senhor”. A quarta estrofe deste hino diz o seguinte:
A terra em ciclo milenar,
Sempre a colheita faz brotar, (…)
As róseas flores do jardim,
Belas florescerão sem fim.3
Um dos propósitos da Criação divina é testificar e dar testemunho Dele, e deixar Ele mostrar Sua glória. [Nota do tradutor: na versão inglesa do hino, a tradução literal da última linha é “deixe Ele mostrar Sua glória”.] Em Salmos 19 lemos: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra das suas mãos”.4 Em Alma, lemos ainda:
As escrituras estão diante de ti, sim, e todas as coisas mostram que existe um Deus; sim, até mesmo a Terra e tudo que existe sobre a sua face, sim, e seu movimento, sim, e também todos os planetas que se movem em sua ordem regular testemunham que existe um Criador Supremo.5
A Irmã Susan L. Warner explicou isso desta maneira:
Por muito desejar que O conheçamos e sintamos Seu amor, o Pai Celestial planejou um mundo repleto de magníficas criações que prestam testemunho Dele e de Seu Filho Jesus Cristo. Já se deram conta de todas as coisas que prestam testemunho do Salvador? O pôr-do-sol, as conchas, os lilases, os lagos, os insetos e os animais, as manhãs miraculosas e o céu coberto de estrelas.6
O Presidente Russell M. Nelson ensinou com clareza que:
A própria Criação testifica a existência de um Criador. Não podemos negar o que há de divino na Criação. Sem nosso grato reconhecimento da mão de Deus na Criação, seríamos tão insensíveis em relação a nosso provedor quanto os peixinhos de um aquário. Com profunda gratidão, repito as palavras do salmista, que declarou: “Ó Senhor, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra das tuas riquezas“.7
Há cerca de nove ou dez anos passei por um acontecimento traumático em minha vida. Na mesma época, também passei por um divórcio. Durante esse período, fui assolada pelo estresse e pela ansiedade. Meu corpo físico também se rebelou contra o trauma. Tinha dificuldade para comer e dormir, era atormentada por pesadelos e tive herpes zoster recorrente, causado por um resquício do vírus da catapora que tive quando criança. Meu sistema imunológico ficou comprometido e pegava todo tipo de doença.
Onde encontrar a paz no meio dessa tempestade de dor e turbulência em minha vida? Durante esse tempo, encontrei paz e refúgio da tempestade em dois lugares sagrados: no mundo natural e no templo sagrado do Senhor. Assim, buscando desesperadamente essa paz, passei muito tempo em ambos os lugares.
Um dos meus filmes favoritos da minha infância é A Noviça Rebelde (1965). Nesse filme, Maria, a protagonista, recebe palavras de sabedoria da Madre Abadessa no convento, que repetiu palavras proféticas em Salmo 121: “Levantarei os meus olhos para os montes, de onde vem a minha salvação”.8
Hoje, gostaria de compartilhar com vocês algumas lições que aprendi com as criações do Pai Celestial que me ajudaram a enfrentar a tempestade desse evento traumático. Ao erguer meus olhos para as colinas, adquiri uma perspectiva mais eterna do mundo natural.
Como disse o Élder Pino:
A perspectiva eterna do evangelho nos leva a entender o lugar que ocupamos no plano de Deus, a aceitar as dificuldades e progredir ao longo delas, a tomar decisões e a centralizar nossa vida no potencial divino que herdamos.9
Aprendi a aceitar essa dificuldade em minha vida e a progredir através dela. Consegui centralizar melhor minha vida em meu potencial divino. Atribuo meu progresso durante este período a seis lições importantes que aprendi com o mundo natural que tanto estudo e amo.
Lição 1: Crescer em direção à luz
A primeira lição da natureza é crescer em direção à luz. As plantas exibem fototropismo. Foto significa “luz” e tropismo significa “virar” ou “crescer em direção a algo”. Vocês já viram uma planta crescendo em direção a uma janela de sua casa? Vocês já viram uma planta crescer ao redor de uma rocha para conseguir mais luz? As plantas crescem em direção à luz. A luz é essencial para a fotossíntese, que produz carboidratos a partir do dióxido de carbono. Estes carboidratos são necessários para o crescimento das plantas, mas também são a base das cadeias alimentares ou teias alimentares para todas as outras formas de vida na Terra. Sem o carbono fixado a partir da energia luminosa, não haveria energia para a continuação da vida no ecossistema.
