“Com a força do Senhor”
Presidente da Universidade Brigham Young-Idaho
23 de outubro de 2001
Presidente da Universidade Brigham Young-Idaho
23 de outubro de 2001
À medida que vocês e eu compreendermos e empregarmos o poder capacitador da Expiação em nossa vida pessoal, oraremos e buscaremos por força para mudar nossas circunstâncias, ao invés de orar para que nossas circunstâncias sejam mudadas.
Pretendemos modificar a tradução se for necessário. Para dar sugestões, envie um e-mail para: speeches.por@byu.edu
À medida que vocês e eu compreendermos e empregarmos o poder capacitador da Expiação em nossa vida pessoal, oraremos e buscaremos por força para mudar nossas circunstâncias, ao invés de orar para que nossas circunstâncias sejam mudadas.
Bom dia, irmãos e irmãs. Para mim, é uma bênção e uma grande responsabilidade estar diante de vocês hoje. Agradeço o convite do Élder Bateman para falar com vocês.
Ao entrar no Marriott Center esta manhã, minha mente foi inundada por lembranças maravilhosas. Já estive aqui muitas e muitas vezes. Eu era calouro na BYU em 1970, quando as obras de construção deste edifício foram iniciadas. Lembro-me vividamente de estar sentado lá em cima em 11 de setembro de 1973, ouvindo os ensinamentos e o testemunho do Presidente Harold B. Lee. Eu havia retornado de minha missão no sul da Alemanha apenas três semanas antes, e a mensagem que ele compartilhou naquele dia intitulava-se “Seja fiel à realeza que há em você”. Espero nunca me esquecer do que senti, ouvi e aprendi naquele dia. Os ensinamentos do Presidente Harold B. Lee têm me influenciado positivamente nesses últimos 28 anos.
Lembro-me de estar sentado bem ali, em 1973, quando o Presidente Spencer W. Kimball, como presidente do Quórum dos Doze Apóstolos, transmitiu uma mensagem poderosa e extremamente direta sobre a importância do casamento eterno (“Marriage Is Honorable”, 30 de setembro de 1973). Também me lembro de quão desconfortáveis estávamos eu e a jovem com quem fui àquele serão – em nosso primeiro encontro. (Para aqueles que possam estar se perguntando, não, a jovem com quem fui àquele serão na época não é a irmã Bednar agora). E lembro-me de ter me sentado bem ali em 1977, quando era um estudante casado, caminhando de um lado para o outro tentando acalmar um filho pequeno. Sentei-me lá em cima em 2000, quando esse mesmo filho se formou na BYU com seu diploma de bacharel. Lembro-me com muito carinho de várias outras ocasiões em que ouvi líderes inspirados e aprendi com grandes professores neste edifício.
Sinceramente, nunca me ocorreu que um dia eu poderia ser convidado a subir neste púlpito e falar a um grupo como o de vocês. Está claro para mim que provavelmente nunca mais serei convidado a fazer isso novamente. Por isso, tenho orado muito e levado a sério a preparação para a minha apresentação de hoje. Partindo do princípio de que nunca mais subirei neste púlpito para ensinar e testificar, pensei sobre qual seria a mensagem mais importante que eu poderia compartilhar com vocês. Meu objetivo nesta manhã é descrever e discutir tanto o poder redentor quanto o poder capacitador da Expiação de Jesus Cristo. E espero dar ênfase especial ao poder capacitador da Expiação. Anseio, convido e oro para que a companhia do Espírito Santo esteja comigo e com vocês ao falarmos juntos por alguns minutos sobre esse assunto sagrado.
A base para minha mensagem de hoje é uma declaração do Presidente David O. McKay. Ele resumiu o propósito geral do evangelho do Salvador nestes termos: “O propósito do evangelho é (…) tornar os homens maus bons e os homens bons melhores, e mudar a natureza humana” (do filme Every Member a Missionary [Cada Membro um Missionário], conforme reconhecido por Franklin D. Richards, CR, outubro de 1965, pp. 136-137; ver também Brigham Young, JD 8:130 [22 de julho de 1860]).
Assim, a jornada de uma vida é progredir de maus para bons, e de bons para melhores, e passar por uma vigorosa mudança no coração — passar por uma mudança em nossa natureza decaída.
Gostaria de sugerir que o Livro de Mórmon é o nosso manual de instruções ao percorrermos o caminho de maus para bons e de bons para melhores, e para termos nossos corações transformados. Se tiverem as escrituras com vocês nesta manhã, abram comigo em Mosias 3:19. Nesse versículo, o rei Benjamim ensina sobre a jornada da mortalidade e sobre o papel da Expiação para navegarmos com sucesso nessa jornada: “Porque o homem natural é inimigo de Deus e tem-no sido desde a queda de Adão e sê-lo-á para sempre; a não ser que ceda ao influxo do Santo Espírito e despoje-se do homem natural e torne-se santo pela expiação de Cristo, o Senhor” (grifo do autor).
Quero parar neste momento e chamar atenção para duas frases específicas. Primeiro, considerem “e despoje-se do homem natural”. Deixem-me sugerir que o Presidente McKay estava falando fundamentalmente sobre despojar o homem natural quando disse: “O propósito do evangelho é… tornar os homens maus bons”. Não acredito que a palavra mau, nessa declaração do Presidente McKay, conota apenas perverso, terrível, horrível ou inerentemente mau. Em vez disso, acho que ele estava sugerindo que a jornada de mau para bom é o processo de despojar-nos do homem ou da mulher natural em cada um de nós. Na mortalidade, todos nós somos tentados pela carne. Os próprios elementos dos quais nossos corpos foram criados são, por natureza, decaídos e sempre sujeitos à atração do pecado, da corrupção e da morte. E podemos aumentar nossa capacidade de vencer os desejos da carne e as tentações, conforme descrito neste versículo, “pela expiação de Cristo”. Quando cometemos erros – ao transgredirmos e pecarmos – somos capazes de superar essa fraqueza por meio do poder redentor e purificador da Expiação de Jesus Cristo. Como frequentemente cantamos ao nos prepararmos para partilhar dos emblemas do sacramento, “Seu sangue pelos homens deu e assim nos libertou; Seu sacrifício de amor ao mundo resgatou” (“Da Corte Celestial”, Hinos, 1985, nº 114).
Agora, por favor, observem a próxima linha em Mosias 3:19: “e torne-se santo”. Gostaria de sugerir que essa frase descreve a continuação e a segunda fase da jornada da vida, conforme delineada pelo Presidente McKay. “O propósito do evangelho é (…) tornar os homens maus bons” – ou, em outras palavras, despojá-los do homem natural – ‘e os homens bons melhores’ – ou, em outras palavras, torná-los mais santos. Irmãos e irmãs, acredito que essa segunda parte da jornada – esse processo de evoluir de bom para melhor – é um tópico sobre o qual não estudamos ou ensinamos com frequência suficiente nem compreendemos adequadamente.
Se eu tivesse que enfatizar um ponto principal nesta manhã, seria este: suspeito que vocês e eu estejamos muito mais familiarizados com a natureza do poder redentor da Expiação do que com o poder capacitador da Expiação. Uma coisa é saber que Jesus Cristo veio à Terra para morrer por nós. Isso é fundamental e básico para a doutrina de Cristo. Mas também precisamos entender que o Senhor deseja, por meio de Sua Expiação e pelo poder do Espírito Santo, viver em nós – não apenas para nos orientar, mas também para nos capacitar. Creio que a maioria de nós sabe que, quando cometemos erros e precisamos de ajuda para vencer os efeitos do pecado em nossas vidas, o Salvador já pagou o preço e possibilitou que fôssemos purificados por meio de Seu poder redentor. A maioria de nós entende claramente que a Expiação é para os pecadores. No entanto, não tenho tanta certeza de que sabemos e compreendemos que a Expiação também é para os santos – para os bons homens e mulheres que são obedientes, dignos e conscientes, e que estão se esforçando para se tornar melhores e servir mais fielmente. Sinceramente, não creio que muitos de nós entendamos esse aspecto capacitador e fortalecedor da Expiação, e me pergunto se erroneamente acreditamos que precisamos fazer a jornada de bons para melhores e nos tornarmos santos sozinhos por meio de pura coragem, força de vontade e disciplina, e com nossas capacidades obviamente limitadas.