Assim como a luz é essencial para a vida no mundo natural, a Luz de Cristo é necessária para nossa sobrevivência espiritual. Exemplos do reino vegetal me mostraram como crescer ativamente em direção à Luz do Mundo.
Em Doutrina e Convênios, lemos: “Eu sou a verdadeira luz que ilumina todo homem que vem ao mundo”. 10
A irmã Warner disse: “Onde quer que vivamos neste mundo, podemos ver o glorioso nascer do sol, que presta testemunho da Luz de Cristo que enche nosso coração e ilumina nossa mente”.11
Crescer em direção ao Salvador e concentrar-se Nele fez toda a diferença durante meu período de dificuldades. Concentrei-me em Sua luz. Cresci em direção à Luz do Senhor. Como é que eu fiz isso? Fiz a escolha de me concentrar no Salvador todos os dias. Escolhi conscientemente olhar para cima, afastar-me da tristeza e da escuridão em minha vida e banhar-me no aconchego da luz do Salvador.
O Presidente Henry B. Eyring acrescentou esta reflexão: “Se vocês andarem na luz, sentirão agora parte do aconchego e da felicidade que serão seus quando forem recebidas de volta ao lar”. 12
Ao escolher crescer em direção ao Salvador e a Sua luz, senti Seu aconchego e amor. Aprendi a usar a Expiação mais plenamente em minha vida e O senti carregando meus fardos e tristezas. Adquiri uma perspectiva mais ampla das eternidades e agora aguardo com esperança o momento, tal como disse o Presidente Eyring, em que poderei ser recebida de volta ao lar.
Lição 2: Permanecer profundamente enraizados nas águas vivas do Senhor
A água também é essencial para a fotossíntese. As plantas usam energia solar para dividir uma molécula de água, fornecendo a energia molecular necessária para fixar dióxido de carbono nos carboidratos que a planta pode usar para crescer e sobreviver. Por ser essencial, muitas espécies de plantas se adaptam para absorver e evitar a perda de água, especialmente em regiões desérticas. Uma estratégia é criar raízes profundas. Isso permite que a planta extraia água vital de lençóis freáticos. Esta água não se evapora facilmente, ao contrário da água na superfície do solo. As raízes profundas também funcionam como âncoras para a planta contra tempestades e ventos fortes.
Durante esse período desafiador em minha vida, fui a um passeio a cavalo pelas montanhas e vi uma árvore arrancada por uma tempestade. As raízes da árvore não eram suficientemente profundas e firmes para resistir aos ventos fortes.
Além da luz, outro símbolo do Salvador é o símbolo da água viva. Ao olhar para aquela árvore arrancada, perguntei a mim mesma: “Será que estou profundamente enraizada e ancorada em águas vivas?”
Na história de Jesus e a mulher junto ao poço, lemos o seguinte:
Jesus respondeu, e disse-lhe: Qualquer que beber desta água tornará a ter sede;
Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.13
As plantas têm muitas estratégias para absorver e manter a água. Quanto esforço fazemos para obter a água viva do Senhor? Quais são algumas das estratégias que podemos usar para permanecer profundamente enraizados na água viva?
Uma forma é de seguir os mandamentos.
Em Doutrina e Convênios, lemos: “Mas ao que guarda meus mandamentos darei os mistérios de meu reino; e será como uma fonte de água viva vertendo para a vida eterna”.14
O Élder Joseph B. Wirthlin disse: “Vivendo o evangelho de Jesus Cristo, desenvolvemos em nós uma fonte de água viva que saciará eternamente nossa sede espiritual de felicidade, paz e vida eterna”.15
Uma maneira adicional de nos mantermos profundamente enraizados é fazer e manter convênios sagrados. Fiz a escolha de guardar meus convênios sagrados e renová-los todas as semanas ao tomar o sacramento.
O presidente Nelson disse:
[Nossos convênios] nos [levarão] cada vez mais para perto Dele(…)
Deus não abandonará Seu relacionamento com aqueles que forjaram esse vínculo com Ele.16
E o Élder Neil L. Andersen declarou: “Fazer e cumprir convênios permite que o amor do Salvador entre mais profundamente em nosso coração”.
Ir ao templo regularmente foi outra coisa que me ajudou a permanecer profundamente enraizada. Tomei a decisão de ir ao templo pelo menos uma vez por semana. Eu ia frequentemente durante meu horário de almoço. Às vezes, eu me sentava na sala celestial e ficava olhando para a imagem do Salvador. Não apenas encontrei paz lá, mas isso me ajudou a permanecer profundamente enraizada em Sua água viva.