Irmãos e irmãs, o evangelho do Salvador não se refere simplesmente a evitar o mal em nossas vidas; ele também se refere, essencialmente, a fazer o bem e tornar-se bom. A Expiação nos ajuda a vencer e evitar o mal e a fazer o bem e nos tornar bons. A ajuda do Salvador está disponível por toda a jornada da vida – de mau para bom, de bom para melhor, e para mudar nossa própria natureza.
Não estou tentando sugerir que os poderes redentor e capacitador da Expiação sejam separados e distintos. Em vez disso, essas duas dimensões da Expiação estão conectadas e são complementares; ambas precisam estar em funcionamento durante todas as fases da jornada da vida. E é eternamente importante que todos nós reconheçamos que esses dois elementos essenciais da jornada da vida – tanto despojar-se do homem natural quanto tornar-se santo, tanto vencer o mal quanto tornar-se bom – são possíveis por meio do poder da Expiação. A força de vontade individual, a determinação e a motivação pessoais, o planejamento eficaz e o estabelecimento de metas são necessários, mas, em última análise, insuficientes para concluir triunfantemente esta jornada mortal. De fato, precisamos confiar nos “méritos e misericórdia e graça do Santo Messias” (2 Néfi 2:8).
Quero agora descrever com mais detalhes o poder capacitador da Expiação. Irmãos e irmãs, observem o uso da palavra graça no versículo de 2 Néfi ao qual acabamos de nos referir. O Bible Dictionary ensina que a palavra graça é frequentemente usada nas escrituras para indicar o poder capacitador. Na página 697, sob a palavra graça, encontramos:
“Uma palavra que ocorre com frequência no Novo Testamento, especialmente nos escritos de Paulo. A ideia principal da palavra é um meio divino de ajuda ou força, dado por meio da generosa misericórdia e do amor de Jesus Cristo (grifo do autor).
“É por meio da graça do Senhor Jesus, possibilitada por seu sacrifício expiatório, que a humanidade será ressuscitada para a imortalidade, cada pessoa recebendo seu corpo da sepultura em uma condição de vida eterna.”
Observe as próximas frases:
“Da mesma forma, é por meio da graça do Senhor que as pessoas, por meio da fé na expiação de Jesus Cristo e do arrependimento de seus pecados, recebem força e auxílio para fazer boas obras que, de outra forma, não seriam capazes de fazer se fossem deixadas por conta própria. Essa graça é um poder capacitador que permite que homens e mulheres alcancem a vida eterna e a exaltação após terem empregado seus melhores esforços” (grifo nosso).
Ou seja, a graça representa o socorro divino ou a ajuda celestial de que cada um de nós precisará desesperadamente para se qualificar para o reino celestial. Assim, o poder capacitador da Expiação nos fortalece para fazer o bem, ser bons e servir além de nosso próprio desejo individual e capacidade natural.
Em meu estudo pessoal das escrituras, geralmente insiro o termo poder capacitador sempre que encontro a palavra graça. Considere, por exemplo, este versículo que todos nós conhecemos: “Pois sabemos que é pela graça que somos salvos, depois de tudo o que pudermos fazer” (2 Néfi 25:23).
Revisemos este versículo mais uma vez: “Pois sabemos que é pela graça [o poder capacitador e fortalecedor da Expiação de Cristo] que somos salvos, depois de tudo o que pudermos fazer”.
Acredito que podemos aprender muito sobre esse aspecto vital da Expiação se inserirmos o poder capacitador e fortalecedor toda vez que encontrarmos a palavra graça nas escrituras.
A jornada de uma vida, conforme descrita pelo Presidente McKay, é progredir de maus para bons, de bons para melhores e ter nossa própria natureza transformada. O Livro de Mórmon é repleto de exemplos de discípulos e profetas que conheceram, compreenderam e foram transformados pelo poder capacitador da Expiação ao fazerem essa jornada. Gostaria de sugerir, irmãos e irmãs, que ao compreendermos melhor esse poder sagrado, nossa perspectiva do evangelho será grandemente ampliada e enriquecida. Tal perspectiva nos transformará de maneira extraordinária.