Eu me vi me apegando à barra de ferro18 para sobreviver, partilhando livremente da água viva do Senhor. Sou grata por ter desenvolvido ao longo de minha vida, um testemunho profundamente enraizado do Salvador, a Água Viva, pois ele me sustentou durante aquele período difícil.
Lição 3: Encontrar maneiras eficazes de tolerar o estresse
Há alguns anos, publiquei um artigo com meu marido e um de seus colegas do Serviço Florestal dos Estados Unidos sobre uma nova população de pinheiros bristlecone da Grande Bacia, Pinus longaeva, que tínhamos descoberto em um local específico nas montanhas Tushar, no sul de Utah.19
O pinheiro bristlecone se enquadra em uma categoria de espécies a que chamamos de “tolerantes ao estresse” – plantas que vivem com os maiores níveis de estresse.20 Os bristlecones são os mais tolerantes ao estresse. Nas montanhas, há um limite onde árvores não conseguem mais crescer e os bristlecones crescem bem abaixo desse limite em algumas das regiões montanhosas da Califórnia, Nevada, Utah e Colorado. Estas árvores crescem na adversidade, vivendo nas condições mais adversas em altitudes elevadas, onde poucas formas de vidas sobrevivem. Os bristlecones são frequentemente chamados de “extremófilos” pelos cientistas.21 Eles sobrevivem a temperaturas extremamente frias, solos extremamente secos, ventos fortes e curtas épocas de cultivo. Estes pinheiros também vivem por muito tempo. São “quase pré-históricos”.22 Muitas árvores em nossa população recém-descoberta variam entre 1.000 a 1.500 anos de idade. Nevada tem populações de árvores com mais de 3.000 anos. Os dois pinheiros bristlecone mais antigos conhecidos são encontrados na Califórnia e têm cerca de 4.850 e 5.060 anos de idade, respectivamente.23
Pensem nisto por um momento: estas árvores já existiam antes do Salvador andar na Terra e ainda estão vivas hoje. E estas árvores têm lutado contra os elementos extremos durante todo este tempo, por milênios.
Como Élder Dieter F. Uchtdorf disse:
Uma das coisas que aprendemos ao estudar o crescimento das árvores é que nas épocas em que as condições são ideais, elas têm uma taxa de crescimento normal. Mas nas épocas em que as condições não são ideais, as árvores diminuem seu crescimento e concentram sua energia nos elementos básicos necessários à sobrevivência.24
Como é que os bristlecones sobrevivem a condições ambientais tão extremas? Fazem isso ao crescer lentamente e ao dedicar a sua energia às necessidades básicas de sobrevivência. Observem como os anéis são estreitos nesta seção transversal de um tronco de pinheiro bristlecone, a maioria tem menos de um milímetro de largura. [Uma foto foi mostrada.] As árvores crescem tão pouco a cada ano que é difícil ver os anéis de crescimento sem um microscópio. O tronco específico mostrado na foto é de uma árvore que viveu cerca de 2.000 anos de idade. Os bristlecones não fazem muito mais do que sobreviver.
Aprendi algumas lições importantes com estes pinheiros sobre como sobreviver ao estresse.
O Élder L. Tom Perry sugeriu: “Em nossa busca para conseguir alívio do estresse da vida, busquemos sinceramente maneiras de simplificá-la”.25
O Élder Perry também disse:
Não podemos prever todas as dificuldades e tempestades da vida, nem as iminentes, mas, como pessoas de fé e esperança, sabemos sem qualquer sombra de dúvida que o evangelho de Jesus Cristo é verdadeiro, e que “o melhor ainda está por vir”.26
O Élder Uchtdorf observou: “aprenderemos repetidamente a importância de quatro relacionamentos fundamentais: com nosso Deus, com nossa família, com nosso próximo e com cada um de nós mesmos”.27 Ele então deu este conselho:
Se a vida e seu ritmo acelerado e muito estresse fizeram com que lhes fosse difícil ter vontade de regozijar-se, então talvez agora seja um bom momento para voltarem a concentrar-se no que mais importa (…).
Simplifiquemos um pouco a vida. Façamos as mudanças necessárias para centralizar novamente a vida na beleza do caminho simples e humilde do discípulo cristão: o caminho que sempre conduz a uma vida cheia de significado, alegria e paz.28
Durante meu período de estresse, aprendi com os bristlecones que precisava simplificar minha vida e me concentrar no básico. Concentrei-me primeiro em meu relacionamento com Deus e em meu relacionamento com meus filhos. Concentrei-me no que era mais importante, estudo pessoal das escrituras, oração pessoal, oração familiar e noite familiar, e deixei de lado as coisas menos importantes. Fiz apenas as coisas básicas. Descobri que não tinha energia para mais nada além disso. Eu simplesmente sobrevivi. Fazer isso foi difícil para mim porque sou uma pessoa que tenta fazer tudo por todos. No entanto, ao me concentrar no que era mais importante e simplificar minha vida, aproximei-me ainda mais do meu Salvador, o que me ajudou ainda mais durante esse período estressante. Consegui tolerar o estresse.
Lição 4: Não Precisamos Saber Todas as Respostas
Os ecologistas percebem que os ecossistemas são incrivelmente complexos. Quanto mais estudo comunidades de plantas, mais percebo que não as entendemos completamente. Aprendi que não há como entender de fato todas as complexas inter-relações entre as espécies e entre as espécies e o meio ambiente. Às vezes, faço hipóteses sobre plantas e suas comunidades ecológicas e depois descubro, por meio da coleta de dados e estudo, que estou completamente errada em minhas suposições.
Durante o período em que estava lidando com meu evento traumático, fiz muitas perguntas. Por que tive que vivenciar esse trauma? Por que a vida teve que ser tão difícil? Eu não tinha as respostas.
O Élder Andersen deu perspectiva sobre isso. Ele disse:
Continuamos firmes e pacientes enquanto progredimos ao longo da mortalidade. Às vezes, a resposta do Senhor é: “Você não sabe tudo, mas sabe o suficiente!”. O suficiente para guardar os mandamentos e fazer o que é certo.29
Não saber tudo sobre uma determinada espécie de planta, sua ecologia ou seu papel no ecossistema não tem sido um problema tão grande para meu programa de pesquisa. Ao passar um tempo no mundo natural, percebi que também não há problema em não ter todas as respostas para as perguntas em minha vida pessoal.
Eu me apoiei imensamente nas minhas escrituras favoritas:
“Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento.
Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas”.30
Mais informações são dadas em Doutrina e Convênios:
Buscai diligentemente, orai sempre e sede crentes; e todas as coisas contribuirão para o vosso bem, se andardes retamente e vos lembrardes do convênio que fizestes uns com os outros.31
Perceber que não precisava saber tudo me ajudou a encontrar paz. Podia acreditar que todas as coisas contribuiriam para o meu bem se eu andasse em retidão e guardasse meus convênios.
No mundo das plantas, as sementes geralmente precisam ser escarificadas para que possam germinar e se transformar em uma bela planta. Em termos simples, a escarificação é uma quebra do revestimento duro da semente, de modo que a água possa entrar. A escarificação pode ser feita através do trato digestivo dos animais, do vento, dos ciclos de congelamento e descongelamento, causando um impacto mecânico nas rochas e assim por diante. Talvez eu precisasse passar por esse trauma para ficar um pouco escarificada para que a água viva do Senhor pudesse entrar.
De qualquer forma, eu sabia o suficiente, e esse conhecimento me sustentou.
Como o Élder Uchtdorf disse: “Às vezes, surgem dúvidas porque simplesmente não temos todas as informações e precisamos apenas de um pouco mais de paciência”.32
Fui abençoada ao aprender a ser paciente em minhas orações por respostas, tanto em minha pesquisa ecológica quanto em minha vida pessoal.
Lição 5: Encontrar refúgio e estabilidade em uma comunidade diversa
No campo da ecologia, temos uma teoria conhecida como a hipótese da diversidade-estabilidade ecológica. Basicamente, esta teoria afirma que comunidades mais diversas, em número de espécies diferentes, mantêm funções ecossistêmicas mais estáveis durante períodos de estresse ambiental, como a seca. Conceitualmente, isso sugere que algumas espécies podem estar melhor adaptadas do que outras para suportar tipos específicos de distúrbios e, assim, a comunidade ou o ecossistema mantém sua função apesar do estresse.33
O Élder Peter M. Johnson disse em seu devocional no outono passado: “O Senhor ama a diversidade”.34 Aprendi a importância de uma comunidade diversa no evangelho. Durante meu período difícil, fiquei surpresa com a diversidade de ajuda que veio para meu socorro. Ela veio de uma grande variedade de pessoas e lugares: um ex-colega de quarto da faculdade que mora na Califórnia ofereceu apoio, um ex-colega de banda de música country que morava em Dakota do Sul voou para me apoiar, uma vizinha aposentada se prontificou a me ajudar com meus filhos quando precisei dela, ex-alunos de pós-graduação ligaram durante esse período e ofereceram colaborações e ajuda com a pesquisa, meu bispo passou pela minha casa inesperadamente e ofereceu uma bênção, e houve muitos, muitos outros. Estas pessoas pertenciam a camadas socioeconômicas diversas, diversos níveis educacionais e diversas origens culturais. Até mesmo seus relacionamentos comigo eram de diversos contextos de minha vida. No entanto, cada um trouxe sua própria perspectiva.