Néfi é um exemplo de alguém que conhecia, compreendia e confiava no poder capacitador do Salvador. Em 1 Néfi 7, lembramos que os filhos de Leí haviam retornado a Jerusalém para recrutar Ismael e sua família para sua causa. Lamã e outros do grupo que viajava com Néfi de Jerusalém para o deserto se rebelaram, e Néfi exortou seus irmãos a terem fé no Senhor. Foi nesse ponto da viagem que os irmãos de Néfi o amarraram com cordas e planejaram sua destruição. Observem a oração de Néfi no versículo 17: “Ó Senhor, de acordo com minha fé em ti, livra-me das mãos de meus irmãos; sim, dá-me forças para romper estas cordas com que estou amarrado” (grifo do autor).
Irmãos e irmãs, vocês sabem como eu provavelmente teria orado se tivesse sido amarrado por meus irmãos? Minha oração teria incluído um pedido para que algo ruim acontecesse a meus irmãos e terminaria com a frase “Livra-me das mãos de meus irmãos” ou, em outras palavras, “Por favor, tire-me desta confusão, agora!” É especialmente interessante para mim que Néfi não tenha orado, como eu provavelmente teria, para que suas circunstâncias mudassem. Em vez disso, ele orou pedindo forças para mudar suas circunstâncias. E eu ainda sugeriria que ele orou desta maneira exatamente porque conhecia, compreendia e havia experimentado o poder capacitador da Expiação do Salvador.
Pessoalmente, não acredito que as cordas com as quais Néfi estava amarrado tenham caído magicamente de suas mãos e pulsos. Pelo contrário, suspeito que ele tenha sido abençoado com persistência e força pessoal além de sua capacidade natural, e que ele então, “com a força do Senhor” (Mosias 9:17), trabalhou, torceu e puxou as cordas e, por fim e literalmente, conseguiu romper os nós.
Irmãos e irmãs, a implicação desse episódio para cada um de nós é bastante direta. À medida que vocês e eu compreendermos e empregarmos o poder capacitador da Expiação em nossa vida pessoal, oraremos e buscaremos por força para mudar nossas circunstâncias, ao invés de orar para que nossas circunstâncias sejam mudadas. Nós nos tornaremos sujeitos que “agem” em vez de objetos que “recebem a ação” (2 Néfi 2:14).
Considere o exemplo em Mosias 24, quando Alma e seu povo estão sendo perseguidos por Amulon. Conforme registrado no versículo 14, a voz do Senhor veio a essas boas pessoas em sua aflição e indicou: “E também aliviarei as cargas que são colocadas sobre vossos ombros, de modo que não as podereis sentir sobre vossas costas”.
Agora, se eu estivesse entre os do povo de Alma e tivesse recebido essa garantia específica, minha resposta provavelmente teria sido: “Eu te agradeço e, por favor, apresse-se!” Mas observem no versículo 15 o processo que o Senhor usou para aliviar o fardo: “E aconteceu que as cargas impostas a Alma e seus irmãos se tornaram leves; sim, o Senhor fortaleceu-os para que pudessem carregar seus fardos com facilidade; e submeteram-se de bom grado e com paciência a toda a vontade do Senhor” (grifo do autor).
Irmãos e irmãs, o que mudou neste episódio? Não foi o fardo que mudou; os desafios e as dificuldades da perseguição não foram imediatamente removidos do povo. Mas Alma e seus seguidores foram fortalecidos, e o aumento de sua capacidade e força tornou os fardos que carregavam mais leves. Essas boas pessoas foram capacitadas por meio da Expiação para operar como agentes e influenciar suas circunstâncias – “com a força do Senhor”. Alma e seu povo foram então conduzidos à segurança da terra de Zaraenla.
Agora, alguns de vocês podem estar legitimamente se perguntando: “Irmão Bednar, o que o faz pensar que o episódio com Alma e seu povo é um exemplo do poder capacitador da Expiação?” Acredito que a resposta para sua pergunta se encontra em uma comparação entre Mosias 3:19 e Mosias 24:15. Retomemos a leitura de Mosias 3:19, onde havíamos parado anteriormente: “e despoje-se do homem natural e torne-se santo pela expiação de Cristo, o Senhor; e torne-se como uma criança, submisso, manso, humilde, paciente, cheio de amor, disposto a submeter-se a tudo quanto o Senhor achar que lhe deva infligir, assim como uma criança se submete a seu pai” (grifo do autor).
À medida que progredimos na jornada da mortalidade, de maus para bons, e de bons para melhores, à medida que nos despojamos do homem ou da mulher natural que há em cada um de nós, e à medida que nos esforçamos para nos tornarmos santos e termos nossa própria natureza transformada, os atributos detalhados neste versículo devem descrever cada vez mais o tipo de pessoa que vocês e eu estamos nos tornando. Vamos nos tornar mais semelhantes às crianças, mais submissos, mais pacientes e mais dispostos a nos submeter. Agora compare as características de Mosias 3:19 com as usadas para descrever Alma e seu povo na última parte do versículo 15 de Mosias 24: “e submeteram-se de bom grado e com paciência a toda a vontade do Senhor” (grifo nosso).
Considero os paralelos entre os atributos descritos nesses versículos impressionantes e uma indicação de que o bom povo de Alma estava se tornando um povo melhor por meio do poder capacitador da Expiação de Cristo, o Senhor.
Todos nós conhecemos a história de Alma e Amuleque descrita em Alma 14. Nesse relato, muitos santos fiéis foram mortos pelo fogo, e esses dois servos do Senhor foram aprisionados e espancados. Considerem esta súplica contida no versículo 26 oferecida por Alma ao orar na prisão: “Dá-nos forças, ó Senhor, de acordo com nossa fé em Cristo, para que sejamos libertados” (grifo do autor).
Mais uma vez, vemos refletidas em seu pedido a compreensão e a confiança de Alma no poder capacitador da Expiação. Agora observem o resultado dessa oração, conforme descrito na última parte do versículo 26 e no versículo 28:
“E eles [Alma e Amuleque] arrebentaram as cordas com que estavam amarrados; e quando o povo viu isto, começou a fugir, pois o temor da destruição caíra sobre eles. (…)
“E Alma e Amuleque saíram ilesos da prisão, porque o Senhor lhes havia concedido poder segundo sua fé em Cristo” (grifo do autor).
Mais uma vez, o poder capacitador fica evidente quando pessoas boas lutam contra o mal e se esforçam para se tornar ainda melhores e servir de forma mais eficaz “com a força do Senhor” (Mosias 9:17).
Gostaria de apresentar um último exemplo do Livro de Mórmon. Em Alma 31, Alma está liderando uma missão para recuperar os zoramitas apóstatas. Vocês devem se lembrar que neste capítulo aprendemos sobre o Rameumptom e a oração memorizada e orgulhosa oferecida pelos zoramitas. Observem o pedido de força na oração pessoal de Alma, conforme descrito no versículo 31: “Ó Senhor, concede-me forças para suportar com paciência essas aflições que sofrerei por causa da iniquidade deste povo.” (grifo do autor).
No versículo 33, Alma também ora para que seus companheiros missionários recebam uma bênção semelhante: “Concede-lhes forças para suportarem as aflições que lhes advirão por causa das iniquidades deste povo” (grifo do autor).
Mais uma vez observamos que Alma não orou para que suas aflições fossem removidas. Ele sabia que era um agente do Senhor e orou para ter o poder de agir e influenciar sua situação.
O ponto-chave desse exemplo se encontra no versículo final, Alma 31:38: “Sim, e deu-lhes força para que não padecessem qualquer espécie de aflição que não pudesse ser sobrepujada pela alegria em Cristo. Ora, isso aconteceu por causa da oração de Alma; e isto porque havia orado com fé” (grifo do autor).
Não, as aflições não foram removidas. Mas Alma e seus companheiros foram fortalecidos e abençoados por meio do poder capacitador da Expiação para “que não padecessem qualquer espécie de aflição que não pudesse ser sobrepujada pela alegria em Cristo”. Que bênção maravilhosa. E que lição cada um de nós deve aprender.