O Élder Uchtdorf declarou: “Irmãos e irmãs, queridos amigos, precisamos de seus talentos e das perspectivas que só vocês têm. A diversidade de pessoas e de povos do mundo todo é uma força desta Igreja”.35
Élder Chi Hong (Sam) Wong ensinou:
Para ajudarmos o Salvador, temos que trabalhar juntos em união e harmonia. Todas as pessoas, todas as condições e todos os chamados são importantes. Precisamos estar unidos no Senhor Jesus Cristo.36
Sou grata por ter construído uma comunidade diversa ao meu redor. Minha comunidade era composta por pessoas com uma diversidade de talentos, habilidades e formas de abordar situações. Cada um encontrou sua própria maneira de me ajudar. Alguns conseguiram se comunicar melhor comigo em momentos diferentes do que outros. Entretanto, assim como uma comunidade ecológica diversa, minha comunidade veio ao meu resgate e me proporcionou estabilidade e refúgio em meio à minha tempestade. Eles foram capazes de trabalhar em união e harmonia para meu resgate.
Lição 6: Sempre se lembrar de agradecer a Ele
Ao passar tempo no mundo natural durante meu momento de dificuldade, perguntava a mim mesma: “Será que olho para cima tal como às outras criações em louvor a Ele?”
Quando minha filha Sabrina tinha quatro anos, ela estava com terríveis dores de crescimento nas pernas. Eu também sofria com este tipo de dor quando era jovem. Uma noite, já era tarde e já passava da hora de Sabrina dormir. Eu estava exausta porque ela não parava de chorar. Quando o remédio para dor não teve efeito, eu disse a ela que precisávamos orar e pedir ao Pai Celestial que ajudasse a aliviar a dor. Nós nos ajoelhamos juntas, e eu fiz uma oração simples para que sua dor diminuísse e ela conseguisse dormir. Coloquei Sabrina na cama ao meu lado e esfreguei suas pernas até que nós duas adormecemos.
De manhã, acordei com os gritos de alegria de Sabrina. Ela disse: “Mãe, minhas pernas não estão doendo mais!”
Mas o que ela fez em seguida fez meu coração se encher de alegria. Ela olhou imediatamente para o céu e disse: “Obrigada, Pai!”
Em Doutrina e Convênios lemos: “E aquele que receber todas as coisas com gratidão será glorificado; e as coisas desta Terra ser-lhe-ão acrescentadas, mesmo centuplicadas, sim, mais”.37
Será que nos lembramos de agradecer a Ele? Será que olhamos para cima e dizemos: “Obrigado, Pai?” Para mim, às vezes é um desafio lembrar de fazer isso em momentos de dificuldade, e foi particularmente difícil durante o evento traumático.
Néfi foi um exemplo notável de alguém que louvava o Senhor durante suas provações e aflições. Ele disse: “Não obstante, voltei-me para Deus e louvei-o todo o dia; e não murmurei contra o Senhor por causa de minhas aflições”.38
O Presidente David O. McKay declarou certa vez: “Encontramos no frio amargo da adversidade o verdadeiro teste de nossa gratidão; (…) [a] verdadeira gratidão (…) passa por baixo da superfície da vida, seja triste ou alegre”.39
Meu evento traumático foi um verdadeiro teste de minha gratidão.
O Élder Moisés Villanueva explicou assim:
Meus queridos irmãos e irmãs, como reagimos às nossas aflições? Murmuramos contra o Senhor por causa delas? Ou, assim como Néfi (…), sentimo-nos gratos em palavras, pensamentos e ações por estarmos mais concentrados em nossas bênçãos do que em nossos problemas?
Assim como fizeram as criações do Senhor e Néfi, tentei louvá-Lo o dia inteiro. Fiz uma escolha consciente de procurar ativamente coisas pelas quais sou grata todos os dias. Para mim, talvez tenha sido apenas um pôr do sol deslumbrante, um tempo ensolarado para sair, crianças que jantaram alegremente, uma aula que correu bem naquele dia ou o fato de nenhum dos meus filhos ter esquecido o dever de casa.
A irmã Bonnie D. Parkin ensinou este princípio:
O Senhor disse, “Agradecerás ao Senhor teu Deus em todas as coisas”. Em todas as coisas significa exatamente isso: as boas e as difíceis — não só algumas delas. Ele nos manda ser gratos porque sabe que a gratidão nos torna felizes. Essa é outra prova de Seu amor.41
O Presidente Thomas S. Monson ensinou: “Uma expressão sincera de agradecimento não apenas nos ajuda a reconhecer nossas bênçãos, mas também abre as portas do céu e nos ajuda a sentir o amor de Deus”.42
E eu senti o Amor de Deus. Mas será que eu conseguiria encontrar a felicidade, como a irmã Parkin sugeriu? Porque me lembrei de olhar para cima e dizer: “Obrigada, Pai” cada dia, comecei gradualmente a reencontrar a felicidade e ganhei a perspectiva eterna de que eu desesperadamente precisava.
Sou muito grata por estas seis belas lições que aprendi com a natureza e que me ajudaram a enfrentar uma tempestade turbulenta em minha vida e outras provações desde então. Há muitas outras lições que o mundo natural me ensinou e que não tenho tempo para compartilhar, mas fico feliz por ter conseguido olhar para cima e encontrar respostas e lições nas criações do Pai Celestial. Isso fez com que meu amor por Suas criações se tornasse ainda mais forte. Sinto um desejo urgente de ajudar a proteger e conservar o mundo natural.
O Presidente Nelson disse: “Como beneficiários dessa criação divina, devemos cuidar da Terra, ser seus mordomos sábios e preservá-la para as gerações futuras”.43
Na conferência geral de outubro do ano passado, o Bispo Gérald Caussé disse:
No entanto, o dom divino da Criação não vem sem deveres e responsabilidades. Esses deveres são mais bem descritos pelo conceito de mordomia. Em termos do evangelho, a palavra mordomia designa uma responsabilidade sagrada, espiritual ou temporal, de cuidar de algo que pertence a Deus, pelo qual somos responsáveis.44
Nos é ordenado que cuidemos das criações do Senhor e que sejamos mordomos sábios sobre elas. Por ter me beneficiado tanto da Criação divina, quero verdadeiramente ser uma boa mordoma para ela. A cada semestre, dou uma aula para meus alunos sobre a importância deste princípio. Por isso, meus alunos sempre me perguntam como podem ser bons mordomos de Suas criações. O que eles podem fazer?
Há uma citação de Brigham Young que acredito fornece a resposta para essa pergunta:
Deixe-me amar o mundo como Ele o ama, para torná-lo belo e glorificar o nome de meu Pai que está nos céus. Não importa se eu ou qualquer outra pessoa é dona do mundo, se apenas trabalharmos para embelezá-lo e torná-lo glorioso, está tudo bem.45
Oro para que possamos amar o mundo como Ele o ama. Passei a amar ainda mais Suas criações ao aprender estas seis lições importantes. Sei que, se realmente amarmos o mundo natural, seremos bons mordomos para ele. Oro para que tiremos um tempo de nossas vidas ocupadas e agitadas para olhar para cima e obter a perspectiva de que precisamos. Sei que o Salvador vive e se crescermos em direção à Sua luz, permanecermos profundamente enraizados em Sua água viva, confiarmos nos princípios básicos e simples do evangelho em momentos de estresse, lembrarmos que não temos todas as respostas, encontrarmos refúgio em uma comunidade diversa de Santos e nos lembrarmos de agradecê-Lhe sempre, seremos capazes de enfrentar qualquer tempestade em nossa vida e ganhar uma perspectiva eterna. Nesta época da Páscoa, quero que saibam que amo meu Salvador, “o Mestre que cura”,46 e sou muito grata pela bênção da Sua Expiação. E, como diz a música da Primária: “Eu me sinto feliz por viver neste mundo que o bom Deus fez criar para mim”.47 Deixo-lhes esse testemunho em nome de Jesus Cristo. Amém.
Loreen Allphin, reitora associada da Faculdade de Ciências da Vida da BYU e professora de biologia vegetal e vida selvagem, deu este discurso de devocional em 4 de abril de 2023.