Exemplos do poder capacitador não são encontrados apenas nas escrituras. Daniel W. Jones nasceu em 1830, no Missouri, e filiou-se à Igreja na Califórnia em 1851. Em 1856, ele participou do resgate das companhias de carrinhos de mão que ficaram presas no Wyoming devido a fortes tempestades. Depois que o grupo de resgate encontrou os santos que estavam sofrendo, providenciou o conforto imediato que pôde e fez os preparativos para que os doentes e os debilitados fossem transportados para Salt Lake City, Daniel e vários outros jovens se ofereceram para ficar e proteger os pertences da companhia. Os alimentos e suprimentos deixados com Daniel e seus colegas eram, no mínimo, escassos e foram rapidamente consumidos. Citarei agora o diário pessoal de Daniel Jones e sua descrição dos eventos que se seguiram:
“A caça logo se tornou tão escassa que não podíamos matar nada. Comemos toda a carne de baixa qualidade; era possível ficar com fome ao comê-la. Por fim, tudo acabou e só restaram as peles. Fizemos um teste com elas. Uma grande quantidade foi cozida e comida sem nenhum tempero, o que deixou toda a companhia doente. Muitos estavam tão revoltados com o produto que ficavam enjoados só de pensar nele.
“As coisas pareciam sombrias, pois nada restava além das pobres peles cruas retiradas do gado morto. Pedimos ao Senhor que nos orientasse sobre o que fazer. Os irmãos não murmuraram, mas confiaram em Deus. Cozinhamos a pele, após deixá-la de molho e raspar os pelos, até que ficasse macia, e depois a comemos, com goma e tudo. Isso fez com que ela ficasse conosco por mais tempo do que desejávamos. Finalmente, me senti inspirado sobre o que fazer para melhorar o produto e dei conselhos ao grupo, dizendo-lhes como cozinhá-lo; e que queimassem e raspassem os pelos. Fazê-lo dessa forma ajudava a purificar o gosto ruim que o escaldamento deixava. Após a raspagem, disse-lhes que fervessem a pele por uma hora em bastante água, jogando fora a água que havia extraído toda a goma, e que depois lavassem e raspassem bem o couro, lavando-o em água fria. E então, que fervessem o produto até formar uma geleia, deixassem-na esfriar e a comessem com um pouco de açúcar polvilhado sobre ela. Isso dava muito trabalho, mas não tínhamos muito mais o que fazer e era melhor do que passar fome” (Daniel W. Jones, Forty Years Among the Indians [Salt Lake City: Juvenile Instructor Office, 1890], p. 81).
Tudo o que li até agora é uma preparação para a próxima linha do diário de Daniel W. Jones. Ela ilustra como aqueles santos pioneiros talvez soubessem algo sobre o poder capacitador da Expiação que nós, em nossa prosperidade e facilidade, não somos tão rápidos em compreender: “Pedimos ao Senhor que abençoasse nossos estômagos e os adaptasse a esse alimento” (Jones, Forty Years, p. 81; grifo do autor). Meus queridos irmãos e irmãs, sei pelo que eu teria orado naquelas circunstâncias. Eu teria orado por outra coisa para comer. “Pai Celestial, por favor, mande-me uma codorna ou um búfalo”. Nunca teria me ocorrido orar para que meu estômago fosse fortalecido e adaptado ao que já tínhamos. O que Daniel W. Jones sabia? Ele conhecia o poder capacitador da Expiação de Jesus Cristo. Ele não orou para que suas circunstâncias fossem mudadas. Ele orou para que fosse fortalecido para lidar com suas circunstâncias. Assim como Néfi, Amuleque, Alma e seu povo foram fortalecidos, Daniel W. Jones teve o discernimento espiritual para saber o que pedir naquela oração. “Não tivemos fé para pedir-lhe que abençoasse o couro cru, pois era um ‘material duro’. Ao comermos agora, todos pareciam saborear o banquete. Ficamos três dias sem comer antes que essa segunda tentativa fosse feita. Desfrutamos dessa refeição luxuosa por cerca de seis semanas” (Jones, Forty Years, pp. 81-82).
O poder capacitador da Expiação de Cristo nos fortalece para fazermos coisas que jamais poderíamos fazer por nós mesmos. Às vezes me pergunto se em nosso mundo de facilidades dos últimos dias – em nosso mundo de fornos micro-ondas, telefones celulares, carros com ar-condicionado e casas confortáveis – será que aprendemos a reconhecer nossa dependência diária do poder capacitador da Expiação?
As maiores lições que aprendi sobre o poder capacitador vieram do exemplo discreto de minha esposa em nosso próprio lar. Eu a vi perseverar em meio a intensos e contínuos enjoos matinais e vômitos durante cada uma de suas três gestações. Literalmente, ela ficou doente o dia todo, todos os dias, durante oito meses em cada gravidez. Esse desafio nunca foi removido. Mas, juntos, oramos para que ela fosse fortalecida e, de fato, ela foi abençoada pelo poder capacitador da Expiação para fazer fisicamente o que, por sua própria força, não poderia fazer. A irmã Bednar é uma mulher extraordinariamente capaz e competente e, ao longo dos anos, tenho visto como ela foi magnificada para lidar com a zombaria e o desprezo que vêm da sociedade secular quando uma mulher santo dos últimos dias dá ouvidos aos conselhos proféticos e faz da família, do lar e da criação dos filhos suas maiores prioridades. No mundo de hoje, uma mulher justa e mãe em Sião precisará tanto do apoio do sacerdócio quanto do poder capacitador da Expiação. Agradeço e presto homenagem à Susan por ter me ajudado a aprender essas lições inestimáveis.
Em Alma 7, aprendemos como e por que o Salvador é capaz de fornecer o poder capacitador, começando no versículo 11: “E ele seguirá, sofrendo dores e aflições e tentações de toda espécie; e isto para que se cumpra a palavra que diz que ele tomará sobre si as dores e as enfermidades de seu povo” (grifo do autor).
Assim, o Salvador sofreu não apenas por nossas iniquidades, mas também pela desigualdade, pela injustiça, pela dor, pela angústia e pelo sofrimento emocional que tão frequentemente nos afligem. Detalhes adicionais são descritos no versículo 12:
“E tomará sobre si a morte, para soltar as ligaduras da morte que prendem o seu povo; e tomará sobre si as suas enfermidades, para que se lhe encham de misericórdia as entranhas, segundo a carne, para que saiba, segundo a carne, como socorrer seu povo, de acordo com suas enfermidades” (grifo nosso).
Não há dor física, angústia da alma, sofrimento do espírito, enfermidade ou fraqueza que vocês ou eu experimentaremos durante nossa jornada mortal que o Salvador não tenha experimentado primeiro. Vocês e eu, em um momento de fraqueza, podemos clamar: “Ninguém entende. Ninguém sabe”. Nenhum ser humano, talvez, saiba. Mas o Filho de Deus sabe e entende perfeitamente, pois Ele sentiu e carregou nossos fardos antes de nós. E por ter pago o preço final e carregado esse fardo, Ele tem perfeita empatia e pode estender a nós Seu braço de misericórdia em muitas fases de nossa vida. Ele pode estender a mão, tocar e socorrer – literalmente correr até nós – e nos fortalecer para sermos mais do que jamais poderíamos ser e nos ajudar a fazer o que jamais poderíamos fazer confiando apenas em nosso próprio poder.
Talvez agora possamos entender e apreciar mais plenamente a lição de Mateus 11:28-30:
Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para a vossa alma.
Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.
Expresso minha gratidão pelo sacrifício infinito e eterno do Senhor Jesus Cristo. A Expiação não é apenas para pessoas que fizeram coisas ruins e estão tentando ser boas. É para as pessoas boas que estão tentando se tornar melhores e servir fielmente, e que anseiam por uma contínua e poderosa mudança de coração. De fato, “com a força do Senhor” (Mosias 9:17), podemos fazer e vencer todas as coisas.
Irmãos e irmãs, sei que o Salvador vive. Tenho vivenciado tanto Seu poder redentor quanto Seu poder capacitador, e presto testemunho de que esses poderes são reais e estão disponíveis para cada um de nós. Sei que Ele dirige os assuntos desta Igreja. Sei que os apóstolos e profetas agem com autoridade pelo Senhor Jesus Cristo e em Seu nome. Sei que essas coisas são verdadeiras e assim testifico em nome de Jesus Cristo, amém.
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David A. Bednar era presidente da BYU-Idaho quando este discurso foi proferido no devocional da Universidade Brigham Young em 23 de outubro de 2001.